Meia noite e meia de segunda feira, quando, na cama mesmo, eles decidiram falar sobre o relacionamento. Estranhamente, foi ele que começara.
“Precisamos conversar, não sinto as coisas mais tão bem, quer dizer, não sinto mais as coisas tão assim...você sabe...”. Com as mãos enroladas no cobertor, ele tentara continuar a explicação, sem sucesso. As palavras surgiam em sua mente, mas desordenadas, incógnitas que ele precisava adivinhar. Era difícil e galopante, tal qual uma pessoa tentando montar em um cavalo arredio.
A chuva começara, e enquanto ele se desdobrava para tentar explicar o que estava querendo dizer, Anita só conseguia pensar se tinha esquecido alguma roupa no varal. O som da chuva espancando lentamente o telhado não lhe dava espaço para pensar em Ramon. Finalmente, após uns três minutos de repetições e de ideias circulares, ele soltou algo que a incomodou:
“Tenho medo que seja assim para sempre”.
Só escutando, sem esboçar nenhuma reação, Anita finalmente vira para o outro lado a ponto de encará-lo, mesmo que na escuridão do quarto. A chuva agora aumentara, se havia roupa no varal não importava mais, já estariam molhadas mesmo.
“Medo?” As telhas começavam a fazer um barulho estranho. “Não sei do que você possa ter medo”. A garoa que havia virado chuva agora virava tempestade. “Medo da rotina, medo de passar o resto da vida com a mesma mulher?”.
A tempestade logo venceu a casa, levantando parte das telhas que ficavam bem em cima da cama do casal, deixando água entrar. Mas eles nem deram bola. O jato de chuva caindo diretamente sobre os dois não impediu que Anita tirasse a aliança e jogasse no chão. “Anita, não exagera, não faz isso, não faz isso assim, não assim”, gritou .
Caminhando para fora do quarto, ela foi na rua tirar as roupas do varal, chorando baixo, com raiva dele e de si. Mas, lá no fundo, o mesmo pensamento martelava na cabeça:
“Será sempre a mesma coisa? Para sempre?”
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