terça-feira, 9 de julho de 2013

Sentir-se

Neil Young toca nas caixas de som. É pouco mais de duas horas da tarde. Estou acordado há umas oito horas, quase.  Um pouco menos.  O sol está forte lá fora. E tem um monte de livros sobre a minha mesa. Eu os peguei ontem na minha antiga faculdade. A gata chega perto do meu pé, meu pé que mesmo com meia, está gelado. Ela sai agora, caminha, se apoia nos livros e esboça se deitar, mas desiste.  No meu quarto não bate muito sol, e ela prefere o sol. Quem não prefere?

Estou dando um tempo entre o almoço e o voltar a estudar. Na verdade, sinto que estou dando um tempo há certo tempo, para ser redundantemente explicativo. Foi preciso para voltar a acreditar nas minhas possibilidades, nos projetos, para tentar abrir um caminho em toda essa confusão que foi o semestre passado. Não gosto de papo de autoajuda, ou, pior, autoafirmação, mas é preciso tomar uma atitude quando você chega a certas encruzilhadas.

Vai ficar e desistir? Vai continuar em barco que só promete afundar? Vai deixar ir?

Há tempo que eu estava perdendo para mim mesmo, deixando passar oportunidades por achar que eu não seria simplesmente capaz de fazer. Quando, em outros tempos, eu tirava de letra. Não cheguei a essa encruzilhada por nada. Ao me formar jornalista,  profissão que continuo admirando, percebi certa distância do meu pensamento com a lógica do mercado dominante (fato que, obviamente já crescia forte em mim, mas depois de formado, floresceu). Somado a isso o fim de um relacionamento (não quero entrar em detalhes aqui para não tirar a privacidade de ninguém), me levou a uma pequena grande crise do homem comum formado há pouco tempo. Meu primeiro semestre todo foi de retomadas, de reconscientizações, de nutrir impulsos para descobrir ser capaz de apostar novamente em mim. E, desse modo, sair da minha concha para voltar a minha função – mesmo ainda não sabendo bem qual ela é.

Não necessariamente ser forte, mas se sentir forte..., como diria o protagonista (baseado em personagem real) de “Na Natureza Selvagem”. Um cara que queria viver simplesmente, desraigado da sociedade em que não compartilhava dos mesmos ideais. Talvez o segredo seja por aí: sentir-se capaz de mudar a sua profissão, a sua rotina, a vida. Ainda mais em um momento em que se luta cada vez mais por mudanças sociais, acho que todos nós passamos um pouco por uma crise de identidade, uma crise em que em alguns pode se agravar ainda mais, e que, em outros, pode não afetar quase em nada o comportamento. Em mim, balançou, admito. Fiquei paralisado por muito tempo até conseguir me retomar – ainda estou, é verdade, no processo, ainda estou “entre” muita coisa. E isso não é algo fácil de admitir, mas é só admitindo que se torna vivo, que os problemas aparecem na nossa frente e conseguimos combatê-los. É só assim que, sei lá, você consegue andar, consegue pular do barco afundando, todas essas metáforas bobinhas, mas necessárias.

Eu ainda não sei exatamente  o que vai ser, mas eu sei que está um pouco a minha frente. Estou quase alcançando, já dá até para ver. Talvez, estivesse lá o tempo todo e eu não vi. Talvez, seja algo totalmente novo. Só sei que será diferente de agora, e isso já é alguma coisa por que se vale lutar.