sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Meus cinco anos de Bailei na Curva

Nesse outubro, a peça “Bailei na Curva”, do diretor Julio Conte, está completando trinta anos. A obra é considerada um clássico moderno do teatro gaúcho, que influenciou e mudou o panorama das artes cênicas aqui no estado, inclusive, fazendo sucesso em outros lugares do País. Porém, mais do que toda essa importância para o campo social e cultural, “Bailei na Curva” também tem papel muito importante para mim, explico: foi o tema da minha primeira matéria para um jornal, cinco anos atrás, justamente sobre os 25 anos da peça.


Quem quiser ler o texto, ele tá aqui.

Meu primeiro estágio, na realidade, foi no Rádio da Universidade (UFRGS), na qual o então diretor André Prytoluk, professor do curso de Publicidade da mesma instituição, me deu a vaga após uma breve conversa. Fiquei por lá por cerca de seis ou sete meses, apesar de ser um bom legal para aprender, eu tinha um grande interesse em descobrir o jornalismo impresso – e o Jornal da Universidade parecia o lugar ideal para isso. Aí, acabou surgindo uma vaga por lá, e como a seleção ainda não era realizada por testes, acabei sendo indicado pela Sandra de Deus, então secretária de comunicação e também professora da UFRGS, para uma vaga no JU (apelido carinhoso do impresso). 

E, então, tudo começou de fato para mim. Acredito que foi por lá que moldei algumas das minhas crenças e costumes que carrego comigo até hoje, nesse pouco tempo de “carreira” (não gosto muito do termo, mas...). Conheci excelentes profissionais, em especial a Ânia Chala e a Caroline da Silva. Apesar de, no nome, ser um jornal, na verdade a publicação está bem mais para revista, em seu espírito editorial e tempo de publicação (é mensal). Talvez pelo maior período de apuração e edição da matéria e também mais espaço (é um jornal padrão standard), sentia-me mais propenso a ser criativo e, como era a primeira matéria que ia produzir, queria que ela ficasse muito boa - então, realmente me puxei. Não me recordo exatamente como essa pauta caiu para mim, mas era na área da cultura, e me lembro de que sempre quis trabalhar por aí, então fiquei muito satisfeito. Havia visto a famosa peça no colégio, mas não me recordava exatamente dos detalhes e do contexto. Encontrava-me no terceiro ou no quarto semestre da faculdade, ainda não tinha aulas mais técnicas de texto. Foi tudo no feeling apoiado na ideia de escrever uma matéria interessante, em três atos, fazendo uma espécie de brincadeira com o roteiro de uma peça de teatro. Entrevistei quase todos os atores da primeira geração do espetáculo e alguns da nova, assim como o crítico Antonio Hohlfeldt, o ator Zé Victor Castiel e, é claro o diretor Júlio Conte (escrevi sobre essa experiência aqui). Realmente entrei na história e produzi um texto gigante e, claro, um pouco pretensioso, acho que tinha algum parêntese no título, originalmente, e também tinha a ideia de fazer o primeiro parágrafo de cada cena, como se fosse descrevendo a época, no mesmo formato de um roteiro de uma peça. Na minha cabeça ficava bem...

É aí que entra a importância da Carol, que me ajudou bastante durante a produção dando dicas de como seguir na matéria e de quem entrevistar e orientações do texto também para buscar aquela almejada clareza e tirar os preciosismos, que não combinam necessariamente com um texto jornalístico – ou sim, depende do momento. Também, é claro, orientação da Ânia, e a edição do texto principalmente pós-produção, deixando mais limpo e coeso, e me chamando para me orientar, quando fazia isso. É o modo como um editor deve agir, ainda mais com um estagiário que, em tese, está aprendendo. Descobri que jornalismo se faz em conjunto. Por essas e outras, o JU foi um grande lugar para trabalhar. Por essas e outras, eu gostei da ideia do jornalismo impresso, da área cultural. Uma das coisas que me marcou nessas entrevistas sobre “O Bailei na Curva” era o modo como eles acreditavam naquilo que eles criaram, a força da expressão artística e da criação sempre me interessou e, nesse momento, aquilo me despertou para o jornalismo cultural também, e toda a sua responsabilidade de ser algo além da simples divulgação. Começava a criar em mim a crença de que o aprofundamento é algo necessário no jornalismo, o ímpeto de que a reflexão sobre a pauta e o objeto a ser discutido deve ir muito além do que a simples informação – apesar, é claro, de entender hoje que tudo é necessário.

Mas foi por lá, em algum momento nessa matéria, que tudo começou a se formatar para mim. Se eu pudesse falar com o Rafael Gloria daquela época, eu agradeceria. 


domingo, 13 de outubro de 2013

Sobre festas e seis tipos de pessoas que se encontram nelas – Teoria número trinta e quatro



Se não me engano, comecei a frequentar festas com 14 ou 15 anos, tendo agora 25 outonos, posso dizer que em dez anos já fui em muitas, muitas festas. Festas sempre me causaram alguma sensação, seja um estranhamento, epifania, diversão, raiva, carinho, tristeza, paixão. É. Não entendo a aversão que algumas pessoas têm a festas, acredito que seja um ótimo campo de estudo do comportamento humano. Esse também é um dos pontos que mais me interessa aqui. Não importa o tipo de festa, mas, mesmo assim, vou enumerar alguns elementos para classificar o conceito de festa que estou me referindo. Elas acontecem à noite, em um clube ou ambiente fechado (residência), há bebida alcoólica, você está pagando para entrar e o som é mecânico, ou há um DJ tocando. 

Acredito que quase todo mundo já frequentou uma assim. 

Explicando um pouco desses elementos, todos eles contribuem para influenciar um estado diferente na pessoa. A noite sempre foi um aspecto interessante, primeiro porque ela é misteriosa e complexa por excelência, e principalmente porque durante o dia, normalmente, estamos presos às obrigações corriqueiras – seja no trabalho, ou estudando. O dia é onde funciona o sistema. À noite também, é claro, mas ela é mais livre, suas horas não são contadas no fundo de previdência, então, a princípio, é um lugar propício para a pessoa ser mais autêntica, para assumir comportamentos diferentes do cotidiano. Delimitei o espaço de um ambiente fechado, clube ou residência, porque festas em ambiente aberto têm outra proposta – talvez mais interessante que as fechada, mas não é o caso da discussão. Delimitar um ambiente já é delimitar barreiras para uma festa, e isso é o aspecto interessante aqui. É uma festa “fechada”: aquelas pessoas estão ali para serem notadas, e notar alguém. Parece-me, inclusive, quase claustrofóbico pensar que se está em um ambiente assim, quase sempre cheio e com música alta – e que você está pagando por isso. O que me leva ao fato do dinheiro. Festa é também um produto, pensada para ser vendida e consumida; sim, há um publicitário por trás da temática da festa, que está fazendo o trabalho dele tentando comercializar aquele conceito para você. E você deve pagar para entrar naquele mundo (festa) criado nos cartazes e nas redes sociais. Só que o ato de pagar já nos traz a ideia de que temos que conseguir algo em retorno. Não parece coerente? Você vai ao supermercado para comprar batatas, para matar sua fome, e você paga por aquilo. Você vai a uma festa para quê? Qual o intuito? Diversão? Conhecer outra pessoa? Dançar? É muito mais abstrato e também mais interessante, já que não é garantido que você vá sair satisfeito. O som deve ser mecânico, sem apresentação ou shows, porque, daí, já se perde a característica de festa no sentido mais clássica. Se fosse um show ou uma apresentação, teríamos um público, uma plateia. E são coisas diferentes. Por último, e não menos importante, o fator alcoólico, que também é vendido no local. Em uma festa, é comum a pessoa beber um pouco mais além da conta. O álcool pode ser transformador, revelador, pode te deixar louco, feliz, triste. Depende muito do seu estado, e de como ele funciona em você. Então, beber é uma escolha e de certa forma, pode servir como uma mutação.

Dito isso, vamos para os seis tipos de pessoas que se encontram em festas (esclarecendo que essas pessoas podem ser você mesmo em diferentes fases da vida):

       O desiludido feliz ou o triste iludido.

Em toda festa há aquela pessoa que está puta da cara ou infeliz com alguma coisa na vida e vai para a festa com o único intuito de esquecer tais acontecimentos. Provavelmente essa pessoa acordará com uma dor de cabeça horrível no dia seguinte, mas aproveitará a festa, bebendo um monte, dançando como se não houvesse amanhã e, de repente, atacando várias pessoas na noite. Cuidado, ou não.

      O julgador

É aquela pessoa que foi arrastada para a festa, ela não queria ir a princípio, mas seja lá por que motivo conseguiram levar a criatura até lá. E lá vai ela ficar em um canto, com a cara emburrada, pensando porque essas pessoas estão lá bebendo, ouvindo música ruim, etc. Julgando todos os outros a partir da sua visão de mundo.

       O vida loka

É quem está sempre nas festas, ele conhece todos os lugares que mais bombam na cidade. Conhece os DJS, é amigo das hostes, e ganha free nas festas. Normalmente, adorado por todos, é ele quem movimenta a festa e traz o espírito da diversão juvenil e estúpida – altamente necessária para a vida – ao restante das pessoas. Essa pessoa nunca para, está sempre circulando na festa e entre as festas.

       O Casal

Essa é para aqueles casais que são praticamente um só, porque não se desgrudam em nenhum momento. Inclusive nas festas. A época de sair deles já passou,  de repente já foram “vida loka”, mas agora estão felizes juntos e assistindo filmes de comédia da década de cinquenta sábado à noite bebendo cerveja. Mas para mostrar que ainda estão jovens eles vão a festas de vez em quando. E daí tem vários subtipos de casais em festas, desde os altamente liberais, até os conservadores. Qual é o seu?

       Só vim para caçar

Outra figura carimbada em festas é a pessoa que está lá para se divertir, mas também para caçar. Ele(a) não parecem ficar satisfeitos até conseguirem chegar e trovar a maioria das pessoas da festa. E não sossega até conseguir ficar com pelo menos alguém. Muitas vezes acaba se frustrando se sair de mão abanando. Na verdade, tudo isso costuma  esconder uma grande carência.

        Mais uma foto, por favor

Essa é uma tendência nova e que começou nessas festas de clube e também com o crescimento das redes sociais e da ideia de compartilhamento. São as pessoas que tiram várias e várias fotos na festa e compartilham em seus perfis na internet. Nada mais natural na nossa época e é uma forma da festa se perpetuar a própria festa nos comentários de amigos e comentário do dia seguinte. Também é uma boa forma de se mostrar o que está fazendo e dar indiretas para possíveis desastres amorosos. Ou só mostrar que está se divertindo mesmo. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

atados/quebra

Você é real.
Não consegue mentir
sem desviar os olhos.

Você é real.
Quando fica nervosa,
as mãos tremem.

Você é minha,
pois se despe facilmente.
E quebra nós
sem dizer nada.

Você é uma atriz, quando
está aberta na cama.

Uma fingidora de paciência e gozo.

Eu sou falso.
E sobre esse fato,
não converso.

Você é real,
faz hora passar
rapidamente.

Eu sou mentiroso,
nem encaro sua face,
porém sonho acordado.

Você é real,
com as coxas brancas
à mostra.

Você é nossa,
quando se debruça
para o próximo.

Cansada, mas continua.

A andar sozinha
pela madrugada.