terça-feira, 30 de setembro de 2008

Teoria número nove: sobre filmes e comportamentos

Liguei a televisão, canal global, o filme que se sucedia, assim mesmo sem conexão, era um daqueles da Xuxa, perdido pela tarde, cantando velhas canções, quase mortas, da década de 80. Não resisti a tentação de apertar o botão off. Não queria ficar enjoado. Pois é, acredito que haja uma bela ligação entre filmes e comportamentos, vontades, necessidades. Ver um filme deixou de ser apenas uma diversão há muito tempo. Eles ditam as nossas vontades. Por exemplo, estou perdidamente apaixonado, meu coração de idealista romântico pede um filme (adivinhe?)romântico. Pode ter certeza que o melodrama água com açúcar entrará como um soro na minha veia, e eu terei o meu remédio. Isso, porque há um grande diálogo entre o meu corpo e o filme, trocaremos sinais de entendimento: ele saberá exatamente a hora de me emocionar e eu a hora de acabar cedendo. A música tocará o meu sentimento, a relação entre os personagens me levarão a um outro sentido. Tudo me levará a um maior entendimento das minhas sensações e me fará ver o romance na minha pessoa. Os filmes são uma das fontes de maior compreensão e inspiração nesse mundo, por deus esquecido.

Obstáculo 9

São as palavras repetidas que me fazem suar. Todos os dias são travadas inúmeras batalhas, atrás daqueles vocábulos carrancudos que se escondem na cabeça, e se perdem pelos pensamentos tortos. O desafio é não estagnar nessas sinuosidades, sempre é necessário pensar no texto: abrupto, puro, delineável. Capaz de tecer linhas imaginárias com o leitor. Que ele possa sensibilizar, ou proporcionar a reflexão em todas as frases menores . Mesmo que seja apenas uma página pequena, composta por um discurso difuso, singelo, inexorável. Tenho medo daquilo que não podemos ver, mas o medo é o que mais me motiva na busca a novas palavras: um muro eterno que se deve transpor, uma luta sempre nova e sempre sempre.

sábado, 27 de setembro de 2008

Gerações musicais

Às vezes eu queria soar como aquelas músicas românticas dos anos cinqüenta, quando as pessoas cantavam com ternos engomados, sapatos lustrados, alguma substância melequenta no cabelo e com o coração na mão. Na mão, droga. Depois, eu penso melhor e imagino o quão pode parecer demasiadamente sentimental uma afirmação dessas, talvez, devesse pular uma década, imaginando-me nos anos sessenta, com a geração betlemaníaca. Dando gritos histéricos de guriazinhas idiotas, e crescendo junto com o quarteto de Liverpool, viajar nas suas canções, observar o amadurecimento das letras e das melodias, o modo como ditavam a moda, os cabelos, os bigodes, as drogas. Tudo fluiria sob mim e sobre mim, marcando minhas atitudes, mas alguma coisa na minha mente me faz pensar na década de setenta. Suas músicas disco maravilhosas, o groove do contrabaixo a empolgação das pessoas. O que importava era o ritmo, o balanço. As calças bocas de sino, o cabelo black power, e por outro lado o hard rock que começava a nascer, os hippies e john lennon na ativa contra a guerra do vietnã, o punk surgindo na Inglaterra e nos Estados Unidos. As grandes viagens do Pink Floyd, toda uma geração cantando, toda uma geração ouvindo músicas da melhor qualidade. Não sei qual seria a melhor época, ainda há os malucos anos oitenta, com as inovações pops, a voz estonteante de Freddy Mercury, e o nascimento absurdo do techno. Os cabelos volumosos, os ternos bregas, as letras bregas, as cores bregas. Tudo florescendo novamente, como uma bomba de novidade, além disso, a maioria das canções pareciam ter um eco triunfante nessa época. E então chega a crueza dos anos noventa, Kurt Cobain, jogando toda a purpurina da década passada para o lixo, sendo direto, juvenil, rebelde, imaturo. Morrendo jovem. Talvez a década de noventa tenha morrido jovem, ou viveu jovem por tempo demasiado. Beck e outros cantavam o modo “loser” de ser. Os nerds começam a entrar na moda, e mais para o final da década, surgem as bandas de pós rock, indies, nova invasão britânica, todos com nomes diferentes, mas com uma sonoridade muito parecida. As letras se tornam cada vez mais pessoais ou intimistas, mas todas as canções tristes continuam falando de amor. Seja com meleca no cabelo, com gritos de ié-ié-ié, calças bocas de sino, eco triunfantes, ou juventude exagerada.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"É final de setembro"

Renato caminha pela calçada em frente a sua casa, conta os passos, conta a respiração, depois pausa e tenciona entrar em sua residência. Mas não consegue. Quem estará lá dentro? São sempre pessoas diferentes, tantas personalidades envoltas em uma família. "O que eu serei, quando atravessar a porta?" ele pensa. Em seu caso, dependia da época do ano, do mês, da estação. “É final de setembro”, sopra as árvores ao lado, e ecoam, chegando a sua cabeça, pulando para dentro do sangue, dançando nas suas articulações. “É final de setembro”, continuam os Ipês ao seu redor. Assustado, mas entendentendo o que se passa, ele levanta do meio fio na calçada. Porém não é mais Renato, transformado ele se confunde com a estação ao seu redor. Atravessa o portão calmamente, cada vez mais solidificando os pés no chão, trancando suas raízes no pátio, tornando-se parte do verde, parte da terra. Parte da família.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Entre parênteses

Queria ser como uma escada que não pára de subir. Como o céu cinza antes da chuva, o tempo todo envolto em águas, o tempo todo esquecendo o tempo. Queria poder tocar o céu e depois descrevê-lo no ouvido dela, como se fosse a droga de uma canção que nunca deixará de tocar. Queria colar nela e sumir, sumir junto. Mas não é o que acontecerá, enquanto os acordes ainda batem no seu ouvido, eu já estarei a mil metros de distância. Porque eu sou assim. Não tenho jeito, não sei se quero ter um jeito. Certas pessoas nunca mudarão, a vida é fugaz até termos consciência que não viveremos para sempre. Não sei, no momento só escrevo o que o dedo quer, o que o teclado quer, o que a tela diz que quer. Como você deixou de acreditar em você mesmo, rapaz? Ah, esqueça tudo, uma dose de vodka resolverá o seu problema. Eu estava cego, mas agora posso vê-lo. Alguém pode apagar aquela luz?

Fale comigo, fale comigo.

sábado, 13 de setembro de 2008

Notuss (paracetamol, cloridato de difenidramina, cloridato de pseudoefedrina e dropropizina)

O remédio que venho tomando para tratar a maldita doença na garganta, que me ataca faz um tempo, me dá um sono incrível. É difícil se concentrar para fazer qualquer coisa útil, tal como ler algum texto para a faculdade, ou começar a escrever aquela matéria para o jornal. Não dá. O que ando fazendo nesses últimos dias é me medicando, vendo vários filmes que aluguei e descansando, torcendo para que a faringite vá embora logo. É incrível como a garganta pode derrubar a pessoa. E é nesse ponto que consegui perceber como todas as coisas estão interligadas. Assim como essa dor a que acaba influenciando todo o resto do corpo, as nossas ações na vida também acabam criando novas atitudes. O que fazemos modifica todo o ambiente ao nosso redor. Para melhor, ou para pior, talvez no fundo nosso subconsciente saiba exatamente disso, que nós não temos força para nada, que somos medrosos e agimos por impulso, não sei. Só sei que estou com sono, e meus dedos também, mas o remédio é necessário, ele vai me ajudar na tosse...


obs: adeus, lucas. Fique forte na sua nova empreitada, sucesso. Aqui vai o link do novo endereço dele: http://objetividades.blogspot.com/

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Cansei. Tô fora.

Não quero mais escrever como Rafael Gloria, cheio de eufemismo e delizadeza da língua, cansei de postar aqui. Fora que ninguém comenta as minhas postagens, acredito que seja porque poucas pessoas entrem nesse maldito blog. Confesso que no começo admirava seu estilo, tentava imitá-lo descaradamente, mas cansei. Um texto deve ser objetivo, direto, conciso. Um texto para não ser lido amanhã, que diga tudo agora. Deve se pegar o fato principal, iluminá-lo e deixá-lo a luz das coisas naturais. Assim como o texto de jornal, assim como uma boa notícia dependurada. Todo mundo deve entender. Esse será o meu maior desafio agora, sem reflexões filosóficas ou existenciais que no final não levam a nada mesmo. Abandono o blog, abandono o meu estilo e me dedico ao cotidiano, ao objeto concreto da realidade. Em breve pedirei para o rafael postar o endereço do meu novo blog, afinal me despeço do blog, mas não perco o amigo, só perco suas influências.

Lucas Felt

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

As minhas mortes

A primeira vez que eu me dei conta que as pessoas não viveriam para sempre eu tinha 7 anos. Já era quase meia noite, e eu não conseguia dormir, vira na televisão que talvez um meteoro acertasse a terra, lá pelos, então distantes, anos 2000. Até esse momento eu pensava que ficaria eternamente com os meus pais, minhas irmãs, meus brinquedos. Por que tudo aquilo deveria acabar? Não seria justo. Meu pai, percebendo minha angústia, me acalmou, falando que seriam somente suposições, não se poderia confirmar, e que ele sempre estaria por perto. Minha mente avoada de criança deixou o assunto de canto – mas aprendera uma lição: todo mundo ficará sozinho em algum momento.
A segunda vez que eu me dei de cara com isso, foi quando estava na quarta série, era aniversário da minha mãe e eu recebi uma ligação de um colega e amigo de colégio. Uma das primeiras notícias mais tristes da minha vida, nossa companheira de sala havia morrido num acidente de carro. Ainda me lembro da minha reação: eu comecei a rir. Primeiro, porque achei que era uma brincadeira de mau gosto, mas depois que confirmei a veracidade de suas palavras, o riso tomou outro rumo, o do nervosismo, o de não saber lidar com a situação. Como uma pessoa que por vezes sentara do meu lado poderia desaparecer de uma hora para outra?
A terceira vez foi quando eu realmente percebi como a morte age, porque foi perto de mim. Ela tinha quase 16 anos, já era velha para o padrão canino, e tudo parecia atacá-la. O tempo, os pêlos, as patas, os medos. Já era a sua hora, e o manto preto rondava a casa, como se escurecesse toda a nossa família. Me lembro nitidamente da última noite, todo mundo sabia que não possuía muito tempo de vida, tentávamos animá-la, fazê-la dormir dentro de casa, dar um cobertor, tentar impedir de alguma forma o final já esperado. Mas ela se recusava. Já era noite, quando de longe a vimos caminhando respeitosamente para o canto do pátio, perto de um aglomerado de folhas caídas da árvore. Ela ali deitou e esperou, como se fosse o destino de toda a humanidade, de cada ser vivo que respira na terra. Nenhum de nós ousou ir atrás para forçá-la a entrar em casa, ela não queria isso, ou melhor, ela não merecia isso. Iria morrer, como escolhera, como tudo no final evacuará: sozinha.