quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ninguém precisa de um Deus ex machina

Os gregos sabiam de tudo. Tudo mesmo. Eles formaram a base da literatura, da filosofia, da política, das artes, moldando conseqüentemente a cultura ocidental – mas falar isso é chover demasiadamente no molhado. Por isso vou me limitar a um conceito que sempre me chamou a atenção, talvez porque perdure até hoje em muito do que fazemos, imaginamos, ou escrevemos. Deus ex machina significa literalmente “deus da máquina”, ou “deus dentro da máquina”. Na tragédia grega clássica faria mais sentido (Eurípedes utilizava esse conceito em suas tramas), porque aludia a um instrumento mecânico que permitia a uma divindade descer para o palco, oferecendo uma saída para uma situação aparentemente irresolúvel.

Engraçado, não?

Quantas vezes a ideia do mais fácil já não atravessou a sua cabeça? Passar sem estudar. Acontecer alguma desgraça na hora daquela prova. A aula ser cancelada para que você não apresente um trabalho. Um policial chegar na hora em que seu carro falha numa estrada vazia. O tempo parar, possibilitando uma escapatória, quando você comete alguma gafe vergonhosa.

Acontece que as coisas não são assim. Da mesma forma que um texto, a vida não tem resoluções forçadas, inverossímeis, ou de fácil acontecimento. Por que, simplesmente, não teria graça. O contrário do Deus ex machina é justamente o que move o ser humano desde os tempos mais remotos: o conflito. O problema. Aquilo que temos que resolver para evoluirmos, para mantermos as nossas vontades alheias às nossas conquistas. Aristóteles na Poética já falava isso , critico da Deus ex machina ele percebeu que a verossimilhança, a mimese, a não falha no desenrolar da trama são as únicas formas de provocar o efeito que uma boa história deve causar na pessoa.

Ninguém pode descer ao palco e resolver os seus problemas. Estamos completamente sozinhos e com todos os holofotes ligados em cima. Não dá para desistir agora.

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