Se não me engano, comecei a frequentar festas com 14 ou 15
anos, tendo agora 25 outonos, posso dizer que em dez anos já fui em muitas,
muitas festas. Festas sempre me causaram alguma sensação, seja um estranhamento, epifania,
diversão, raiva, carinho, tristeza, paixão. É. Não entendo a aversão que algumas
pessoas têm a festas, acredito que seja um ótimo campo de estudo do
comportamento humano. Esse também é um dos pontos que mais me interessa aqui.
Não importa o tipo de festa, mas, mesmo assim, vou enumerar alguns elementos
para classificar o conceito de festa que estou me referindo. Elas acontecem à
noite, em um clube ou ambiente fechado (residência), há bebida alcoólica, você
está pagando para entrar e o som é mecânico, ou há um DJ tocando.
Acredito que quase todo mundo já frequentou uma assim.
Explicando um pouco desses elementos, todos eles contribuem
para influenciar um estado diferente na pessoa. A noite sempre foi um aspecto
interessante, primeiro porque ela é misteriosa e complexa por excelência, e
principalmente porque durante o dia, normalmente, estamos presos às obrigações
corriqueiras – seja no trabalho, ou estudando. O dia é onde funciona o sistema.
À noite também, é claro, mas ela é mais livre, suas horas não são contadas no
fundo de previdência, então, a princípio, é um lugar propício para a pessoa ser
mais autêntica, para assumir comportamentos diferentes do cotidiano. Delimitei
o espaço de um ambiente fechado, clube ou residência, porque festas em ambiente
aberto têm outra proposta – talvez mais interessante que as fechada, mas não é
o caso da discussão. Delimitar um ambiente já é delimitar barreiras para uma
festa, e isso é o aspecto interessante aqui. É uma festa “fechada”: aquelas
pessoas estão ali para serem notadas, e notar alguém. Parece-me, inclusive,
quase claustrofóbico pensar que se está em um ambiente assim, quase sempre
cheio e com música alta – e que você está pagando por isso. O que me leva ao
fato do dinheiro. Festa é também um produto, pensada para ser vendida e
consumida; sim, há um publicitário por trás da temática da festa, que está
fazendo o trabalho dele tentando comercializar aquele conceito para você. E
você deve pagar para entrar naquele mundo (festa) criado nos cartazes e nas
redes sociais. Só que o ato de pagar já nos traz a ideia de que temos que
conseguir algo em retorno. Não parece coerente? Você vai ao supermercado para
comprar batatas, para matar sua fome, e você paga por aquilo. Você vai a uma
festa para quê? Qual o intuito? Diversão? Conhecer outra pessoa? Dançar? É
muito mais abstrato e também mais interessante, já que não é garantido que você
vá sair satisfeito. O som deve ser mecânico, sem apresentação ou shows, porque,
daí, já se perde a característica de festa no sentido mais clássica. Se fosse
um show ou uma apresentação, teríamos um público, uma plateia. E são coisas
diferentes. Por último, e não menos importante, o fator alcoólico, que também é
vendido no local. Em uma festa, é comum a pessoa beber um pouco mais além da
conta. O álcool pode ser transformador, revelador, pode te deixar louco, feliz,
triste. Depende muito do seu estado, e de como ele funciona em você. Então,
beber é uma escolha e de certa forma, pode servir como uma mutação.
Dito isso, vamos para os seis tipos de pessoas que se
encontram em festas (esclarecendo que essas pessoas podem ser você mesmo em
diferentes fases da vida):
O
desiludido feliz ou o triste iludido.
Em toda festa há aquela pessoa
que está puta da cara ou infeliz com alguma coisa na vida e vai para a festa
com o único intuito de esquecer tais acontecimentos. Provavelmente essa pessoa
acordará com uma dor de cabeça horrível no dia seguinte, mas aproveitará a
festa, bebendo um monte, dançando como se não houvesse amanhã e, de repente,
atacando várias pessoas na noite. Cuidado, ou não.
O
julgador
É aquela pessoa que foi arrastada
para a festa, ela não queria ir a princípio, mas seja lá por que motivo
conseguiram levar a criatura até lá. E lá vai ela ficar em um canto, com a cara
emburrada, pensando porque essas pessoas estão lá bebendo, ouvindo música ruim,
etc. Julgando todos os outros a partir da sua visão de mundo.
O
vida loka
É quem está sempre nas festas,
ele conhece todos os lugares que mais bombam na cidade. Conhece os DJS, é amigo
das hostes, e ganha free nas festas. Normalmente, adorado por todos, é ele quem
movimenta a festa e traz o espírito da diversão juvenil e estúpida – altamente
necessária para a vida – ao restante das pessoas. Essa pessoa nunca para, está
sempre circulando na festa e entre as festas.
O
Casal
Essa é para aqueles casais que
são praticamente um só, porque não se desgrudam em nenhum momento. Inclusive
nas festas. A época de sair deles já passou,
de repente já foram “vida loka”, mas agora estão felizes juntos e
assistindo filmes de comédia da década de cinquenta sábado à noite bebendo
cerveja. Mas para mostrar que ainda estão jovens eles vão a festas de vez em
quando. E daí tem vários subtipos de casais em festas, desde os altamente
liberais, até os conservadores. Qual é o seu?
Só
vim para caçar
Outra figura carimbada em festas
é a pessoa que está lá para se divertir, mas também para caçar. Ele(a) não parecem
ficar satisfeitos até conseguirem chegar e trovar a maioria das pessoas da
festa. E não sossega até conseguir ficar com pelo menos alguém. Muitas
vezes acaba se frustrando se sair de mão abanando. Na verdade, tudo isso
costuma esconder uma grande carência.
Mais
uma foto, por favor
Essa é uma tendência nova e que
começou nessas festas de clube e também com o crescimento das redes sociais e
da ideia de compartilhamento. São as pessoas que tiram várias e várias fotos na
festa e compartilham em seus perfis na internet. Nada mais natural na nossa
época e é uma forma da festa se perpetuar a própria festa nos comentários de
amigos e comentário do dia seguinte. Também é uma boa forma de se mostrar o que
está fazendo e dar indiretas para possíveis desastres amorosos. Ou só mostrar
que está se divertindo mesmo.
Um comentário:
Interessantes pontos de vista!
Show.
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