terça-feira, 31 de março de 2009

Teoria número quinze: sobre a supervalorização do sono e o presente que é a vida

Vou contar uma ideia que tive há certo tempo. Não sei se vocês sabem, mas acredito que o sono é superestimado. É verdade que precisamos dormir, mas não durante muito tempo, talvez cinco horas seja o máximo realizável. Não, não estou louco. A verdade é que dormir é uma maldita perda de tempo. Ou melhor, quase um castigo. Pois é. Em algum ponto da nossa criação Deus disse, “vamos dar a esses reles humanos uma plena vida, mas eles não poderão viver cerca de um terço dela”. Isso numa visão católica, cristão, enfim. Desculpe Deus, mas eu tenho problemas com figuras de autoridade.

Foi mal.

O sono é sim superestimado, um maldito castigo para o nosso corpo. Não temos direito a ficar cansados, não mesmo, até porque estamos de passagem curta pela terra, e o pior, não sabemos o nosso futuro. Logo, a vida é totalmente presente, totalmente agora, totalmente as ações que você faz, as coisas que você diz. Então, seja verdadeiro para não ficar perambulando de sono por aí e realmente entender que a vida é só presente – e como isso pode gerar um presente de vida (desculpe os trocadilhos infames)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Crônicas de um repórter novato - parte III

Que se foda o diploma. Ando lendo vários tipos de argumentos e não sei mais qual é a minha opinião. Sei que a votação pela obrigatoriedade ou não do canudo será quarta feira agora, no dia primeiro de abril. Dia dos bobos. Engraçado, não? Muito engraçado, principalmente se a obrigatoriedade cair, poderemos soltar várias piadas com relação ao tema. Pois é assim que acaba a maioria das discussões no Brasil, em piada. Aposto que essa votação não dará em nada, e será mais uma vez adiada, ou qualquer uma dessas burocracias. Ninguém nunca faz porra nenhuma a respeito mesmo.

A vida é irônica.

Ou vai dizer que vocês não sabem que a exigência de curso superior para jornalistas é uma criação da ditadura? Pois é, na época qualquer pessoa poderia emitir seu jornalzinho, escrever qualquer coisa, o que deixava os militares irritados. Para se livrar da esquerdalha militante, ou constranger aqueles jornalistas que não tinham diploma e que em sua grande maioria eram opositores do regime militar eles resolveram baixar o decreto-lei 972/69, que regulamenta a profissão do jornalista.

É realmente de se matar de rir.

O que eu não acho correto é ver historiadores escrevendo sobre guerras, ou almejando fazer reportagens sobre temas políticos, assim como economistas querendo falar sobre como anda a bolsa de valores com o seu jargão de economista, ou qualquer outra pessoa de qualquer outra faculdade querendo fazer uma mediação, mas não se livrando dos seus problemas técnicos. Isso não é o trabalho deles. Eles não pensariam no leitor, pensariam como os acadêmicos chatos e enrugados que – em sua grande maioria – são.

É o maior ponto negativo que me vem a cabeça.

No mais, qualquer um pode escrever uma notícia depois de treinar bastante, fazer um curso técnico. Um ator pode virar um repórter? O fantástico já não faz isso toda semana? Daqui a pouco todas as pessoas do Brasil serão jornalistas, e poderemos trocar informações melhor, o diploma talvez caia mesmo. Seremos todos pessoas bem informadas, super cool, super fashion.


Atualizado dia 10/04: Acabou em pizza mesmo.

terça-feira, 24 de março de 2009

Olha pra nós

- Olha pra nós. Nem parece que faz sete anos. É, há sete anos que você pegou aquele avião, sobrevoou o mar e chegou a velha terra. E olha para você. Sete anos e eu nunca disse uma palavra. E eu te reconheço assim de frente. Ou melhor, de lado, de perfil, de cabelo liso, de lábio grande. Você não mudou nada. Sete anos. Olha para mim, eu também não mudei muita coisa. Mas como estará nossa cabeça? Nem dá para acreditar. Quando eu te vi agora há pouco, na fila do aeroporto, foi quase como mágica, como uma daquelas cenas que se assiste em filmes de comédia romântica, mas que não acontecem na vida real. Mentira. Acho que esse momento é a prova que isso pode ocorrer. Sete anos e eu ainda me descubro apaixonado. Não, não quero que você diga uma palavra. Esse momento é só meu. Quero provar de cada segundo que não falaremos nada.

- ....

quinta-feira, 19 de março de 2009

Para o poeta

Clique em cima do poema para uma melhor leitura. Estou colocando alguns poemas que escrevi ao longo de certo tempo, e publicando no formato original. Se não entenderem a letra, perguntem-me, por favor. Obs: primeira "imagem" do Contagens, embora seja uma imagem de palavras. =)



terça-feira, 17 de março de 2009

ao meio dia

Largou a maleta no meio fio da calçada, sentou com pés para a rua, afrouxou a gravata, cavoucou os pés no sapato e descansou: já havia assassinado Rodrigo Alberto. E não sentira remorso em nenhum momento. Talvez ele nem merecesse, talvez fosse bandido ladrão assassino traficante de morro drogado. Ou de repente pudesse ser pai de família, três filhos carro semiusado na garagem e inúmeras contas no banco – ainda a pagar. Tudo o que ele tinha conhecimento sobre o senhorio era apenas o nome e a foto. O dinheiro que recebera pelo serviço ainda estava na maleta marrom, torrando no sol do meio fio. Sua cabeça também, os neurônios e os pensamentos esfumaçados. “Era Rodrigo Alberto ou Alberto Rodrigo?”. Essas coisas quase nunca importavam. Todos acabariam virando números mesmo. Fugiu da dúvida, segurando a maleta e surrupiando-se calmamente da calçada. Por trás da cena, uma igreja marrom preenchia o cenário. O padre batia o sino e poucas pessoas juntavam-se para orar.

domingo, 15 de março de 2009

Com unhas e dentes

Eu fiz a escolha errada.

Mas eu não vou mais fugir da única coisa que sempre me interessou na vida e o motivo pelo qual eu resisti a anos de escola, a centenas de diferentes professores, a inúmeras cadeiras: o ato de escrever. Não escrever periodicamente num jornal qualquer sobre coisas banais do cotidiano. Não distribuir pautas que não me interessam em nada. Escrever para imaginar, para incitar, incomodar. Escrever sobre as pessoas, de modo único a fazê-las pensar no que lêem. Não desejo que o meu texto seja um quebra cabeça chato como é o jornalismo, onde se deve só preencher as peças nos lugares certos. Marcar o horário, perguntar o que interessa e voltar para casa. Não. Não. Não.

Quero escrever como um escritor faz, ou como deveria fazer: as palavras não servem para ser admiradas, servem para dizer. Não servem para brilhar como diamante falso e sim para explodir como dinamite escondida. Demorei um tempo para perceber o que eu realmente gostaria da fazer. Minto, na realidade eu sempre soube, mas a partir de agora vou agarrar essa ideia com unhas e dentes. Vou torná-la minha parente, prometo não sossegar enquanto não conseguir meu objetivo.

Eu sou um escritor. E prometo honrar essa palavra de oito letras, mas de muitos significados.

quarta-feira, 11 de março de 2009

— Casa comigo?

— O quê?
— Ahn...nada...nada.
— Não, não. Fala de novo!
— Mas não é nada demais...esquece.
— Se não é nada demais, por que tu falou então?
— Foi algo rápido, fugiu, caiu da boca...
— Pára, chega de enrolar, Gilberto! Droga, tu sempre faz dessas.
— Mas...mas..
— Meu Deus! Como posso continuar com esse idiota? Tão fraco, sempre se arrastando quando fala!
— Olha, Isabel, me deixa quieto, tu sabe como eu sou...nunca reclamo das tuas ofensas...tu anda muito rabugenta, tão nova e tão chata desse jeito.....
— Viu, viu? É sempre assim, tu começa falando alto, até parecendo homem de verdade, mas no fim vai diminuindo...murmura, parece que ta falando com a droga de uma parede. Que raiva! Não aguento mais, já são dois anos nessa lenga lenga. Só eu para te suportar mesmo...
E eu vejo a casa toda soando como uma grande briga, e todos os pequenos animais que lá vivem parecem ter combinado de se desentender. Os periquitos azulados bicam, arranham os de coloração mista verde-amarela, confrontando-se numa batalha que não tem sentido, justificada, talvez, por um instinto acima de ambos, que os infesta e os contagia. O pequeno cão, também, sente-se meio tonto, latindo alto, uivando, correndo, jogando-se contra a parede, enfrentando a sua sombra. Até os ácaros no sofá velho da sala guerreiam, formado uma grande disputa, talvez uma eterna batalha por território, justiça e vida. O fraco do Gilberto fixa os olhos em Isabela, e depois os tira rapidamente, colocando-os no sofá, como se pudesse ver, também, a grande guerra dos diferentes tipos de ácaros, e então, sempre calmamente, fala:
— Olha, por que tu não relaxa antes de dizer algo, é necessário ficar tão irritada assim? Poderia ao menos medir as palavras, até parece que sou um grande covarde ou algo do tipo...
As palavras só pareceram irritá-la ainda mais, de alguma forma, Isabela sempre vinha com respostas que o machucavam, aborrecendo o constantemente. O papo desprevenido de Gilberto, realmente, nunca adiantou.
— E não é? Sempre sem jeito, de canto em tudo, parece a bosta de um pombo comendo as migalhas dos outros...nem vou falar do que você faz para ganhar dinheiro, né?
- O que tem a droga do meu trabalho?
Ta certo que o trabalho dele não era grande coisa, mas era um trabalho. E quanto a ela, que não fazia nada, sempre pintando as unhas e colorindo a cabeça como se fosse filha de madame.
- Você ainda chama aquilo de trabalho, olha pro Alexandre, aquilo que é trabalho. Aquilo que é ganhar dinheiro...
- De novo esse cara, sempre mete ele no meio, não me compare com esse cara, não me compare com esse merda...
Alexandre. Sempre ele. Olha a roupa do Alexandre, olha o carro novo do Alexandre, olha a carteira cheia de dinheiro da porra do Alexandre. Olha os músculos dele, olha a cara de quem estudou mais dele. Olha o cheiro que ele exala. Olha o sorriso publicitário de anúncio de margarina do Alexandre.
- Mas ele sabe o que fazer.
- Como assim? Sabe fazer o quê? Transar contigo? Te beijar melhor? Te dar mais dinheiro e roupa?
- Ele sabe o que fazer. Da vida, em tudo.
- Como você sabe que ele sabe fazer tudo bem?
A minha raiva por essa mulher só aumenta, aliás, nunca gostei dela, desde que Gilberto pousou os olhos nela, eu fechei os meus. Nunca gostei de ser mandado.
- Não sei, mas imagino, um homem assim não se encontra todo dia...
- Chega! Cala boca, droga, não sei como tinha a intenção de me casar contigo....
- O quê?!
- Isso mesmo, eu aqui, não a merda do nosso vizinho, queria casar contigo, mas eu realmente não sei mais o porquê.
- Eu não mereço um pedido de casamento assim. Droga, esse momento não era para ser assim, e muito menos com um homem como você..
Tá, agora eu vou me apresentar, por que... Bom, não sei, porque chegou à hora. Eu sou a raiva trancada do Gilberto, analisando tudo há anos. Narrando para mim todos os acontecimentos, guardando cada palavra dura e descabelada no meu subconsciente. Ele nunca me liberou, mas agora, bom, agora...
- Vaca! Saí da minha casa, cai fora, cadela, some! Desaparece antes que eu acabe contigo, pega esses teus trapos de vadia e se manda.
- O quê? Cala boca que tu não é homem dis...
Ela não consegue terminar a frase, o meu punho fechado impede, soqueio loucamente a boca, o lábio inferior desliza nos meus dedos fechados. Anos de ódios controlados. O sangue cobre o chão e ela cai amaldiçoando o mundo. Seguro pelos braços, forço o pescoço para a frente, abro a porta e a enxoto.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cotidiano

As pessoas cagam uma na outra na rua, enquanto deslizam os pés no concreto. As pessoas se despedaçam e se despedem sem querer. As pessoas se fodem por outras pessoas, porque são pessoas. As pessoas olham as bundas de outras pessoas e fazem comentários ruins. Olham as roupas de outras pessoas e as julgam pela aparência. As pessoas gozam do sotaque de outra pessoa só porque ele é diferente. As pessoas são ausentes. As pessoas nunca estão presentes no momento certo. Há pessoas que se embebedam e batem o carro. E há pessoas que realmente admiram isso. As pessoas não precisam de outras pessoas. Só precisam do espelho de uma pessoa. Há pessoas que cagam em outras pessoas. Há pessoas que iludem outras pessoas. Pessoas mentem para outras pessoas. Há pessoas que morrem para outras pessoas.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Das mãos

"O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja"
Augusto dos Anjos


10 para as três da manhã. O táxi movia-se rapidamente pelas sinaleiras, parecia não haver diferença entre as três cores: todas teriam firmado um acordo de livre passagem. Carina sentava sozinha no banco de trás. Ela, a bolsa, a roupa e os pensamentos. O cheiro da bebida e dos cigarros emanava sob a pele, como um suor que escorre depois de uma corrida desnecessária.
Em meio a tontura que a vodka lhe aplicava, perguntou para o táxista, “Já estamos perto, moço?”, baixando a voz devagar e entoando o som do vocativo como se tivessem uma longa cumplicidade. Não obteve resposta. Ou melhor, conseguiu notar, mesmo embriagada, que o carro diminuía gradativamente a velocidade. Ora entrando em ruas que ela nunca havia passado, ora quase parando e, em segundos, acelerando bruscamente.
Ela não conseguira ver o rosto do motorista. Sua posição impossibilitava a vistoria dos seus olhos; podia ver as mãos: brancas, delicadas e de aparência surpreendentemente limpas. Isso a deixou tranqüila por um tempo, talvez fosse um taxista iniciante, inexperiente. Misturou-se com o estofado e sentiu que precisava de um cigarro, mas não tinha fogo. Seus olhos abriram arregalados quando a mão vinda da frente esticou um isqueiro. Ela sorriu. A mão foi embora.
Passou a criar uma confiança com aquelas costas, cobertas com uma camiseta escura, assim como a mão branca, amiga, convidativa. Logo, relaxou, passou a pensar no trabalho, na roupa que iria vestir amanhã e também tinha a estranha saudade de quando era criança, de sua irmã mais nova que não via há tempo. Por onde andaria? O sono vem com as lembranças. A cabeça respondia a cada pensamento com uma leve inclinação para a janela fechada. Um travesseiro improvisado. Mas ainda não dormia.
De repente o motor parou. Meio tonta não conseguia se mexer direito. Alguém abria a porta ao seu lado. Palavras foram sussurradas, mas não chegaram ao seu ouvido. Tomada pelo ombro, primeiro com gentileza, depois a segurando com força, comprimiam sua boca, a puxando com violência do carro.
Carina se sacudia e tentava gritar, seu corpo pequeno, o salto alto preto, a calça jeans justa, a maquiagem, nada disso ajudaria. Um pano molhado invadia suas narinas. Podia ver a mão do homem, também delicada, branca. As mesmas mãos. “Por Deus, as mesmas mãos?”.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Dados, balanços e confissões...

Mantenho desde primeiro de Setembro do ano passado o programa Google Analytics no meu blog. Uma ótima ferramenta para acompanhar quem acompanha o seu blog. São várias informações: quantas pessoas acessam por dia (e conseqüentemente por mês, por ano, enfim), a cidade em que elas acessam, ou qual meio de linkagem elas tomaram para acessar. Fascinante e motivador no sentido de tomar conhecimento que alguém realmente lê o que você escreve. E todo mundo gosta de ser lido, caso contrário não faria um blog, não escreveria periodicamente.
Posso dizer com certeza que esse programa influência na minha vontade de atualizar o site. De melhorar em algumas postagens, de tentar observar alguns erros. Decidi postar alguns dados referentes ao período desses seis meses, talvez como um registro e um balanço do Contagens.
Desde o dia primeiro de setembro, houve 1,898 visitas oriundas de 15 países diferentes (obviamente o Brasil foi o maior disparado com 1,844 visitas, seguido por Portugal com 31 e México com 20). As cidades com mais visitas foram Porto Alegre (obviamente de novo) com 1,219 visitas seguida por São Paulo com 225 visitas e o Rio de Janeiro com 52.
Dados que considero ótimos para um blog que não vende nada. Não é jornalístico, não trata da minha vida pessoal, não traz dicas ou informações importantes para as pessoas. Só o que sempre propus foi a reflexão, a partir de algumas histórias e pensamentos. E isso se tornou uma das atividades mais importantes para mim.