sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dos 3 anos

Sempre se tratou de sentar na cadeira e escrever. Não importava o jeito, contanto que fosse bom, prazeroso e em busca de certo estilo. Escrever uma história é organizar uma narrativa, e uma narrativa, é, basicamente, contar. E, ao fazer isso, você gera tudo: tempo, receios, certezas, esperança. Por isso a ficção é vida. E vice-versa. Literatura é uma arte – e talvez a mais nobre de todas – também porque espelha todas as vicissitudes do ser humano, as modificando, criando algo novo. E é arte também porque as ferramentas para se escrever são acessíveis a qualquer pessoa. O que você precisa? Uma caneta, um papel, e pronto. Um teclado, um programa de Word e pronto. Levando em conta que a pessoa já saiba escrever, ler e etc, é claro.

Daí depende do tempo em que se investe nessa ação prazerosa e ardilosa que é escrever. Na realidade, se você gosta de escrever, você tem que escrever sempre. É necessário que essa vontade esteja em sua mente todo o tempo. Se realmente quer fazer isso da sua vida, você, nem notará que realmente pensa em como narrar uma história enquanto está dirigindo o carro, ou tomando banho. Haverá cenas da sua vida que ficarão na sua memória e que servirão como alimento para as possíveis futuras ficções. Assim como tudo que você lê, que você devora.

Entretanto, não acredito que um escritor tenha que viver algo para escrever sobre esse algo. É isso que difere um escritor de um jornalista. Esse último realmente necessita presenciar um acontecimento para escrever tal reportagem, precisa recolher dados, respeitá-los. Há certas regras que não podem ser modificadas no discurso jornalístico, mesmo que você seja o mais vanguardista de todos.

Sinto que fugi um pouco do assunto. Na realidade, gostaria de falar que só agora começo a entender o que é realmente o Contagens. Depois de três anos escrevendo vários tipos de texto.O Contagens não é um blog de um cara que gosta de escrever. O Contagens também não é um blog de um estudante de jornalismo que quer exercitar a escrita. O Contagens é o blog de um cara, que estuda jornalismo, e que precisa escrever ficção. Um cara que realmente quer ser escritor e também jornalista.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Melhor longe

Ela me disse que eu iria adorar Londres, que estava na minha cara. Falou também que o tempo em Paris era louco. E que o jeito de ganhar os franceses era não falar em inglês com eles. Me deu, ainda, algumas dicas sobre o meu cabelo, disse que eu precisava urgentemente de um hair design, que todo mundo estava consultando essas pessoas e que elas realmente saberiam o que fazer comigo. Falou que isso seria a cura para as minhas dores de estômago. Ficava me perguntando por que razão eu não havia a visitado na Europa, embora ela soubesse que essa não era uma oportunidade viável para mim. Fazia cara de magoada, como se ela realmente estivesse magoada. Dobrava os olhos para baixo e levava junto as bochechas, como se tudo fosse cair. Mas apenas por alguns segundos. Em seguida já erguia todo corpo novamente, falando sobre os inúmeros passeios em vários, vários museus. E tudo que eu teria perdido em não ter ido vê-la. Lá embaixo, perto do esôfago, os ácidos irritadiços queimavam as peles a todo vapor. E eu - que a princípio me conhecia tão bem - implorava para que Regina fosse logo embora dali.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Vozerio

Agora, é verdade:

eu já ouço a voz

novamente.

Aquela voz que me encobrira os dentes.

Que me cerrava a boca e

fazia-me tremer, trancar

os pulsos com rigidez.

Sim, é verdade

que eu já ouço

essa voz mais uma vez.

É, ficou claro que entre momento e outro...

até podia se tratar de ilusão.

Mas isso, amigo, é só insensatez.

E, você sabe, é o nosso jeito.

Essa vontade de não ter defeito.

Voz que dorme voraz debaixo do leito.

Você sabe que ela não é ilusão.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Meu pequeno frasco

Queria descrever Eliana como alguém que sempre usou aquele vestido azul com as duas alças compridas sem decote – tudo que ela mostrava era o espaço bonito que ficava entre os seus seios e o pescoço. Queria descrever ela assim porque é uma das lembranças mais remota que tenho na minha cabeça sobre ela. Faz parte da época em que costumávamos passear apenas nós no sítio do tio João, meu tio, irmão do meu pai, ambos já falecidos. Queria falar de Eliana assim, mas tenho medo de começar a descrevê-la e limitar ainda mais meu pensamento. Sou do tipo que guarda as coisas em pequenos frascos; gosto mais das frases curtas que explicam grandes coisas, de uma ideia “menor” para uma ideia “maior". Conceitos, não? Por isso acho melhor falar sobre a expressão incutida em seu sorriso, espécie de droga que se desdobrava de trás para frente, e que fazia os músculos do rosto dela se estremecerem e ficarem todos empolgados por aqueles pequenos segundos de orgasmo facial. Tipo de droga porque – desculpe o trocadilho clichê – me viciava. E eu poderia ficar horas tentando encontrar alguma pista que explicasse o porquê daquela expressão. E até hoje passo horas tentando entender como eu nunca consegui esquecer isso.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Com o par quebrado

Voou com guarda chuva para cima de mim.

Secou os lábios levemente molhados

na minha camiseta primeira vez

usada;


Ninguém mais sabia o que dizer

àquela altura da noite.

Tirou os sapatos de salto alto verdes escuro


(com a maior classe do mundo)


E me disse tchau. Leve com a mão.

Ela me disse tchau.


E foi caminhando de pé no chão

segurando o par quebrado

até virar a esquina.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para passear amanhã

- Ah, quase me esqueci...esse é o novo estagiário,

- Renato, prazer.

- Prazer, Sílvia.

- Então, Laís, o Renato é inteligente?

- Boa pergunta..acho que ainda vamos descobrir..

- Você é inteligente Renato?

- Gosto de pensar que sim...

- Me lembrei agora, Silvia, que ainda não o levei para passear, para conhecer todo o ambiente..

- É verdade, ainda não fomos..

-Vamos fazer assim, eu vou ficar te observando e fazer um relatório depois de um mês para ver se você é inteligente.

- Ok, então, Sílvia.

- Renato, vamos passear amanhã, tá?

- Vamos

- Outra coisa, não adianta ter só um rostinho bonito como o seu..e um corpo legal para trabalhar aqui, viu. Você tem que ter cérebro.

- Eu tenho cérebro e...

- E tem que saber ouvir..ok? Laís, será que eu posso levar ele para passear amanhã?