quinta-feira, 29 de maio de 2014

Vai surgir

Os olhos serpenteiros esverdeados vão esboçar a incontrolável vontade. Vai subir pelo corpo e rondar o ambiente, contornar o seu rosto e sucumbir no cabelo cheio de volta - se perder nele, se jogar nele. E vai esperar. O silêncio surgir quando se fica quieto em dois. É o momento sem palavras mais importante do mundo. É o tempo mais calmo e estrangulado. Esse que precede a boca, a sua boca na minha. Toda essa vontade em contratempos de tempo é promessa de se tornar experiente em cruzados encontros das esquinas dos nossos corpos. Escalando todos os beijos imaginados e perdidos. Todos os ensaios de silêncios anteriores, só para este. Só para este. Surgir.

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segunda-feira, 19 de maio de 2014

De repente, quatro anos

Há quatro anos a gente se reunia num apartamento pequeno e cheio de afeto em uma rua do Bom Fim. Não me lembro exatamente como tava o tempo – o céu totalmente nublado, talvez.  Sei que era dia 16 de maio de 2010, eu ainda era estudante de jornalismo na faculdade de comunicação da Ufrgs e estagiava na editoria de cultura do Jornal do Comercio. Eu tinha viajado para São Paulo a fim de participar do Congresso da Revista Cult e retornado com várias ideias, sempre elas. Estava empolgado, porque sou uma pessoa um tanto quanto passional, e então comecei a procurar outros seres passionais, ou não, que eu sabia que poderiam se interessar com a proposta de trabalhar com jornalismo cultural. Todos nós assinamos uma folha que reproduzo em seguida.



Eles compraram a ideia e, de repente, as reuniões foram se tornando mais frequentes. Foi-se discutindo o conceito, foi-se pensando no layout, foi-se escolhendo um nome. E, do nada: Nonada. E, de repente, já se tinha uma data para o lançamento (um pouco mais tarde, no dia onze de setembro), de repente já se tinham problemas com prazos, de repente pessoas saíram e outras pessoas entraram. Nós não sabíamos o que estávamos fazendo no começo, principalmente em termos de vender um produto. Todos nós éramos jornalistas e pensávamos basicamente na produção do conteúdo, da matéria, do enfoque. Foi um erro em termos mercadológicos, eu admito sem nenhum constrangimento. Porém, a qualidade das nossas matérias ao longo desse tempo não fica atrás de nenhuma grande publicação da área, principalmente aqui do Sul do País. Pode soar pretensioso, e é, mas eu confio tanto nessas pessoas com quem trabalhei, que atesto isso.

O Nonada, entretanto, acabou sendo maior que todos nós que passamos por ele. E olha que, de diferentes colaboradores, nós já atravessamos a marca de sessenta pessoas (acho, não sei, talvez eu não tenha contado direito). Do começo do site, mas eu digo do começo mesmo, daqueles seres calorosos que estavam lá naquele apartamento no Bom Fim naquela tarde de maio, não há mais ninguém. Alguns nem em Porto Alegre estão mais. Outros largaram o jornalismo. Outros sumiram.  Mas o Nonada não sumiu, porque eu estou cada vez mais convencido de que eu não sei fazê-lo sumir.

E, claro, é minha culpa, eu admito. Porque o Nonada também sou eu, ou eu me confundo com ele. É para onde eu volto sempre, meu porto seguro do jornalismo, que me conectou a várias pessoas, que me levou interagir com diferentes conhecimentos e, o mais importante, que ajudou a definir a minha vida .  Eu aprendo tentando, eu tenho ideias a partir de diálogos e trocas. O Nonada proporcionou isso tudo para mim, porque me fez entrar em contato com algumas  pessoas incríveis. E tenho certeza que não é só eu que me sinto assim em relação ao site.

Atualmente, estamos retornando com um novo layout (quase pronto), temos um programa semanal de rádio web, temos uma equipe pequena, mas empolgada e que está trabalhando para trazer mais pessoas e mais novidades ao site – sempre com o mesmo espírito de travessia. Estamos com uma nova proposta de divulgar e trabalhar com a cobertura de artistas novos. Queremos fazer a cobertura crítica de produtos culturais, algo que sempre fizemos bem.

E é bom sentir toda essa vontade novamente.

Quero fazer uma série de entrevistas com jornalistas da área cultural para entender a lógica de cada um e mostrar o seu trabalho para o público. Quero entrevistar escritores. Quero entrevistar desenvolvedores de jogos digitais. Quero entrevistar artistas de rua, quero entrevistar economistas da área da cultural. Quero ter conversas com pessoas que têm ideias diferentes da minha. Quero entrevistar cineastas cults e os não cults. Quero entrevistar músicos de qualquer tipo. Quero escrever sobre o cinema de Hollywood e também sobre o cinema produzido por estudantes. Quero conhecer vocês a partir do Nonada, e quero que vocês conheçam a gente por lá também.


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domingo, 4 de maio de 2014

Mundo

Hoje acordei era alta madrugada.
Tu ainda dormia.

As pernas entrelaçavam-se com o lençol.
O lençol não mais existia.

Teu rosto farol  iluminava a noite,
contornei as linhas da encosta
descobrindo novos mundos.

Nosso novo mundo.

Tua boca brasa contorcia
elixir de ar e
eu era todo átomo
toda partícula

dessa paisagem.

Teu seio manso que me acalma
a volúpia externa.
Tua voz trêmula no ouvido.

Eu sou um pouco disso -
da tua madrugada,
do teu corpo na cama.
No quarto,
no mundo.

O mundo desaparece.