quarta-feira, 30 de junho de 2010

Teoria número trinta: sobre metodologias e improvisações treinadas

Preciso criar uma metodologia para cada tarefa que me surgir. Só assim eu conseguirei preencher todos os meus prazos, entregar todos os trabalhos, organizar a minha vida. Necessito de metodologias para as ações do dia-a-dia também, apertar as mãos de alguém, sorrir (porque alguém disse que sorrir é a linguagem universal), escovar os dentes, afagar algum cachorro.


Quero inventar um sistema em que irei bem em todas as provas, em que todas as coisas planejadas vão dar certo. Nesse sistema totalmente empírico ninguém se confunde: as escolhas estão sempre certas, todo mundo vence os seus medos, e os problemas, certamente, são superados no final. Até surgirem novos problemas, mais difíceis obviamente, mas também superáveis.


A necessidade de criar metodologias também criará a necessidade paradoxal de se criar um método para agrupar diferentes espécies de metodologias. Mais precisamente em campos de aplicação. Exemplo: campo carinho, entra a metodologia de abraçar, beijar, fazer sexo, escrever para a pessoa amada. Campo ódio entraria coisas como: briga na rua, assassinatos, inveja, traição.


A necessidade de se criar metodologias para tudo acabaria se auto-destruindo depois de um tempo, porque nem tudo é agrupável e nem tudo pode ser sistematizado. As ações no dia a dia são assim. A vida é um improviso treinado durante a maior parte. Sistematizamos inconscientemente.

Crônicas de um repórter novato - parte XVIII

Se faz jornalismo para se mergulhar de cabeça na vida dos outros, não? Mergulhar de forma verdadeira, não mergulhar pelos lados, mas por dentro. Captar o que não é dito é uma das coisas mais essenciais em uma reportagem, em um texto, na vida. Dentro dos gêneros jornalísticos o que mais me interessou sempre foi o Perfil.


Porque é lá que você reconhece o outro, e mais, aprende com o outro e capta o que de mais importante essa pessoa pode passar para o futuro público que lerá o texto. É uma pena que muita gente – e muita gente boa – confunda o modo de se fazer um perfil. Em muitos casos, o jornalista perde o foco, achando que esse texto trata-se de uma biografia, quando na realidade deve-se explorar apenas um lado, do perfilado.


Por isso o nome perfil entende-se que a pessoa está de lado, somente um lado dos vários que ela possui. Essa delimitação ocorreu até por uma questão de espaço também, não era possível disponibilizar muitas páginas do jornal para um perfil, imagine então para uma biografia!, só em livros mesmo. No Brasil temos o Ruy Castro, um excelente exemplo de biográfo.


Ambos gêneros são interessantes, dá para comparar o perfil com o conto e a biografia com o romance, guardadas as suas limitações, obviamente. Não vou aqui tentar mostrar como se faz um perfil, até porque não tenho capacidade disso, mas gostaria de levantar essa questão sobre o quanto um bom perfil traz prestígio para uma publicação.


Deixo vocês com um link especial, de um dos melhores profissionais da área no país, o Sergio Vilas-Boas.

Em volta do pescoço



Se eu soubesse pelo menos o seu nome, eu daria um jeito de sair daqui. Já faz alguns meses que eu conheci o mais belo pescoço em que meu corpo já se enrolou. Era sinuoso, fixo e imóvel. Duro e retilíneo como todas as coisas belas deveriam ser, e nossa como ventava. Eu ficava lá, pulando feliz, chacoalhando de um lado para o outro. Diferente de agora, em que não pego nem uma brisinha, que não sou nem mais utilizado. Aposto que aquele pescoço deve estar sentido falta de mim, como eu sinto dele agora.


Era em outro país também, outra situação. O meu dono viajava pela França, quando ele quis tirar uma foto dela, da minha musa. Me apaixonei quando ele me enrolou no pescoço dela e ficamos só nós para a moldura. Nossa, como eu queria parar o tempo, como eu queria ficar.


Será que ela se lembra de mim depois de tanto tempo?


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A ilustração linda desse mês é da Mariana Sirena.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cinzas de mais de uma meia hora - Postagem Temática

"... - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

Pneumotórax de Manuel Bandeira

São os corredores do hospital que fodem com os pensamentos, especialmente à noite, quando ficam praticamente vazios. Não há barulho, nada. Há sim muitas paredes brancas opressoras no caminho para a sala de Raio X. Lá uma senhora não tão senhora comenta sobre como é trabalhar praticamente sozinha em um domingo quase de madrugada. Toda de branco ela me dá ordens de poses forçadas para as fotos dos meus ossos. “Não sei porque vocês têm medo de hospital. As pessoas morrem nessa sala aqui atrás e eu não tenho medo”, diz apontando para mais uma maldita parede branca. Atrás provavelmente se encontra o necrotério do hospital. Ela diz isso com um pouco de riso nos cantos do lábio. Mas ela tem 25 anos naquele espaço e como qualquer pessoa sã se acomodou com a morte. Tento rir do que ela diz para deixar o ambiente mais favorável, mas não consigo abrir a boca o suficiente. E ela não diz mais nada. Não rio também porque a tosse atrapalha a cada minuto, batendo no peito, chutando a minha boca, expelindo ar forçado para fora. Não era só o ar, era também um catarro – ainda branco, mas viçoso – que ficava acumulado na boca, esperando para ser jogado fora. A sessão de fotos acaba e ela me pede para esperar. Esperar meia hora com outros doentes, na sala de aguardo. Uma televisão estava acomodada para divertir os enfermos, nela algum programa de auditório sorteava presentes em um jogo de respostas. Eu incomodava todas as pessoas ao meu redor com as minhas tosses, ofuscando a voz do apresentador. Uma senhora em uma cadeira de rodas me olhava do pé a cabeça, dei algumas olhadelas de canto para ela também. O que se pode fazer. O que se pode fazer contra uma pessoa em uma cadeira de rodas? Não há argumento.


Era meia noite e meia quando o maldito médico começou a chamar os pacientes. Mais de duas meias horas já haviam passado e nada dos meus exames. Ao meu lado uma simpática garota não tirava os olhos de um livro, mal consegui ver o nome, mas era um livro de poemas. O único livro de poemas que eu havia lido era de um tal de Manuel, Manuel alguma coisa, dado por alguma antiga namorada. Mais meia hora e nada, mais meia hora e é uma e meia da manhã.


Meia hora, cadeira de rodas, guria lendo o livro. Sono. E não há ninguém na sala. Ninguém na sala? Ouço uma voz.


“Manuel Bandeira!”


Olho para a sala ao redor só para confirmar que não há mais ninguém. Esse não é o meu nome. Esse é o nome do Manuel, aquele Manuel do meu livro. A porta do consultório está aberta, na televisão agora passa algum culto para evangélicos fervorosos que exorcizavam pequenas almas em busca de paz interior. Vou atrás da porta, porque de qualquer forma não havia mais ninguém por ali e muitas meias horas já haviam passado.


“Olá”, o médico me recepciona manda eu me sentar. Ele tem aqueles estetoscópio pendurado no pescoço. Parece velho e de saco cheio, usa um bigode branco sem barba nas bochechas, só o bigode branco. “


“Então senhor Manuel Bandeira, faça o favor de tirar a camiseta e sentar”, ele diz.


“Meu nome não é Manuel Bandeira”, respondo.


“Tem certeza? É o que está na ficha”, diz.


“Claro que tenho certeza é o meu nome, deixa eu ver isso..” A ficha carregava uma foto dos meus esqueletos e o nome Manuel Bandeira, uma assinatura.


“Diga trinta e três”, ele ordena.


“Para quê?"eu respondo, indignado. O relógio na parede branca em cima confessava o horário: 3 e 30 da manhã.


“Diga trinta e três”, mais uma vez.


Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . .”


“Respire agora, fundo depois solte”.


Fuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmm


“O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.



“Como assim? Não pode ser. Só tenho tosse”



“O senhor tem meia hora de vida”.


“Meia hora de vida? O que posso fazer em meia hora de vida?”


A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”


“Essa não pode ser a única coisa a fazer”, respondo para ele.


“Não, você também pode parar de tossir”


“Posso o quê?”


“Para de tossir!”


A cadeirante está do meu lado me empurrando com força e gritando para eu parar de tossir, e a sala está cheia novamente. Ela reclama que não consegue ouvir o apresentado metido a inteligente e bonito, fazendo perguntas para a plateia na televisão. As pessoas me olham graças a um ataque de tosse, de sono. E então eu volto aquelas paredes brancas cheias de pessoas e com muitas meias horas faltando.


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Sugestão de tema: filme que lhe marcou

sexta-feira, 25 de junho de 2010

de tarde, no meio da tarde.

Sopa toda espalhada.

Cadeira virada com os

pés para cima.



No fundo, há de entender

o que o poeta disse

às 15h30 de um dia,

qualquer dia.


Uma cadeira pode tombar

ao avesso.

Uma colher de sopa pode escorregar

entre os dedos.



De tarde, no meio da tarde.

Ela se despede em

Esq-uem-ati-zad-os

pedaços.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Há muito tempo

Francine G passou horas em frente ao espelho de casa, treinando os movimentos que deveria precisamente decorar. Toda a coreografia já havia sido acertada, todos os passos devidamente acomodados, todos os falsos sorrisos necessários, repassados. Duas da tarde quando chegou ao local da apresentação, horas antes de suas colegas de grupo. Gostava de conhecer bem o ambiente , e, se possível, subir no palco a fim de sentir o tipo de assoalho em que iria desenhar significados com o corpo. Se não houvesse um lugar para se pisar, não se poderia dançar. Ensaiou tímidos passos a uma platéia de cadeiras vermelhas vazias e foi para o camarim para começar a se arrumar. Ao largar sua mochila, com a roupa e as sapatilhas, notou que esquecera de um dos mais importantes itens de sua dança: a corrente escura que carregava em cada apresentação.


Pensou em voltar para casa e pegar a maldita corrente, mas isso seria não lhe daria tempo para fazer a maquiagem ideal, para combinar os últimos acertos com as suas colegas dançarinas. Além disso, morava muito longe, quase do outro lado da cidade. Faltava uma hora quando as outras dançarinas começaram a chegar para as preparações, e Francine G ficava cada vez mais desconfiada de sua performance. Era a primeira vez que teria a chance de fazer um solo naquela companhia de dança. Conseguira o respeito da bailarina chefe após dedicações exibidas, mas graças a falta de corrente no pescoço colocaria tudo para fora. Poderia ser idiota, mas aquele utensílio a segurava dentro de um perímetro de dança e confiança, como gostava de imaginar. Para ela estava tudo interligado: o chão, a corrente, as sapatilhas, o cabelo preso em forma de coque.


Encontrou Lucas Felt na entrada do prédio, já que ele havia combinado de vê-la dançando na quinta-feira. Ela não segurou o pranto, e pediu para que ele fosse rapidamente para a casa dela, buscasse a corrente. Descreveu a jóia , falou aonde estaria, e ele foi atrás, mesmo sem conhecer o apartamento de Francine. Com a chave da casa dela, como se fossem namorados há muito tempo.


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Acompanhe a história:


Meu diálogo com Francine G. --> 10/06/2010

Carta 05 --> 29/05/2010

Notícia que só a rua João Sabiá viu -->17/05/2010


sábado, 19 de junho de 2010

Meia volta

Quatro horas por aí e ela me arrasta para o canto, ela e aqueles lábios de fim de festa. O chão estava pintado com restos de cerveja, de vodka e de algum uísque barato. Meu tênis grudava e colava no maldito piso, mas Isadora parecia firme e convicta, quase me empurrando. “Eu não aguento mais Vítor. Eu não aguento mais, não posso mais namorar contigo”, ela diz gritando no meu ouvido, tornando a música agora apenas um pano de fundo. “Não posso mais namorar contigo, mas eu ainda te amo. Olha aqui, sente aqui”. Ela pega minha mão e joga violentamente ao encontro do seu peito. Aquela pele branca que eu tinha beijado e lambido poucas horas atrás, quando estávamos no apartamento dela. “Olha só como aqui ainda bate, sabe?” E tira a boca do meu ouvido. Faço que não entendo, mas eu já sei o motivo. Isadora tira a minha mão do peito dela e me larga.


Ela veste um vestido preto, curto, deixando um pouco das coxas brancas à mostra. O cabelo ruivo está jogado para atrás, comprido. Dentes perfeitos, amarelados naturalmente. Ela não fumava, mas os dentes eram amarelos. Eu nunca havia percebido aquilo até esse momento. Pequenas sardas pulavam embaixo dos olhos. Não estava braba, parecia triste e decidida. Ninguém estava ao redor para admirar a cena, Isadora sempre foi avessa a discussões públicas. “Não dá para namorar com alguém que só fica olhando para as outras. Toda festa é assim, eu me arrumo toda, e tu aí, olhando para todas as outras gurias da festa, menos para mim. Eu é que sou a tua namorada, seu imbecil”. Olho para os lados, olho para as coxas brancas dela, para as pernas finas e fortes, e me lembro de algumas horas atrás quando elas subiam em cima de mim. Os gemidos. Provavelmente é o que eu mais sentirei falta. Mesmo assim, tento segurá-la e começo a tentar morder o pescoço novamente. “Larga, larga, droga. Não dá mais, não sinto mais vontade. Para quê, se quando eu for no banheiro tu vai tá por aí trovando outra? Passando a mão em outras? Não dá mais, Vítor. Droga”.


Isadora então dá meia volta, olha para trás para tentar me ver e vê que eu estou olhando para ela. Sem querer, ou por irritação, bate com o pé esquerdo em um copo de cerveja esquecido no chão. Dá para observar melhor agora o cabelo ruivo, que passa dos ombros. As pernas brancas indo embora, as pernas brancas milimetricamente moldadas. As pernas branca que me enrolavam. Ela some pela porta. Fico no canto um tempo ainda, alguma música dançante toca na pista. Vários copos de plástico com restos de bebida pelo chão, em cima de mesas bagaceiras. Vou até o bar, encho um copo novo com vodka e um pouco de refri, chego até a pista. Há muitas mulheres lá, novas mulheres. Todas elas dançando loucamente, e loucamente me chamando.

terça-feira, 15 de junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

Poema 29

Eu tenho medo quando ela me abraça

como se fosse a última vez.


A última vez de tantas últimas vezes.


E me desafoga em beijos,

beijos

de

despedidas.


(Todas más concedidas

por ambos os lados,

obviamente)


E é quando a mão dela

suspende da minha

que vejo,

infelizmente,

seus pés alçarem a saída.


É o fim da alegria,

começo da espera

de nova visita.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Meu diálogo com Francine G.

5 – 7 – 4 – 8 – 9 – 2 – 1 – 4


TUUUUM


TUUUUM


- Alô

- Alô..Francine?

- Eu!

- Oi...é o Lucas...tudo bem?

- Lucas! Olá, tudo, tudo! Recebeu minha carta?

- Sim, recebi, na verdade acabei de receber. Fico triste pela foto.

- Ah, tudo bem. Tiraremos outras.

- Claro..Olha só, o que fará quinta?

- Quinta quinta...quinta que horas?

- Quinta à noite.

- Hum...ah, vo tá ocupada!

- Que pena...

- Por quê?

- Ah, pensei em fazermos algo..você disse que se mudou há pouco tempo...

- Mas vem comigo na minha ocupação..

- O que você irá fazer?

- Dançar.

- Dançar? Como assim?

- Meu grupo de dança se apresentará, e o senhor está convidadíssimo!

- Estou?

- Sim, te vejo lá quinta feira às 19h. Ok?

- Ok, então. Quanto é? Aonde?

- Ah, não se preocupe, só me procure por lá que eu dou um jeito de te colocar para dentro...é no Teatro da Rua XVI

- Não sabia que dançavas..

- Pois, é..e eu ainda não sei o que você faz..

- Ah, não é nada demais.

- Quero saber tudo, mas pessoalmente..Olha só, tenho que ir para o meu ensaio, nos vemos quinta então?

- Com certeza. Beijo!

- Beijo, até!


TUUUUM


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Acompanhe a história:


Carta 05 --> 29/05/2010

Notícia que só a rua João Sabiá viu -->17/05/2010


domingo, 6 de junho de 2010

Enfim, casados - Postagem Temática

Juninho sempre fica vermelho quando chega perto de Paulinha. Vermelho que nem a cor da camiseta que usa. Gosta dela tanto quanto gosta de dormir até tarde, ou de comer massa na casa da avó todo domingo. “Ela parece raio de sol”, disse para o melhor amigo um dia sobre a Paulinha. “Me esquenta todo”, complementou.


Não sabia como agir ao ver a coleguinha do colégio, alguma coisa o impedia de dar oi, ou convidar para brincar. “Será que ela gosta de jogar bola?”, se perguntava. Para logo depois lembrar que era coisa de menino. Percebeu que ela adorava brincar de casinha com as amigas no recreio, e refletiu obviamente que se tratava de coisa de menina.


Foi matutando durante a aula de português, olhando de canto para os cabelos lisos e compridos todos delicadamente penteados de Paulinha, que decidiu de uma vez por todas tentar algo nesse recreio. Quando a chata da coordenadora tocou a campainha, ele estufou os peitos e seguiu em riste.


A menina brincava no pátio junto com as amigas fingindo que estavam organizando as suas casas. Eram cerca de quatro meninas que, naturalmente, tinham menos vergonha do que os meninos. Paulinha orientava as outras de que o chá estaria pronto em breve e que todas poderiam tomar. Juninho se aproximava, prestando a atenção na conversa das meninas, e ficando cada vez mais vermelho.


Estancou em frente a elas e, com dificuldade, a chamou: “Paulinh...errr”. Surpresa, a menina que raramente havia escutado a voz do colega respondeu, “O que foi, Juninho?”. “Eu trouxe o pão para o chá”, disse levantando a mão e fingindo que trazia uma sacola cheia de pequenos pães. Ela então entendendo a brincadeira, e ele então vermelho e com o braço direito levantado deu sorte. “Obrigada, esposo, ela respondeu, você quase se atrasou para o chá, olha, nossas visitas já estão em casa. Você já guardou o carro? (...)”


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Esse post participa do projeto Blogsintonizados, o tema dessa edição é casamento. Entre no blog e confira as outras postagens sobre o tema.


Sugestão: Meia hora

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tarde da noite

“Me passa um cigarro”, ele disse, depois de transarem duas vezes e se deitou do lado dela na cama de solteiro. “Me passa um cigarro e desliga a luz”, atirou novamente. “Não vou desligar a luz, to cansada e quero te ver fumando, você fica mais charmoso e eu fico mais excitada”, ela respondeu. Era uma hora da manhã e a luz brigava com a noite. “Você ainda quer ficar excitada?” respondeu surpreso abrindo a carteira de cigarros, e pegando o isqueiro vermelho. A primeira tragada trouxe a sensação de liberdade, agora precisava andar um pouco. “Você sempre me deixa excitada”, ela respondeu.


Encontrava-se parcialmente nua, sem calcinha. O sutiã escondendo os peitos contribuía para o quadro erótico. “Aonde você vai?”, perguntou o vendo caminhar até a cozinha, ele sim completamente nu. “Vou fugir e te deixar para sempre”, respondeu. Ela riu, mas resolveu sentar para cuidar sua caminhada. “Não quero que você me deixe para sempre. Permito que me deixe até amanhã, ou no máximo durante uma semana”, reclamou com uma cara de seriedade repentina.


A fumaça do cigarro pairava sobre o pequeno apartamento dela. “Ok”, ele disse e o que se ouviu depois foi o barulho do refrigerante sendo aberto. Dois copos borbulhavam loucamente e se acalmavam. “Você provavelmente deve ser o único homem no mundo que oferece Coca para a namorada depois de fazer sexo”, diz. “Chique, não?”, ele respondeu deixando um riso aparecer no rosto. “Será que você ainda tem chance de ficar excitada?”.


“Baby, você sempre me deixa excitada”, escapou, apagando as luzes.