terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A noite


Há partes
que, em vão,
teimam ir embora
 e só se perdem no caminho.

Pairam ao redor do sono,
compridando as memórias,
alongando a histeria.

Para todo mundo dormir
é preciso fortes medidas restritivas:
Esganá-las pelo pescoço,
amarrar e trancafiar no escuro.

Deixar
até amanhacer.

Até os olhos espetacularmente abrirem.

E a luz libertar tudo que não pode ir embora.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Na próxima vez


Por que você não tira os sapatos? Encosta perto da porta, isso, devagar, não se sente melhor assim? Com os pés pisando no carpete. Em mim dá cócegas. Eu gosto.

É verdade, eu já me sinto um pouco melhor. A sua casa é bonita.

Me mudei há pouco tempo para falar a verdade. Foi um bocado de dinheiro, mas para que serve o dinheiro se não para ser gasto, né?

Acho que sim, se eu tivesse muito dinheiro eu nem sei se teria casa, acho que eu ficaria viajando por aí, sem rumo, vivendo em hotéis.

Parece divertido.

Pois é, imagina viver assim sem nenhum ponto de chegada, sem nada, sem se prender.

Será? Uma hora todo mundo tem que parar.

Ah, imagina viver por aí andando de carro, de avião, quebrando alguns quartos de hotel.

Você é engraçada. Mas me diz, como está o seu pé, não machucou muito então, pelo jeito.

Não, não, tá tudo certo...

Posso pegar uns esparadrapos aqui, eu tenho certeza que deixei em algum lugar do banheiro...

Não, não precisa mesmo, tá tudo certo. Eu que sou uma desastrada. Minha mãe dizia que ninguém em casa quebrava tanta coisa como eu, acho que nasci para quebrar coisas.

Eu também sou meio desastrado, por que você acha que eu tenho carpete em casa?

Você é engraçado.

Obrigado, quer uma bebida?

Não sei, não sei...

O que houve?

Talvez seja melhor eu ir embora.

Mas ainda é cedo, não quer ficar mais um pouco. Deixo você quebrar o meu quarto. O que acha?

É uma boa ideia, mas eu não sei. Acho que vou deixar para a próxima.

Ah, tudo bem, eu entendo. Então teremos uma próxima vez?

Eu gostaria.

Eu também.