quarta-feira, 30 de novembro de 2011
No final do dia
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
ok?
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Os videogames, eu e um tcc
Comecei a me perguntar porque escolhi o tema videogames para o meu trabalho de conclusão de curso. Não que eu nunca tenha pensado nisso, mas resolvi ir mais afundo para tentar entender o porquê de estar pesquisando tal assunto e o que me interessa mais nele. Antes de tudo, meu trabalho não é precisamente sobre videogames, é sim sobre a cobertura dos games pela subeditoria de VideoGames localizada na editoria de Arts do Nytimes.com. O que me deixou curioso e feliz desde que descobri esse fato é que os videogames estavam finalmente sendo tratados como uma manifestação cultural e que o conteúdo não reproduzia aquele olhar preconceituoso ou aquele olhar de descoberta ( como se os games tivessem nascido ontem) – ambos muito comum quando a mídia não-especializada aborda o assunto.
Editoria de Videogames do NyTimes.com |
domingo, 30 de outubro de 2011
Final
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
estruturado
terça-feira, 11 de outubro de 2011
fechar os olhos
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Quem te viu, te vê quem
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Em sonho, Caio
- Que coisa mesmo. Mais alguma coisa?
- Não, ele só falava isso, depois não lembro de mais nada. Daí acordei, comi alguma coisa, tomei banho, vim falar contigo...
terça-feira, 20 de setembro de 2011
madrugada, madrugada...
- mamãe faz o melhor pudim do mundo
- ahhh
quero um pedaçoo
hehe
-um dia
se tudo der certo
sábado, 17 de setembro de 2011
O casal mais bonito de todos
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Poema para você ficar
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Um ano de Travessia
A parceria com a Revista Cult, uma das publicações de jornalismo cultural independente mais interessantes do País, a parceria com o jornal que cobre muito bem a área da literatura, o Jornal Rascunho, as editoras Arquipélago e Record mostram que o nosso trabalho está sendo reconhecido. Todas as citadas estão fornecendo prêmios para o nosso concurso de um ano do site, nesse link você pode acessar e saber como concorrer.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
ora bem baixo agora
Não me dê um dia de sol,
se virão outros três
de chuva.
Brinca com os dedos
e estala;
pois as palavras, depois, surgem,
como cometa.
Dá-me consciência
apenas se não querer
usá-la.
Os dedos calejantes
estão finalmente apontando as letras.
Tire tudo da minha pessoa que não seja pessoal,
deixe os medos, as lembranças, e a caricatura,
e tudo isso
que chega ao papel,
apesar dos dias,
da consicência.
domingo, 21 de agosto de 2011
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Sombra
Só de achar que havia te visto naquele auditório cheio hoje de tarde eu comecei a pensar imediatamente se eu estava com o cabelo arrumado, se a minha roupa não estava estranha, ou se eu havia engordado. Um pequeno aceleramento na batida do coração e uma sensação de fraqueza, como se estivesse com sono, mas também feliz ao mesmo tempo denunciavam tudo aquilo que eu tentava esconder.
Eu me vi caindo, caindo.
Mas daí não era você, apenas lembrava o seu sorriso que abre e fica estampado no ar por algum tempo, contagiando todos os átomos ao redor. Mas não chegava nem perto daquele modo de rir maluco, nem perto mesmo. Então tudo diminui, as batidas voltaram, tudo voltou, tudo ficou normal e chato de novo.
domingo, 31 de julho de 2011
Esconde esconde
domingo, 24 de julho de 2011
Exceto você
Há um monstro em mim
e ninguém pode ver.
Ele já sabe que perdeu,
não tem mais chance de recuperação.
Entretanto, ainda
se esconde aqui,
excluindo-me momentaneamente.
Tomando forma
apenas ao lhe ver.
É quando desperta rancoroso,
aplicando os golpes mais
baixos possíveis.
Não é que ele consegue lhe deprimir toda vez?
segunda-feira, 18 de julho de 2011
em dinheiro
Bota no crediário
a gente vai pagar aos poucos
e aos poucos
roubar afeto do mundo.
Esquece o que eu te disse.
Só tenho cheques,
época difícil.
Olha assim, não.
É, afinal, mais garantido se pagar por amor
que perseguí-lo.
“Prefiria ter uma doença no fígado,
do que deixar
você me comer toda à noite
mas
mas
só aceito dinheiro
e você sabe disso”
terça-feira, 12 de julho de 2011
Caía água na conversa de Ramon e Anita
Meia noite e meia de segunda feira, quando, na cama mesmo, eles decidiram falar sobre o relacionamento. Estranhamente, foi ele que começara.
“Precisamos conversar, não sinto as coisas mais tão bem, quer dizer, não sinto mais as coisas tão assim...você sabe...”. Com as mãos enroladas no cobertor, ele tentara continuar a explicação, sem sucesso. As palavras surgiam em sua mente, mas desordenadas, incógnitas que ele precisava adivinhar. Era difícil e galopante, tal qual uma pessoa tentando montar em um cavalo arredio.
A chuva começara, e enquanto ele se desdobrava para tentar explicar o que estava querendo dizer, Anita só conseguia pensar se tinha esquecido alguma roupa no varal. O som da chuva espancando lentamente o telhado não lhe dava espaço para pensar em Ramon. Finalmente, após uns três minutos de repetições e de ideias circulares, ele soltou algo que a incomodou:
“Tenho medo que seja assim para sempre”.
Só escutando, sem esboçar nenhuma reação, Anita finalmente vira para o outro lado a ponto de encará-lo, mesmo que na escuridão do quarto. A chuva agora aumentara, se havia roupa no varal não importava mais, já estariam molhadas mesmo.
“Medo?” As telhas começavam a fazer um barulho estranho. “Não sei do que você possa ter medo”. A garoa que havia virado chuva agora virava tempestade. “Medo da rotina, medo de passar o resto da vida com a mesma mulher?”.
A tempestade logo venceu a casa, levantando parte das telhas que ficavam bem em cima da cama do casal, deixando água entrar. Mas eles nem deram bola. O jato de chuva caindo diretamente sobre os dois não impediu que Anita tirasse a aliança e jogasse no chão. “Anita, não exagera, não faz isso, não faz isso assim, não assim”, gritou .
Caminhando para fora do quarto, ela foi na rua tirar as roupas do varal, chorando baixo, com raiva dele e de si. Mas, lá no fundo, o mesmo pensamento martelava na cabeça:
“Será sempre a mesma coisa? Para sempre?”
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Fica, Fica
Diz que vai embora e
atravessa a sala toda torta.
Escorrega a mão
até a maçaneta
da porta.
Unhas, lábios, maquiagem a fazer.
Larga.
Espera, olha
para perceber.
“O que sobrou para nós?”
Nada para sustentar,
porta retratos com verdades
que ninguém vai comprar.
Hora é agora para não continuar
mas por que a cabeça
responde:
“Vai ficar, vai ficar”
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Carta 11
Caro, Zé
Um dia desses você me perguntou quando se sabe o momento que acaba o amor. Eu não soube o que responder na hora, esboçei alguma tentativa falha e acabei nos clichês, como “é quando você deixa de se importar com a pessoa”, ou coisas assim. Mas nós somos amigos há um tempo, e você já me conhece, sou daquele tipo que precisa pensar antes de falar, ou até necessito escrever, para organizar as ideias – ainda mais para uma pergunta tão difícil como essa. Então, nada melhor do que escrever essa carta.
A minha resposta a sua pergunta, entretanto, é: não sei. O que posso te falar é que amar alguém não é uma decisão, não é uma escolha sua. Você não pode fazer uma lista de pessoas com quem você pode se relacionar e simplesmente escolher uma. Bom, não é assim que funciona – mas isso você já sabe. Então, talvez a pergunta certa para você no momento seja: como é que foi que nasceu esse amor?
É sempre a partir do passado que se pode olhar para o futuro, não é? E é justamente a partir disso que a gente se dá conta dos momentos juntos, e se realmente vale a pena lutar por eles. Não confunda o amor com um jogo, ou que se tenha certas regras para cada pessoa. Não dá para inventar labirintos na sua cabeça, não dá para se levar pela imaginação quando se trata de pessoas. Quando falo lutar, falo de abrir espaços, de ceder, de procurar entender o outro.
E isso é difícil pra caramba.
Logo, não há um momento certo em que acaba o amor – ou que se sabe que acaba o amor. Há rastros, há pistas, há fatos, que levam a crer nisso. Há o tempo, há toda uma história que vocês montaram e que pode – ou não – acabar lentamente com vocês dois e só depende de vocês dois permitir isso ou não. Não sou nenhuma droga de especialista, mas, você sabe, pelo que eu já passei e acho que também posso falar um pouco a respeito. Não com tanta propriedade, porque, bem, quando se trata de amor ninguém pode falar com tanta propriedade assim.
Mas, você sabe, às vezes as pessoas combinam e às vezes não.
Um abraço,
Lucas F.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
À Natureza Danosa
Hera que tanto gostava de flores não estava ali no momento. Dormia encostada no sofá da sala. Serena. Enquanto isso Renoá balançava a cabeça, a pazinha, a enxada, na famosa posição de quatro, tentando de alguma forma fazer buraco no jardim, arrancar as ervas daninhas no gramado do casal que se mudara há pouco tempo para a cidadezinha. Infestavam o novo pátio, novo tudo, trabalho novo, nova vida que o pessoal da empresa havia prometido. Só esqueceram de falar da quantidade de plantas e de pragas que o esperavam. E Hera gostava de flores, tanto que convenceu seu marido a trazer várias mudas da antiga casa. E a plantá-las. Enquanto ela ficava só dormindo na sala.
Hera tinha também hábitos estranhos, como o de tomar banho de sol pelo menos três horas durante o dia. Apesar disso, permanecia branca como uma folha de papel em que não há nada escrito. Depois tiraria o seu cochilo, pois tomar sol a deixava, de certa forma, cansada. Já acostumado, Renoá não reclamava mais, até desfrutava pois, assim, podia tirar esse tempo livre sem a esposa para fazer as suas coisas, manter seu pequeno hobby de colecionar insetos, empacotando-os em pequenos saquinhos. Já tinha uma coleção. Seria uma herança, bolava plano para que os filhos pudessem estudar biologia, catalogando os insetos. Era assim que ele pensava.
Não era bem assim que ela pensava, mas tudo bem.
Renoá em sua epopéia no jardim conseguiu segurar com sua ardilosa mão uma grande raiz de uma maldita erva daninha. Estranhou de início, porque ela era realmente enorme, e pesada. Mas, mesmo assim, começou a puxar, puxar, puxar tão forte que sua mulher acordou e começou a ser arrastada por alguma força incrível na sala.
E quanto mais ele puxava, mais ela era arrastada. Mais ele puxava, puxava, até conseguir arrancar. Saiu do transe, ouvindo os gritos de desespero da mulher – e sem entender absolutamente nada – entrou correndo dentro a casa para ver o que estava acontecendo. Hera ainda estava atirada ao chão ofegante com os membros deslocados, a pele rasgada como se rasga uma folha, a pele também seca como uma folha que cai no outono sem vida. Já sem vida.
terça-feira, 31 de maio de 2011
We used to wait
“So I never wrote a letter
I never took my true heart
I never wrote it down
So when the lights cut out
I was left standing in the
Wilderness downtown”
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Crônicas de um repórter novato – parte XXI
Ando com muita opinião entalada na garganta. É por ali que elas ficam, quando não tenho a oportunidade de me expressar. Ando sem tempo também para escrever textos mais longos, porém, hoje, aqui no trabalho estou deixando os afazeres momentanemanete de lado e tentando esboçar algumas ideias sobre jornalismo. Na verdade, são fatos simples que deveriam ser seguidos por todos nós. O problema é que a “regra” parece ter virado exceção: são mais numerosos os exemplos do como não fazer, do que os de como fazer. Pretendo dividir esse post em tópicos, cada um evidenciando valores que, a meu ver, deveriam nortear o caminho do jornalista.
Colocar-se no lugar do outro
É difícil para qualquer pessoa se desvencilhar de preconceitos, de tratar e observar sem apontar algum julgamento. Como jornalista, entretanto, é necessário colocar-se no lugar do outro, e isso só se consegue se você estiver no mesmo “pé” que ele. Estar atento com o que acontece com o sujeito, seu contexto, seus problemas, seu modo de falar, de agir e de viver. Colocar-se no mesmo patamar é não observar o entrevistado, por exemplo, como alguém que você está ajudando, como se fosse um Deus que “ilumina” um desconhecido. Não. É você deixar seu preconceito de lado e tentar entender a sua história, simplesmente. É papel nosso também não reproduzir os preconceitos que vemos em certos veículos de comunicação.
O olhar humanizado
Não é uma questão de preferência política, ou de a linha editorial de veículo tal ser de “esquerda” ou de “direita” (definições que já não cabem mais, essa já é outra discussão). Trata-se de procurar sempre o lado humano, social da pauta e ver como tal assunto influenciará no cotidiano daquela sociedade em que está inserido. Não é ser conservador, liberal, socialista, anarquista, jornalismo é a profissão onde se trata e se repercute o que acontece com o sujeito em dado momento. Não se trata de escolher lados também, contanto que esteja do lado do cidadão – e isso não deveria ser algo de “esquerda” ou de “direita”. Em um país recente como o Brasil, com uma imprensa que sofreu censura durante um longo tempo, é natural que se observa uma polarização da mídia em que os grandes veículos de comunicação estariam ao lado da censura e da direita e que poucos teriam um viés da esquerda. Para mim, a questão é muito mais profunda que essa, envolve, antes de tudo, a função do jornalismo na sociedade: desenvolver a cidadania, respeitar a ética e prestar um serviço de qualidade a sociedade.
Compromisso com a verdade
É clichê dizer isso, mas os clichês são verdadeiros. O jornalista deve ter um compromisso com a verdade, deve sair com ela, levar para o cinema, pagar o jantar e dormirem juntos. Para o resto da vida. É um casamento. Jornalista mentiroso é jornalista ruim. Não tem outro jeito, sabe. Como se trabalha com fatos, e sabe-se que fatos são verdades, é preciso ir atrás delas de qualquer jeito. É por isso que a apuração é das ferramentas mais importantes para o bom jornalista. E o que é a apuração se não a busca pela verdade? Pegar uma informação não completa, ou errada, e poli-la aos poucos, descobrindo outras facetas, limpando, reduzindo, até chegar na informação diamante bruto, pura. A verdade, nada mais que a verdade.
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
A frase é do escritor e jornalista Graciliano Ramos e é válida para ambos profissionais. Algumas pessoas deveriam tatuar isso no braço, ou melhor, na testa para perceber que “enrolação” não combina com o texto jornalístico, que deve ser, sobretudo, sucinto, objetivo, ainda que a objetividade seja um conceito nunca alcançado. É a linha do horizonte, espécie de miragem, sempre desejada, mas nunca totalmente alcançada. O problema é a implicação que o termo Jornalismo Literário carrega. Tudo bem pegar técnicas narrativas emprestadas da Literatura, mas o jornalismo literário é, na verdade, uma grande reportagem muito mais aprofundada e com um grande trabalho de apuração para que se possa utilizar com crédito a descrição. Para que se possa deduzir através de vários relatos, fatos, como aquela cena aconteceu. Trata-se também de relatar as suas experiências com qualidade, e fiel objetividade. Não há problema de se trabalhar com o “eu” em uma reportagem, contanto que não haja exagero de egocentrismo. Usar o “eu” para falar do outro, ou de algo mais amplo, é o caminho.
Não olhe apenas para o próprio umbigo
O bom jornalismo só se faz
Agora me vem essas a cabeça, que me parecem essenciais. Convido os interessados a continuarem essa lista e a discussão nos comentários.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Nem volto
O que a boca fala
nem conta tanto.
O que dói é a marca
no pescoço.
Ignora e não repete, por favor.
Dúvida nem poema
sabe muito bem
compor.
Eu é que sei.
Eu é que vou dizer.
Vai olhar com a cara de espantada
- fingir tudo, como sempre faz –
e esperar.
Pra vê se melhora.
Mas
nem volto atrás
mais.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Quase
Devagar, atirou as roupas ao chão.
Depois com o pé nu,
com tudo nu
virou para mim e riu.
Como uma criança
que se esconde,
esnobe, foi até a cozinha.
Só em pêlo, comentou estar com sede e
que precisava de uma droga de bebida.
Sempre risonha correu ao banheiro
enrolando-se na toalha de secar.
Ligou e desligou o chuveiro.
E virou o copo duma vez só.
Voltou para o quarto, fugindo da cama.
Fugindo de mim, catou todas as roupas rapidamente
e rapidamente entrou nelas.
Rapidamente também fechou a porta e foi embora.
sábado, 7 de maio de 2011
Um dengo
Ela fica toda dengosa quando tá bêbada. Vem correndo para mim, mesmo usando aquele salto alto, e me abraça como se eu fosse desaparecer no instante seguinte. E diz coisas assim, “você é o cara mais legal que eu já conheci, se eu acabar contigo, não deixa isso acontecer, vai atrás de mim e me mostra que eu to errada”, entre sorrisos acolhedores e medrosos. Me faz carinho com a mão, com a parte de trás da mão, circulando o rosto, olhando, me observando, tentando pensar no que falar. A maquiagem perfeita, nada nada nada borrada. O sorriso malicioso me levando a ficar malicioso também. Ela usa uma saia preta que esconde as coxas, deixando só um pouco de fora. Há também a blusinha com alça e o copo de bebida na mão. Os seios empinados, é pequena e toda bonita, escapando com sorrisos por aí. A bebida deixando os nossos corpos mais carentes. Carente por nós. Um dengo só - e para mim.
terça-feira, 3 de maio de 2011
guardados
Dá não para negar
que eu e tu
assim, igual a dois + dois,
somos só quatro.
Vou dizer que sim,
afirmando em união
que vamos passar a utilizar
o nós.
E agora não só de vez em quando.
Agora não só para respostas casuais.
Eu, tu declarados em etapas.
Escreve, repete, assina.
Tu, eu completados por aspas.
Em sobrenomes agregados.
Em anéis.
sábado, 30 de abril de 2011
Arquivados
Eles tomam café adoidadamente
reclamando que o dinheiro
está curto.
Eles mexem nas suas
grandes, modernas e caras
máquinas de xerox.
Eles esperam outros eles
saírem da cena para fofocar,
para começar a falar mal
de tudo que eles não tem.
Eles fazem cópias cópias
cópias cópias cópias cópias
para deixarem em um arquivo
para sempre.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Como ser um bom mentiroso
Com certeza dará certo, Onofre. Veja aonde eu cheguei. Não pode duvidar do poder da mentira. Ou melhor, o poder de uma ideia. Uma mentira também é uma ideia, uma ideia que não pôde acontecer. E por ser algo que não aconteceu, uma mentira não pode ter uma grande história e envolver muitas pessoas. Não. Pense em uma mentira como uma pequena cena. Uma sketch. Pode se contar várias mentiras diferentes, mas nunca uma grande mentira. Essa é regra de ouro. Ok?
Olhe para mim, eu não estaria tão bem assim se não soubesse o que estou dizendo. Está anotando tudo? Anote tudo aí. Ah sim, contato físico: para mim sempre foi o mais difícil, como disse antes, nunca abaixe os olhos, nunca desvie o olhar. Na hora de apertar a mão seja confiante, mas não demonstre demais. Se suar, sorria. Ah sim, sempre sorria. Um sorriso confiante sempre abre as portas, as boas portas da mentira.
O problema da mentira é que ela é viciante. Tome muito cuidado nisso, ok? Muito mesmo. É uma droga para usar nos outros e não em si próprio. É muito importante que os outros acreditem em você, mas você não deve acreditar nas suas mentiras. O bom mentiroso segue esses pequenos códigos, ok? Uma mentira realmente boa, bem planejada, concisa e reta você pode ter certeza que ninguém vai querer estragar com uma verdade qualquer.
Não tenho muito tempo se não poderia te ajudar mais. Ok, Onofre?
sábado, 23 de abril de 2011
Gente vai
Amanhã
Em torno das duas horas.
Vou subir as escadas e chegar até a sua casa.
Abrir a porta, fechar a porta.
Tirar toda a sua roupa de dona de casa.
Depois te esticar levemente na cama.
Com as pernas assim, assim para mim.
Amanhã.
Em torno das duas horas.
A gente vai, a gente vai.
Como se nunca tivesse ido antes.
Amanhã
Amanhã, a gente vai.
domingo, 17 de abril de 2011
A tão falada "bagagem cultural"
Não é novidade para ninguém que aumentou o número de brasileiros viajando para o exterior nos últimos anos. Meu objetivo aqui não é dar dados específicos sobre a quantidade de pessoas que viajam e etc, mas o fato é que a economia melhorou e assim a classe média consegue um financiamento maior para dar aos seus filhos aquela tão sonhada viagem. Pode ser um intercâmbio, uma trip em família, ou apenas alguns dias de diversão na Europa.
É claro que não é um fenômeno novo. É natural do ser humano querer viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas, manter novas relações para assim conseguir uma “bagagem cultural”. Alguns também pensam no currículo e acreditam que uma estadia em outro País vai ajudar naquela busca pela língua estrangeira, tão necessária para aquele emprego.
Tudo bem.
E é importante também estudar em qualquer outra Universidade do mundo, porque o ensino aqui é pior, e, vocês sabem, brasileiro não tem educação. Ou porque lá sim é que as pessoas têm cultura. É verdade, já cansei de ouvir esses comentários de brasileiros que pretendem viajar, ou já voltaram de viagem. Como se cultura fosse algo adquirível, ou como se pudéssemos comparar duas culturas. Como se o ensino lá fora sempre fosse melhor.
É essa conduta de eternos seres colonizados que nos fazem falar essas besteiras sem cabimento. Não valorizamos os nossos trabalhos, as nossas descobertas, porque é sempre mais fácil culpar o que seria a “corrupção enraizada na nossa sociedade”. É claro, todo político é corrupto, toda pessoa que mora em favela é ladrão. Adoramos generalizar nosso povo, e esquecemos de como se forma o conceito de nação. E é sempre mais fácil reclamar do que tomar uma atitude. Acabamos enlaçados em uma espécie de preguiça programada. Se é muito difícil, não vamos fazer. Peraí tem algo errado. Não são os outros que são melhores que nós, somos nós que não fazemos nada a respeito.
Ao invés de valorizar a nossa história e a nossa vasta e heterogênea cultura queremos viajar para a Europa a fim de tirar as mesmas fotos em frente à Torrei Eiffel. Desejamos tomar um café em Paris, precisamos ir para a Oktoberfest na Alemanha, assistir a uma tourada em Madrid. Porque, você sabe, a vida não valeria a pena sem essas coisas.
Meu Deus do Céu.
Esquecemos de uma palavra muito importante nessa ideia de “bagagem cultural” que adquiríamos em uma trip pela Europa: envolvimento. Há um texto muito interessante do pesquisador Ulpiano de Meneses que versa exatamente sobre essa ideia de turismo cultural, tão em voga, principalmente pelas Agências de Viagem. Em uma sociedade que trata a cultura como um “segmento”, ao invés de tratá-la como uma qualificação capaz de iluminar todo e qualquer segmento, a lógica da separação também acaba determinando a existência de usos e funções culturais específicos. É aí que entra a diferenciação entre uso cultural do bem cultural.
De um modo simples bem cultural é o que é vendido para a pessoa em um pacote de viagem, por exemplo. Há aquela metáfora clássica do grupo de turistas que em visita a uma Catedral Gótica encontram uma velhinha ajoelhada diante do altar-mor, profundamente imersa em oração. O guia então bate em seu ombro e lhe diz – “Minha senhora, vocês está perturbando a visitação”. Essa metáfora é autoexplicativa: a afirmação do guia vem ao encontro da explicação de bem cultural, onde não há espaço para uma prática da existência corrente, como a oração. A anciã está de fato perturbando o agora padrão dominante em que o edifício se tornou. Um exemplar arquitetônico de “interesse cultural”. O envolvimento dos turistas com a Catedral é quase nulo, nada mais do que um interesse fugaz que pode ser registrado em uma foto. Não me diga que você vai conseguir estabelecer uma vida cultural ficando alguns dias em uma cidade. Só terá condição de aprofundar-se quando atingir o o quadro da habitualidade, o que, necessariamente, demanda tempo. É o caso da velhinha que possui uma fruição profunda, vivenciada na qual sua oração envolve não só uma apropriação afetiva mas, sem dúvida, também estética.
O que quero dizer com isso é que há muitos brasileiros preconceituosos com sua própria história, e que preferem visitar outros países esporadicamente apenas para possuir aquela foto que todo mundo tem em seu álbuns de Facebook. Ao invés de se aprofundar no seu País, ao invés de parar de generalizar e manter a sua percepção de povo colonizado. Tudo isso me parece um pouco hipócrita, covarde e ignorante – no sentido básico da palavra.
sábado, 16 de abril de 2011
Carta 10
Lídia cresce rapidamente, já está alguns centímetros mais alta desde a última carta. É verdade, e mais loira também. Obviamente puxou isso da sua família. De mim, com certeza o nariz. Eu tenho belo nariz, você mesmo dizia. Tivemos que comprar roupas novas na semana passada, já que as aulas dela vão começar daqui alguns dias.
Queria que você visse o rosto dela, Arthur. Ela realmente está empolgada, quase não dorme direito. Fala da escola, e de futuros amigos, amigos, amigos. Esse é o problema de crescer sozinha. Acho que, no final das contas, só uma mãe não pode dar conta de tudo, né?
Não falo isso para que você se sinta culpado. Longe disso. Falo isso porque eu preciso falar para alguém. Mesmo que você não vá responder. Falo isso também porque tenho medo, tenho muito medo que as altas expectativas dela não sejam cumpridas.
E se ela não arranjar amigos na escola? E se não gostarem dela por algum motivo banal e excluírem-na?
Você sabe, crianças podem ser tão cruéis. Eu era assim, até. Solitária pra caramba, Arthur, mas a Lídia não, a Lídia quer ter tantos amigos. Não sei como agir o suficiente e sei que você saberia exatamente o que me dizer nessas situações. Tudo iria ficar bem de alguma forma.
Agora já não tenho certeza. Agora que você está longe não dá para ter certeza de nada.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Junk
"
segunda-feira, 11 de abril de 2011
- Sabia que você era muito mais interessante solteira?
- Ahn, como assim?
- Sei lá, antes só de te ver dançar na minha frente, eu já passava mal. Parecia louca, mas sabia que não era louca. Era doce e livre. Acho que sinto falta de te ver livre.
- Você não gosta é de me ver com o Tomaz, né.
- Nada a ver. Um cara não pode gostar de apenas assistir a uma mulher dançando?
- Não quando se trata de nós dois...não quando...você sabe, não vou ter essa conversa novamente.
- Não estamos tendo aquela conversa, eu só fiz um comentário. Um simples comentário. Você sempre foi mais interessante solteira. E você sabe disso.
- Não dá para uma garota ser solteira para sempre.
- Eu quase chego a me arrepender...
- Se arrepender?
- É, eu tive a chance, mas eu...eu nunca quis te ver presa. E eu sempre imagino aqueles momentos sem compromisso que nós tivemos, esses momentos que ficaram soltos em algum lugar entre nós. Que não evoluíram somente porque um de nós não quis. Eu. Eu não queria te ver presa, eu não queria te tornar desinteressante. Por isso acho que o que tive com você nunca será igual a qualquer outro relacionamento que eu possa vir a ter.
- .....
- Entenda, não é que eu não goste do seu namorado intelectual...
- ....
- Aposto que ele deve ser o máximo te mostrando todos aqueles filmes antigos.
- ....
- Todas as músicas hypes.
- ....
- Enfim, eu só queria dizer isso.
- ...Ah, Renato...
- .....
- Ah, Renato, algum dia nós vamos tomar jeito?
sexta-feira, 8 de abril de 2011
A quem nada atenua
Gosta de me ver como
se não percebesse.
E interpretar dos meus calos,
os seus descasos.
Jogar na cara:
Sempre, nunca de vez em quando,
tudo que eu mereço.
- E eu mereço?
Depois dorme e acorda;
sem nenhuma problema;
sem nenhum arrependimento.
Enquanto a maioria da gente não consegue pregar o olho à noite.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Só o triste
Logo após agarrá-la pela cintura,
sentir a respiração brutamente no
pescoço, seio, barriga.
Os dedos escorregando suavamente
entre os fios de cabelos que
também escorregavam suavemente
para as costas.
Depois de rolar esboçadamente
pelo carpete no meio de copos,
no meio de pratos.
(que ela havia anteposto, antes, juntamente também
antes com o filme de boxe que assistimos em PB)
Mesmo após o corpo
sobrepor o outro.
Mesmo após completar-nos
sem sentimento.
Ela só sentia o triste.
Era tão visível que só sentia o triste.
Aquele dia durante o banho é certo que ela chorou,
mesmo afirmando que não.
sábado, 2 de abril de 2011
sábado, 26 de março de 2011
Caiu com os olhos agora menos loucos
Elisa não gostava de arrumar a casa e era tudo uma tremenda bagunça. Os lençóis atirados em um canto da sala esperando dias para serem lavados, sacos de lixo empilhados e as gaiolas dos pássaros levando semanas para serem trocadas. Eu chegava no fim de tarde, começo da noite, e ela nem para me perguntar sobre a rotina. Quando ligava para o trabalho quase sempre era para me dar ordens do que trazer quando chegasse em casa. Cigarros, cerveja, e “qualquer coisa”, como ela dizia, para comer.
Mesmo assim tentava convencê-la a procurar emprego para a gente tocar a vida e também dizia para começar a freqüentar as reuniões de AA, apesar de eu também acabar bebendo boa parte da noite para aturar, para nos aturarmos durante aquele tempo. Eu lhe digo, eram coisas loucas, sabe. Tínhamos pintado a casa logo depois que nos casamos, isso um ano antes desses acontecimentos, mas a parede agora estava toda engordurada e carregava até uns desenhos bizarros de pessoas voando em campos verdes observadas por um sol com aquele sorriso feliz que Elisa desenhava quando estava muito bêbada.
Isso acontecia sempre na sexta-feira à noite e se estendia até domingo. Era quase um costume: ligar o som no volume mais alto, tomar tudo que tivesse na geladeira, vodka, batida de rum, cervejas. Amar é uma palavra complicada, mas acho que sim, acho que eu realmente amava Elisa. A gente ama e tenta nos convencer, hoje penso que eu bebia tanto porque eu queria estar com ela, me sentir como ela. A gente ama e tenta nos convencer sempre. Costumávamos fazer muito sexo nessa época, coisas que os vizinhos comentavam baixo depois, ao me ver saindo do trabalho na segunda-feira completamente quebrado com a gravata, o paletó e o cabelo com gel. “Eles parecem animais”.
Foi então que bruscamente pegou a garrafa já vazia de tequila e tentou me golpear fortemente, um ataque frontal, direto. Por sorte, eu estava menos bêbado, e mesmo tonto consegui desviar. Agora ela era que estava resvalando, fora de si, pedindo ajuda. Dei um soco de punho fechado no estômago. Não foi bonito de se ver, não era algo bonito para se fazer, mas fiz. Ela vomitou sujando toda a parede com os desenhos malucos. Depois me olhou, e caiu no colchão instalado no chão. Parecia com sono e menos louca agora, quem sabem realmente menos louca agora.