domingo, 31 de julho de 2011

Esconde esconde

Ao deslizar as mãos,
as pernas fecham,
mas você abre.

Ao encontrar o mel,
você foge
mas eu prendo.

E devagar a gente
combina os movimentos
todos ritmados:

Quem vai
Quem vem
Quem vai
Quem vem.

domingo, 24 de julho de 2011

Exceto você

Há um monstro em mim

e ninguém pode ver.


Ele já sabe que perdeu,

não tem mais chance de recuperação.


Entretanto, ainda

se esconde aqui,

excluindo-me momentaneamente.


Tomando forma

apenas ao lhe ver.


É quando desperta rancoroso,

aplicando os golpes mais

baixos possíveis.


Não é que ele consegue lhe deprimir toda vez?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

em dinheiro

Bota no crediário

a gente vai pagar aos poucos


e aos poucos

roubar afeto do mundo.


Esquece o que eu te disse.


Só tenho cheques,

época difícil.


Olha assim, não.


É, afinal, mais garantido se pagar por amor

que perseguí-lo.


“Prefiria ter uma doença no fígado,

do que deixar

você me comer toda à noite

mas

mas

só aceito dinheiro

e você sabe disso”

terça-feira, 12 de julho de 2011

Caía água na conversa de Ramon e Anita

Meia noite e meia de segunda feira, quando, na cama mesmo, eles decidiram falar sobre o relacionamento. Estranhamente, foi ele que começara.

“Precisamos conversar, não sinto as coisas mais tão bem, quer dizer, não sinto mais as coisas tão assim...você sabe...”. Com as mãos enroladas no cobertor, ele tentara continuar a explicação, sem sucesso. As palavras surgiam em sua mente, mas desordenadas, incógnitas que ele precisava adivinhar. Era difícil e galopante, tal qual uma pessoa tentando montar em um cavalo arredio.

A chuva começara, e enquanto ele se desdobrava para tentar explicar o que estava querendo dizer, Anita só conseguia pensar se tinha esquecido alguma roupa no varal. O som da chuva espancando lentamente o telhado não lhe dava espaço para pensar em Ramon. Finalmente, após uns três minutos de repetições e de ideias circulares, ele soltou algo que a incomodou:

“Tenho medo que seja assim para sempre”.

Só escutando, sem esboçar nenhuma reação, Anita finalmente vira para o outro lado a ponto de encará-lo, mesmo que na escuridão do quarto. A chuva agora aumentara, se havia roupa no varal não importava mais, já estariam molhadas mesmo.

“Medo?” As telhas começavam a fazer um barulho estranho. “Não sei do que você possa ter medo”. A garoa que havia virado chuva agora virava tempestade. “Medo da rotina, medo de passar o resto da vida com a mesma mulher?”.

A tempestade logo venceu a casa, levantando parte das telhas que ficavam bem em cima da cama do casal, deixando água entrar. Mas eles nem deram bola. O jato de chuva caindo diretamente sobre os dois não impediu que Anita tirasse a aliança e jogasse no chão. “Anita, não exagera, não faz isso, não faz isso assim, não assim”, gritou .

Caminhando para fora do quarto, ela foi na rua tirar as roupas do varal, chorando baixo, com raiva dele e de si. Mas, lá no fundo, o mesmo pensamento martelava na cabeça:

“Será sempre a mesma coisa? Para sempre?”

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Fica, Fica

Diz que vai embora e

atravessa a sala toda torta.


Escorrega a mão

até a maçaneta

da porta.


Unhas, lábios, maquiagem a fazer.


Larga.

Espera, olha


para perceber.


“O que sobrou para nós?”


Nada para sustentar,

porta retratos com verdades

que ninguém vai comprar.


Hora é agora para não continuar

mas por que a cabeça

responde:


“Vai ficar, vai ficar”