quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Teoria número doze : sobre Lides e a interioridade externada

Antes de tudo tenho que explicar o significado do termo Lide para as pessoas que não o conhecem. Seria o primeiro parágrafo de uma notícia impressa, completamente informativo, que procura responder àquelas perguntas básicas do jornalismo: “quem? onde? quando? por quê? como? o quê?” (não necessariamente nessa ordem, e nem necessariamente responder a todas as perguntas). A realidade é que se deve filtrar o mais importante e então produzir a “pirâmide invertida”, termo que a maioria dos estudiosos utiliza. Isto é, escolhemos as prioridades, e começamos por elas, deixando o menos atrativo para o final. Mas eu me pergunto, e se o verdadeiro atrativo não for o que é tão palpável e tão óbvio? Sempre acreditei que todas as sinuosidades da vida têm segredos, não somos lides, não somos textos pré-fabricados, sem nenhuma posição autoral. Somos pessoas, com emoções, valores, medos e desafios. Assim como um texto deve ser. Por isso que o bom jornalismo se faz de dentro para fora, usando a sua principal ferramenta, a investigação. Somente a apuração dos fatos unida a uma linguagem inovadora e próxima do ser humano pode completar – e contemplar – a vida, o texto e o próprio jornalismo.

Obstáculo 12

Foram exatos doze meses escrevendo o que me atrapalhava, o que ficava exatamente entre a minha pessoa e o que eu queria encontrar. Ou o que eu queria ter. Acredito que foi o post em que mais (não sei se é o termo correto) exagerei na linguagem, mais viajei. Contudo foi um prazer fazê-lo. Inspirado totalmente na minha vida, cada obstáculo tem um pouco – ou um muito – do que aconteceu comigo esse ano. Termino essa seção dizendo que o obstáculo, tornou-se um obstáculo para mim, entre esse ano velho e o ano que entrará. Quero mudar as coisas e esse tipo de postagem, a meu ver, não têm mais lugar no blog. Fazer essa série de posts tornou-se o meu obstáculo final.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os erros que eu quero cometer

Gosto do final de Dezembro, justamente por parecer um recomeço. É daquelas coisas que não tiro da cabeça: a idéia da redenção. Uma segunda, terceira, quarta, vigésima primeira chance para tentarmos algo novo. Ou realizarmos atividades que desejamos fazer há tempo. Ou ainda (na mais chata redundância) voltarmos atrás de atos, dissiparmos arrependimentos. Eu começo pelo normal: elaboro vários planos, já tenho todos em mente, mas prefiro guardá-los no canto, por enquanto, deixá-los dormindo, só esperando a possibilidade de abocanhá-los. E assim a coisa segue. Desejo iniciar mais três blogs, com assuntos diferentes, também quero fazer academia ou algum esporte interessante, aprender uma nova língua, fazer uns cursos diferentes. Por fim, quero continuar com o Contagens ano que vem, aumentando, quem sabe, o número de postagens por mês. Essa época define muito o que acontecerá no futuro, consequentemente, é importante planejar agora para se conseguir mais fácil depois. Ahhh, e não se esqueça, junte todos os erros, todos os acertos, todas as escolhas mais ou menos e leve junto como bagagem. É o que a minha professora de quarta série recomendava. Quem diria que aquela gorda extravagente estava tão certa?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Das distâncias

Lá estava eu, e a uns quatro metros, lá estava ela também. O copo plástico branco de cerveja na minha mão, calmamente gelado, grudava na minha pele, levava-o à boca algumas vezes, como se ele fosse viciado em mim, e não ao contrário. Encontrava-me parado em frente ao bar com o Luís, que parecia mais extasiado do que qualquer outro. Por outro lado, eu não estava muito atento à barulheira, ou aos gritos exagerados, conversas bizarras, nem com a música ao fundo – até porque ela fugia do meu gosto. O que eu cuidava mesmo era a movimentação dela, o jeito como andava e saía e o modo como me dava pouca – mas sempre respeitosa – atenção. Sabia seu sobrenome, quantas vezes espirrava, irritada por alguma poeira maldosa que teimava aporrinha-la, e de certa forma compartilhava alguns de seus ideais. Mas o que eu queria mesmo compartilhar ela não deveria ter idéia, não tinha conhecimento de como seu corpo me fazia mal, de como há tempos tudo o que eu sei e leio nos livros refere-se a ela. Não considero uma doença, talvez algum transtorno que me ilude devagar, algo que entra na minha alma e fecha tudo. Fica ali. O cabelo preto, a pele morena, o vestido branco devagar olhando para lá e para cá, a cerveja gelada na minha garganta, Luis sem parar de falar ao meu lado. Tudo fluindo junto. O que ela pensaria de mim? Gosto de fechar os olhos e imaginar tudo quieto e ela se aproximando, como se fosse me fisgar, depois nós derretendo devagar, sempre juntos e quietos. Logo, bebemos uma cerveja qualquer, viciada em nossas mãos, e dormimos. Enquanto penso, ao mesmo tempo sei que continua tão longe quanto a luz falsa que banha a todos naquela sala, talvez tão distante quanto a minha própria consciência.

domingo, 21 de dezembro de 2008

369 dias

Há um ano, praticamente, eu iniciava o meu blog com uma postagem meio insólita, falando sobre um templo asteca, algo assim. Passando o tempo fui encontrando o modo como queria escrever e como queria pensar. Não foi difícil, na realidade foi muito mais prazeroso do que eu imaginava que seria. Conheci algumas pessoas bem legais através do blog, aprendi bastante escrevendo, lendo e refletindo sobre os assuntos. Enfim, levei a sério o que não nasceu com a pretensão de ser sério. Acabou se transformando. E essa é a beleza da coisa. Tudo o que escrevo aqui está permeado de mim e de pessoas próximas, mas ao mesmo tempo também está lotado de tudo que eu não tenho, que nunca terei, e que não existe. Essa é a mágica de tudo.

Obrigado a todos

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Por toda a cidade

Deixa eu te descrever. Veja se o reconhece pelas características, eu sei que é difícil para ti, mas é necessário. Olha só, vou tentar até desenhar. Calma, não fica nervosa, não é tão complicado. Agora vou dizer como ele era, e você vai confirmar para mim, certo? Não, espera, não precisa chorar. Moça, não fica nervosa, estou aqui para ajudar. Confie em mim, que a gente vai pegar esse cara, mesmo que tenhamos que procurar por toda a cidade. Isso, tá melhor? Quer um pouco de água, eu conseguiria um pouco de água, peço para alguém trazer, não sei. O que você quiser para se sentir melhor eu posso tentar conseguir. Vai querer a água então? Ta, ótimo. (Agenor, traz uma água aqui, rápido!). Agora, eu preciso te dizer as características do suspeito, tá? Isso, calma, assim mesmo, senta aqui, pega a água, e toma direitinho. Ele era careca, magro, moreno, aparentando uns 30 anos...?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sobre o meu avô

É difícil para mim se aproximar dele, e foi assim desde criança. Sempre tão distante, mas de certa forma tão próximo nas atitudes, como se nos comunicássemos por meio das aparentes ações: tal como assistir a um desenho antigo, ou ouvir os seus sermões que mostravam certa preocupação, e ainda as conversas sobre futebol - só para mantermos mais diálogos. Um fato sempre me surpreendeu, nunca o vi de completo mau humor. Já o pude conferir irritado com algum acontecimento taciturno, mas nada que durasse muito tempo, logo é possível ver o sorriso que o tempo ajudou a acarinhar no rosto enrugado. Poucas pessoas completam 79 anos e ainda se mantêm ativas, vivas, de cabeça e corpo com propostas a pensar. Ainda que ouvindo mal, ainda que não o compreendendo por completo, fui dar-lhe o parabéns. Algo que saiu tão impessoal da boca, mas se ele soubesse a carga de sentimento que todo aquele som carregou – assim como toda a dificuldade que tive para vencer a apegada timidez –, não teríamos ficado, mais uma vez, no vácuo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

cemtimento

Ela chega cansada do trabalho, joga a bolsa amarela, quase laranja, no sofá e deposita o corpo, pouco a pouco, na cadeira da mesa da cozinha. Quer café para se manter acordada: ainda precisa jogar um pouco de sua criatividade num texto que deve ser entregue no dia seguinte. Prepara a bebida, da maneira mais rápida e sem paixão possível, depois senta no sofá. Não há mais ninguém na casa, e nem em sua vida, no momento. Em frente a tela do computador pensa em tudo que lhe aconteceu nesses 27 anos. Sua mente pára nas lembranças das pessoas que amou, uma nunca lhe fugiu a cabeça. A dúvida é a pior inimiga dos dias e da folha em branco, preparada para o texto, para as palavras. Há anos o caso mal resolvido vem complicado a sua vida, os seus desenrolar de palavras. O que poderia ter acontecido, se fosse de um outro jeito, se não seguissem caminhos diferentes? Ela nunca poderia saber. Agora, apenas digita com os dedos, o texto ainda confuso, ainda inerte, embaralhado entre sentimentos.

obs: post número 100 do blog, pessoal. muito obrigado, do fundo do coração, por realmente lerem. =)