terça-feira, 30 de junho de 2009

Teoria número dezoito: sobre velhos ciclos, mês de junho e certezas que não mudam.

Há exato um ano, eu escrevi a teoria número seis (sobre escondimentos e o ato de se apaixonar) uma das minhas favoritas. Na época eu estava me sentindo daquele jeito. Falo isso porque o mês de junho é um período de ponto final. Muita coisa mudou nesse mês para mim, mas uma qualidade que eu sempre mantive foi a integridade nas coisas que eu acredito. E é esse justamente o meu ponto, já que junho é um mês de mudança, me vejo feliz em repetir as mesmas palavras que para mim não mudaram desde o ano passado, “Escondemos o amor em planos diferentes também, abrimo-nos devagar, apaixonamo-nos com calma, carinho, exatidão eu diria. Amor às vezes é mais linha reta do que difusa; acontece que essa linha ultrapassa várias camadas (mas sempre segue a mesma trajetória).”.

Pego me feliz em notar que a paixão realmente vem aos poucos, e aos poucos vai desaparecendo de modo natural, sendo substituída por outro sentimento mais forte, ou acabando de vez. Surpreendo-me em saber que cada vez mais sei lidar com os meus sentimentos, antes tão embaralhados e confusos. Junho me ensinou todas essas coisas e certamente a gente sempre sai mais forte. Porque não há nada melhor que saber superar as coisas do jeito certo.

Obrigado Junho!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Crônicas de um repórter novato - parte VI

Tanta coisa que eu quero fazer, tantas pessoas que eu quero conhecer, tantas viagens, tantos textos, tantas, mas tantas coisas que a minha ansiedade acaba por ficar ainda mais ansiosa. Tantos filmes que eu não vi, tantos livros que eu também não li, tantos olhares – de todos os tipos – que eu perdi.

E o dinheiro para isso tudo?


A parte racional também sempre fala alto para não andar nas nuvens e depois despencar direto. É um mecanismo de defesa. Mas as coisas vão melhorar porque há tantas, mas tantas coisas para eu fazer ainda. E mesmo que pareça irracional, primário ou juvenil, às vezes, sim, às vezes as coisas se arrumam sozinhas.

Odeio escrever “as coisas”, porque fica muito genérico, mas não me vem nenhuma outra palavra a minha cabeça no momento. Fiz uma dessas coisas legais na última sexta-feira, quando resolvi comparecer a uma iniciativa também legal feita pela Coordenação do Livro de Porto Alegre, a Maratona Literária.

Para quem não sabe, a Maratona Literária consiste na leitura integral de um livro, escolhido por votação, tanto pela Internet, como em urnas. Todos os interessados podem votar. Grande Sertão: Veredas do Guimarães Rosa foi o escolhido dessa vez, talvez o livro brasileiro mais importante do século 20. Foram necessárias 34 horas de maratona para que fossem vencidas suas quase 600 páginas. 22 pessoas seguiram do início até o fim.

Infelizmente não fui uma delas.

Na verdade, fiquei pouco tempo, fui mais para assistir a abertura e perceber como era o clima da noite, falar com algum espectador. O que pude perceber de imediato é que o livro assume um papel diferenciado, pois é – literalmente – o centro do espetáculo. Tanto que ele está na parte central do Centro Cultural Érico Veríssimo. São formados pequenos grupos de até seis pessoas, na qual uma por uma se revezam em um pequeno palco, na qual lêem um trecho do livro e assim por diante. Depois algumas intervenções artísticas são feitas, todas para celebrar o mais importante da noite – o livro.

Ideias como essas são muito bem-vindas e rendem excelentes histórias, tanto jornalísticas, como literárias.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sob as luzes

Puxou o amigo pela mão, há meia hora estavam caminhando normais . Pessoas loucas dançando e morrendo por poucos segundos e voltando, voltando sempre. Mais vivas, porém com um maior sentimento de posteridade. Olhos esbugalhados sumindo no horizonte, que terminava na parede mais próxima. As luzes coloridas malucas ultrapassando o teto, as lâmpadas efêmeras – sempre tão belas –, explodindo com o ambiente. Corpos misturados sentados no chão, encostados nas paredes, redundantes em si. Eles cantam juntos. A música. TUM TUM TUM TUM. A música. A música não para. TUmmm. Ela diminui. Assim como o passo de Anderson, assim como a sua consciência mesquinha e esnobe. Quem eu sou? Cai no chão e começa a tremer. Da sua boca, um esguicho sai aos poucos. Onde estou mesmo? É verde e se mistura com a música e com as luzes. Do nada, a mão amiga o resgata. Há meia hora estavam caminhado normais.

sábado, 20 de junho de 2009

Uma semana

É incrível como as coisas mudam em uma semana. Certezas que pareciam ser absolutas dissipam-se quase que naturalmente. Foram sete dias difíceis por inúmeros motivos que prefiro não deixar escancarado aqui (não sou esse tipo de pessoa), mas que consegui superar sozinho e bem.

Minto. Não sozinho.

É nessas horas que a gente vê que a amizade realmente é um amor que nunca morrerá. Ou aquela outra frase que diz que são os irmãos que podemos escolher. Os clichês às vezes, ou na maioria delas, estão certos.

Por outro lado, encontrei em mim força o suficiente para superar os obstáculos e perceber que nem sempre precisamos de outras pessoas, e que frequentemente acreditamos – ou sentimos - algumas coisas que talvez não estivessem mais lá.

É verdade.

Mas a minha maior felicidade foi ter encontrado um modo de realmente mudar a rotina em casa, e que abriram os olhos de pessoas importantes para mim. Coisas trancadas há muito tempo, finalmente foram postas para fora. Pode ser algo banal, mas, para mim, é uma vitória.

Não estou perto de ser uma pessoa completa, tenho vários defeitos absurdos, mas voltei a me convencer que isso é absolutamente natural.

É a velha frase de que o tempo cura, e as palavras petrificam tudo.

Obs: desculpem pelo post escancaradamente pessoal (disse que não iria fazer isso, mas precisava expor). Não se repetirá novamente.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Não hoje

Eu sempre tenho recaídas. Você me conhece. Não sei por que ainda perdeu tempo, perguntando se eu iria à festa hoje. Eu tenho cara de quem estava a fim de ir à festa? Eu faria o tipo chato. Começaria a beber, ficaria feliz e mais expansivo. Faria piadas sobre seus amigos, depois atropelaria todos indo ao banheiro a cada cinco minutos. Logo, as piadas perderiam a graça, eu perderia o controle e as cervejas começariam a cair juntamente com o resto de vergonha do meu corpo. Tornaria-me o cara chato da festa, e você seria a acompanhante do cara chato da festa. Não sei se quero isso, é claro que não quero, não quero mesmo. E lá vem aquela cara sua de “não sei porque você faz isso comigo se eu te amo tanto”. Respondo com a minha expressão casual de costume, que você parece nunca desvendar, apenas interpreta como bem entende. “Eu não sei” é o que o meu rosto diria se pudesse falar. Eu não sei. Apenas, deixe-me ficar aqui em casa hoje, deitar e ouvir música quieto, Eugênia, não vou dar a mínima para a sua expressão hoje. Hoje eu não vou dar a mínima para tudo que você me disser.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Porque nem tudo é amor.

É estranho perceber quando a paixão acaba por uma pessoa. Você pode deixar de se sentir apaixonado por alguém porque a imagem idealizada que você construiu na sua cabeça, por qualquer motivo simples, desapareceu.

A paixão é muito frágil e tem tempo contado.

Logo, é óbvio que é natural não se sentir apaixonado para sempre. A vida não é um filme de comédia romântica e nem sempre será algo bonito de se ver. Sou partidário das pessoas – e sei que elas estão certas – que preferem construir o amor. Ou melhor, o amor já era para estar sendo consumado dentro da paixão. O amor é cumplicidade. Saber abrir mão das coisas. Pensar em prol do outro. Amor é sacrifício. Eu sei muito bem disso porque sou cercado de várias relações que não deram certo justamente por causa desses motivos, não tiveram paciência, não tiveram compaixão, não tiveram entendimento.

Eles se apaixonaram, mas quando o fogo inicial passou, não souberam fazer das cinzas um novo ardor: mais brando, mais paciente, mais ingênuo dentro dos seus limites. Não souberam construir as relações que são fundamentais para o amor.

A paixão é fácil demais, portanto é necessária para o início.

Não sei se algum dia eu vou sentir o amor, mas do fundo do meu coração confuso e totalmente honesto eu o desejo de várias formas e tipos. E sei que no momento que encontrá-lo poderei ser feliz por completo, porque nem tudo é amor, mas o amor pode ser tudo.

sábado, 13 de junho de 2009

Dia de santo

O cheiro de vela queimada se espalha pelo morro Santo Antônio. São 20h de um sábado em que as pessoas não se cansam de caminhar, ao contrário, todas estão ali esperando a hora de se locomover. A procissão começaria daqui alguns minutos. “Segura na mão de Deus”, o padre grita para o microfone que por sua vez manda para a caixa de som, abençoando todos ao redor. Segura na mão de Deus. Será que Ele está ao meu lado? Ao meu lado, eu só vejo três senhoras, que caminham de cabeças baixas. Ao meu lado novamente, um casal, dividindo a “luz” que carregam. Chamo de luz a vela iluminada que levam em um suporte de garrafa cortado ao meio. De mãos dadas eles cantam forte, empolgados. Talvez tivessem se conhecido na procissão há alguns anos e agora estejam agradecendo. Quem sabe?


Santo Antônio é o culpado dos vários casais que se amam. O santo dos relacionamentos. O meu santo. O que eu fazia naquela procissão? Não estava segurando nenhuma luz, não estava de mãos dadas. Nada. O que eu sentia? Saudade, talvez. Desdém? Um pouco. Santo Antônio mexeu comigo novamente, pegou no meu ponto fraco. Justo ele que é o meu padroeiro. Não pude agüentar toda a caminhada, me peguei desconfiado demais para celebrar algo tão bonito.

À medida que me afastava, as luzes ficavam cada vez mais intensas. Pequenos focos iluminando toda uma rua, várias ruas. Várias pessoas. Se existe algum Deus, se existem santos, eles estavam caminhando ali no meio. Em algum momento, escapando pelos olhos dos casais. Ajudando as pessoas idosas a seguir em frente,a pagar suas promessas. E eu estava me afastando de tudo aquilo, observando tudo. O quadro é sempre mais bonito se vermos por completo, se fugirmos dos nossos problemas. É o que a procissão faz com nós, é o poder que somente os santos possuem sobre as pessoas.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ninguém precisa de um Deus ex machina

Os gregos sabiam de tudo. Tudo mesmo. Eles formaram a base da literatura, da filosofia, da política, das artes, moldando conseqüentemente a cultura ocidental – mas falar isso é chover demasiadamente no molhado. Por isso vou me limitar a um conceito que sempre me chamou a atenção, talvez porque perdure até hoje em muito do que fazemos, imaginamos, ou escrevemos. Deus ex machina significa literalmente “deus da máquina”, ou “deus dentro da máquina”. Na tragédia grega clássica faria mais sentido (Eurípedes utilizava esse conceito em suas tramas), porque aludia a um instrumento mecânico que permitia a uma divindade descer para o palco, oferecendo uma saída para uma situação aparentemente irresolúvel.

Engraçado, não?

Quantas vezes a ideia do mais fácil já não atravessou a sua cabeça? Passar sem estudar. Acontecer alguma desgraça na hora daquela prova. A aula ser cancelada para que você não apresente um trabalho. Um policial chegar na hora em que seu carro falha numa estrada vazia. O tempo parar, possibilitando uma escapatória, quando você comete alguma gafe vergonhosa.

Acontece que as coisas não são assim. Da mesma forma que um texto, a vida não tem resoluções forçadas, inverossímeis, ou de fácil acontecimento. Por que, simplesmente, não teria graça. O contrário do Deus ex machina é justamente o que move o ser humano desde os tempos mais remotos: o conflito. O problema. Aquilo que temos que resolver para evoluirmos, para mantermos as nossas vontades alheias às nossas conquistas. Aristóteles na Poética já falava isso , critico da Deus ex machina ele percebeu que a verossimilhança, a mimese, a não falha no desenrolar da trama são as únicas formas de provocar o efeito que uma boa história deve causar na pessoa.

Ninguém pode descer ao palco e resolver os seus problemas. Estamos completamente sozinhos e com todos os holofotes ligados em cima. Não dá para desistir agora.

domingo, 7 de junho de 2009

Meu arquipelágo

É difícil voltar para casa nesses últimos dias. Triste porque eu sempre soube que vocês não se amavam. Tudo bem, eu suportava isso, e por vezes até esquecia. Vocês também pareciam esquecer. A acomodação era o que movia a nossa família. Acomodação e o esquecimento. O amor acaba, é fato. E não escrevo isso daquela forma clichê sentimental que se lê em todo lugar. O amor acaba uma hora ou outra. Não sei se vocês chegaram a se amar mesmo em alguma época, mas isso não interessa. A verdade é que não dá para viver mais no mesmo teto. Isso está me deixando enjoado (vocês mal se falam, mal se olham, mal conversam).
Chego a fingir coisas para não tomar o ônibus na parada e ir para casa. E a primeira coisa que faço ao adentrar a porta de entrada é me trancar no quarto. Observo vocês também sempre em cômodos diferentes, assim como as minhas irmãs. Pequenas ilhas cada vez mais separadas. Fragmentos de uma unidade que nunca foi bem uma unidade. Falhas a toda hora. E todo mundo afundando rapidamente. A hora da janta é a imagem perfeita da droga da nossa família. Ninguém mais come junto. É verdade.
Queria poder voltar no tempo e consertar as coisas. Que não casassem. Imagino-me chegando na igreja na data do casamento. Na hora que o padre fizesse a bendita pergunta “há alguém presente aqui contra o casamento?”, eu teria uma lista de respostas, todas enumeradas. Tudo bem que eu desaparecesse depois. Talvez desse modo as coisas fossem melhores para todo mundo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Let's face the music

É curiosa a expressão inglesa “Face the music", seu significado remete a um aceitamento às desagradáveis conseqüências de uma ação, segundo uma definição mais formal. Para mim, a melodia da frase soa como um impulso para pular da cadeira. Talvez seja o som da palavra “face”, denominando aqui não o que seria o mais óbvio (refiro-me a face), e sim a uma expressão de afrontamento, tal qual “encarar”. Talvez seja a música chamando para que finalmente a domemos.

Encarar a música.

Acredito que essa seja a melhor tradução.

É claro que num sentido denotativo a sua interpretação ficaria sem nexo. Algumas palavras não devem ser analisadas de fora, e sim de dentro. Às vezes é preciso resistir para não perder o embalo ou não cair nos passos errados da vida. Encarar o movimento das coisas é necessário para aprender a encarar a música. Mesmo que seja a orquestra toda, ou só um bandolim.