segunda-feira, 31 de março de 2008

Obstáculo 3

Adoro essa sua cara de imparcial, e o modo como os seus olhos se fecham quando está querendo acordar. E mesmo que eu não possa lhe ter, é com você que eu queria estar. Porque meu corpo reage de uma forma diferente a cada passo seu. Respira torto, amolece, desaba, destraí -se e perde-se no instante. E cada desalento que eu sempre assisto atento, também, me deixa mal. Embora as circunstâncias tenham nos separado pelo tempo eterno, é impossível perder você. E todas as coisas que lhe dizem. Num fluxo praticamente perfeito. E agora que você já está comprometida – e com tantas coisas. A vida, os filhos, as roupas, o marido, as conversas, as possibilidade. Todavia, sempre teremos os receios, os medos. Tudo que nos desuniu, de alguma forma nos une nos sonhos.

domingo, 30 de março de 2008

Do outro lado

Ninguém jamais saberá o que tem do outro lado da casa que não entramos. Da pessoa que não conhecemos. Das flores. Das nuvens. Do céu azul que termina no espaço e nunca acaba de acabar. Do medo. Da covardia, ou até da coragem impulsiva e retardada. Nunca adivinharemos o que há do outro lado da floresta, dos olhos, da vida, da morte, do ponto escuro na parede do teu quarto à noite. Das nossas vontades mais obscuras, da vontade de ficar e ter que ir embora. Nunca ninguém vai saber qual a resposta da cura do outro lado. De querermos saber do outro lado. Não há razão, apenas a curiosidade tediosa. Nunca ninguém saberá o que o escritor pensava e o que o leitor achava. O que o músico sentia e o que a música dizia. No que Buda acreditava.

Qual o seu principal outro lado?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Teoria número três: sobre ressonância inter-pessoal e os olhares.

Imagine que eu e você somos amigos, talvez de longa ou de pequena data, porém em ambas as situações apresentamos um vínculo absolutamente forte. Simplesmente combinamos. E Então surge aquela sensação que ninguém sabe explicar, quando existem grandes laços: sentimos um pelo o outro. Medo, coragem, orgulho. E em certos momentos, até podemos adivinhar como o indivíduo agirá sobre algum assunto. Chamo isso de ressonância inter-relacional. Claro, quando convivemos rotineiramente com uma pessoa e criamos confiança, nossas atitudes também se aproximam, iludimos nossas vontades com a do seguinte, batemos de frente, entramos em acordo – mesmo que inconscientemente. São pré-nupciais combinados a partir das pausas, das palavras que não falamos, do sentido crucial de respeito. A ressonância aborda todas essas atitudes. As almas dos amigos se conversam, se brigam se perdem, se confidenciam. Mas continuam ali. E tudo isso é espelhado pelo olhar. É apenas um olhar com aquele seu melhor amigo, para dizer-se tudo. São os acordos estabelecidos pelo bate papo das almas. Nossas consciências se tocam, certamente, sofrendo influência da próxima, devido à afinidade. E tudo isso se mescla nos encontros dos olhos.

sábado, 22 de março de 2008

Mulheres

Algum ser superior deveria ter inventado uma enciclopédia - daquelas grandes, deslumbrantes – só com as características femininas. Não sei quantas páginas teria, mas aposto que sua atualização seria contínua e imediata. E todas as peculiaridades, as ruins as boas, as ótimas, as mais ou menos, estariam lá. Porém, existe uma singularidade que as une, de alguma forma: a capacidade de superação. Isto é, algumas podem demorar mais, sofrer tempo alongado por conta de algum episódio, mas pode ter certeza que elas se levantarão para vislumbrar o futuro novamente. Outras mais conscientes de si, já não perdem mais tempo com xurumelas, demasiados pensamentos; elas prontamente embarcam em nova aventura, retomando a estrada da vida. Não sei do que seria o meu mundo sem vocês, sem seus olhos, e as suas diversas cores que embelezam a superfície terrestre. Deixando mais bonito o meu jeito de ver as coisas também. A mulher é a melhor criação de Deus. E sabe por quê? Simplesmente porque tudo começa com elas e nada morre com elas. Nenhuma é igual, todas têm um jeito único de sorrir, de ficar sem graça, de ser louca, de ser divertida, de não parar de falar, de não falar nada, de dizer as coisas com os movimentos, de ar carinhos. De saber ser mulher, e ser assim, sendo inquestionável e crucial para todos.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Feliz Sexta Feira Santa.

Combinações, poucas coisas são mais cruéis que isso. Por quê? A resposta está no gosto da saliva na minha boca. Amônia, formol, não sei. Mas irrita o meu nariz, os meus olhos e todo o meu corpo, por que Deus foi morrer numa sexta feira? E por que a maldição de só comer peixes? Tenho uma rixa com eles, quando criança quase morri engasgado, minha angústia com a espinha presa na minha garganta é uma das sensações que carregarei para o meu leito de morte. Com todas as negações amorosas da minha vida. Não deveria ter inventado de comer uns pedaços daquele peixe, sua carne estava corrompida com uma substância que desconheço. E tudo que não conheço, dá-me certo medo, receio. Somente depois que percebi o forte cheiro que exalava da carne, larguei e a deixei no canto. Corri para o banheiro desejando desesperadamente o vômito, porém nada veio. Agora a dor de cabeça é a minha amiga, maldito peixe, e maldito dia, a sorte não veio ao meu encontro. Nunca mais como peixe.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Vibrações

Carina me olhava com uma atenção contínua, não retirava os olhos castanhos da minha pessoa. Houve um momento em que acreditava que eles já não eram mais dela, e sim meus - pareciam querer pular de sua órbita e cair na minha mão. De repente, ela saltou num pulo, em demasiada velocidade, sem suar por nenhum poro (aposto que nesse momento seu coração não acelerou, nem por um segundo), caminhava em forma de corrida, interna e externamente. Eu me encontrava paralisado, e posso dizer que as suas castanhas - agora com uma penumbra obscura - não desgrudaram do meu ser. Porém eu já não estava mais ativo, era como se visse meu próprio corpo de um lugar afastado, pairava quieto, afastado de minhas sensações térmicas ruins. Então eu a vi, pulando em cima de mim, destruindo meu pescoço. Sugando todo o meu sangue.

terça-feira, 11 de março de 2008

Claúdia Azul

Claúdia me olha atravessado, enquanto eu corto a rua. E eu não me canso. O céu pode cair agora, desabar e as estrelas pontudas, cintilantes claras e obscuras a terra cair e eu – sem ofensas a Deus – não vou nem bola dar. Mesmo que eu tenha que vasculhar no dicionário todos os vernáculos mais aproximados, tamanha beleza eu não vou encontrar. Claúdia branca, Claúdia ruiva, Claúdia misteriosa. Claúdia azul e sonora. Viva e repetida mentalmente. Uma conjuntura, toda ego e toda mundo, espalhada no meu corpo, revestindo minha pele e consumindo os meus pensamentos. O quadro dela me procurando, vistoriando os meus olhos, durante o meu trajeto me paralisou, cortou as funções recorreras e vitais. Claúdia minha, Cláudia Ruiva. Confesso que fiquei cego com aquela visão, mas não é o escuro que me tomou, e sim, uma claridade soberba me apresentando a um mundo - que eu não conhecia. Claúdia Azul e Claúdia Claúdia. Composição não terminada, obra regida e descaracterizada, compassos ritmados em um furacão, driblando o sonho e enfrentando a vida. E a rua. E a minha travessia.

Quem diabos é Rafael Gloria?

quarta-feira, 5 de março de 2008

A especialização da preguiça

As pessoas andam demasiadamente preguiçosas. Pelo menos desde que me conheço por gente (que expressão idiota, acho que só dei conta da minha presença aos quatro anos). Acredito que seja um fenômeno que vem se arrastando há tempo. E que tem tudo a ver com a nossa contemporaneidade. Ninguém mais consegue se concentrar por mais de dez minutos sem ser alvejado por vontades distantes, que permanecem escondidas no subconsciente, e prontas para aparecer na hora inapropriada. A culpa toda é da mídia, diria o pseudointelectual, acobertado de razões pelos resumos de livros que folheou. Não, amigo, eu diria. Não há “culpa”, há oportunidades. O mundo caminha, cada vez mais, para a completa especialização. Isto é, as pessoas desejarão - alguma coisa no cérebro imposta pela globalização ajudará - aprender somente sobre a sua área, logo em seguida um assunto nesse campo, e depois uma particularidade desse assunto. Se a década de noventa foi o auge do egocentrismo, esses primeiros dez anos do século 21 são a sua especialização. Somos experts em preguiça, em não ter mais força para ler mais de 20 linhas na internet.