segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Desperto, e é cedo

Não para de dançar,
se não eu paro também
e te esqueço.

Chega de fingir,
que eu silêncio e te vejo
desaparecer aos poucos,
também:

Quem disse que era para ser?
Quem disse que ia resolver?

Aqui, já tá tarde,
para qualquer esforço.

Fora (já saio),
desassossego é praxe.

Deixa, eu construo um pedestal,
e posto a nossa frente,
rente em mim
distante em ti.

Deixo você 

dançar
- só dançar -,
enquanto tudo desperta
e sou levado pelos primeiros
pássaros da manhã.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Carta 15

Desculpe ficar assim, mas é que eu não me controlo. É ridículo, eu sei, e eu não queria ficar desse modo. Estou mais leve escrevendo. Ainda é cedo para tanta coisa e eu nem sei o que te escrever agora, porque eu sinto um misto de tanto e a grande maioria desse tanto está na minha cabeça. Mas por que você tinha que mentir para mim? Eu sei, eu sempre quero saber de tudo, mesmo sabendo, na verdade, que é esse tudo que vai acabar com nós. O que eu posso fazer? Dos teus casos, dos teus descasos. Por que a carência é tão importante para você? Por que não ficar sozinho, por que dar, dar, dar. Isso tem algum valor? Adiantou alguma coisa? Deus no céu e alguém no chão. O que restou disso tudo? Eu apareci, mas poderia ser qualquer um. Não? É o convívio velado que dói e os sonhos e recordações suas espalhadas por ambientes em que não existem ou existem em uma realidade paralela. Uma realidade com sucursal em lugares que você esteve, dando dando dando, por aí. Para quê. A cama é nossa, e já foi de quantos. Estou escrevendo assim, porque me sinto melhor soltando essas ideias bizarras e quero ver se consigo dormir de noite agora, enquanto neva e o sol vem degelar os carros congelados da madrugada. 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Eu não sou mais eu

Lembro quando comecei esse blog há exatos sete anos. Eu não sabia o que escrever e me surgiu a ideia de iniciar o primeiro texto com uma curiosidade asteca que teria acontecido naquele dia, ou seja, hoje, 17 de dezembro.

Por mais que eu tenha diminuído a frequência de postagens aqui no Contagens, ele continua sendo uma das atividades que eu mais gosto nessa vida. Reconheço-me e desconheço-me em muitas desses textos. Eu não sou mais aquele que eu era. E eu ainda sou um pouco daquilo que eu fui e, provavelmente, continuarei sendo – até o momento fatídico de não ser mais. 

O momento, talvez, uma das palavras que defina o Contagens.

Ano passado, praticamente há quase 365 dias escrevi o texto “Agora, é claro”, resumindo aquele 2013, que fora péssimo para mim, assim como eu fora péssimo para ele. Em 2014, eu acreditei e aceitei mais. Comecei a entender melhor o meu compromisso como jornalista e pude delinear o que posso vir a fazer.

A vida, de modo geral, ainda continua confusa para mim, mas agora consigo observar melhor o que sempre foi claro e consistente durante todos esses anos. Eu posso ver aqui dentro de mim, e, desse modo, eu também posso ver refletido no Contagens.  As respostas que eu preciso sempre estiveram variando entre esses dois lugares, esperando o momento certo de caírem no meu colo.

E, mesmo assim, é difícil chegar a elas, porque não são redondas, ou prontas. Elas se transformam também, assim como esse blog, assim como eu.

Escrever é a chave de tudo. Assim como o jornalismo cultural na minha vida profissional. E a importância que eu dou para os relacionamentos. Minha vida gira em torno disso tudo. E me transforma periodicamente. Pois, então, decidi escrever mais, trabalhar mais com o jornalismo cultural e prezar ainda mais pelos meus relacionamentos.

Sete anos não é pouco.



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Retalhos de tempo - Boyhood


*Não sei o que mais me marcou em Boyhood, são tantas cenas e momentos importantes nessas três horas de filme.  A começar pelo projeto ambicioso do Linklater, um dos responsáveis por brincar com o tempo, como na trilogia Antes do...Em outro de seus filmes, o Jovens, Loucos e Rebeldes ele também já trazia esse assunto da mudança, de passar para outra fase ao abordar a juventude nos anos setenta e a transição para o que eles chamam de high school.  Mas todos esses filmes citados tem a característica de não terem um grande acontecimento em suas histórias. A trilogia é conversa, atrás de conversa, já os Jovens é a rotina de amigos que estão crescendo, mudando de vida, e agora em Boyhood presenciamos uma série de acontecimentos na vida do jovem Mason, saindo da infância, alcançando a juventude e a chegando à faculdade. Não há um plot twist: é a vida assim apresentada e filmada ao longo de 12 anos. Acontece que ali cada período daria um outro filme completo, mas isso não é o importante, aqui realmente cada pedaço vale mais que a soma, porque nós vemos a vida não como uma totalidade, mas como retalhos. Contamos histórias e deixamos outra para trás - não contamos. Por isso que o choro desesperador da mãe de Manson no fim é tão comovedor, “eu achei que teria mais tempo”, diz ela. É, todos nós achamos. Várias cenas ficam na cabeça dessa história reveladora porque traz um pouco de cada um, e principalmente daqueles que cresceram juntamente com Manson, todas referências da cultura pop (outra coisa que o Linklater faz muito bem), estão ali. De Yellow à Arcade Fire. Para todos aqueles que se questionam e se perguntam mais sobre a vida, ver como o jovem Manson cresce e se descobre insatisfeito e sempre pronto para experimentar é mergulhar na própria história. 



*Nova série de posts, em que vou escrever rapidamente sobre algum tipo de produto cultural (filme, livros, jogos, quadro,etc) rapidamente, de forma mais instintiva do que analítica. Reforçando mais minhas impressões do que qualquer coisa.