domingo, 7 de junho de 2009

Meu arquipelágo

É difícil voltar para casa nesses últimos dias. Triste porque eu sempre soube que vocês não se amavam. Tudo bem, eu suportava isso, e por vezes até esquecia. Vocês também pareciam esquecer. A acomodação era o que movia a nossa família. Acomodação e o esquecimento. O amor acaba, é fato. E não escrevo isso daquela forma clichê sentimental que se lê em todo lugar. O amor acaba uma hora ou outra. Não sei se vocês chegaram a se amar mesmo em alguma época, mas isso não interessa. A verdade é que não dá para viver mais no mesmo teto. Isso está me deixando enjoado (vocês mal se falam, mal se olham, mal conversam).
Chego a fingir coisas para não tomar o ônibus na parada e ir para casa. E a primeira coisa que faço ao adentrar a porta de entrada é me trancar no quarto. Observo vocês também sempre em cômodos diferentes, assim como as minhas irmãs. Pequenas ilhas cada vez mais separadas. Fragmentos de uma unidade que nunca foi bem uma unidade. Falhas a toda hora. E todo mundo afundando rapidamente. A hora da janta é a imagem perfeita da droga da nossa família. Ninguém mais come junto. É verdade.
Queria poder voltar no tempo e consertar as coisas. Que não casassem. Imagino-me chegando na igreja na data do casamento. Na hora que o padre fizesse a bendita pergunta “há alguém presente aqui contra o casamento?”, eu teria uma lista de respostas, todas enumeradas. Tudo bem que eu desaparecesse depois. Talvez desse modo as coisas fossem melhores para todo mundo.

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