terça-feira, 17 de março de 2009

ao meio dia

Largou a maleta no meio fio da calçada, sentou com pés para a rua, afrouxou a gravata, cavoucou os pés no sapato e descansou: já havia assassinado Rodrigo Alberto. E não sentira remorso em nenhum momento. Talvez ele nem merecesse, talvez fosse bandido ladrão assassino traficante de morro drogado. Ou de repente pudesse ser pai de família, três filhos carro semiusado na garagem e inúmeras contas no banco – ainda a pagar. Tudo o que ele tinha conhecimento sobre o senhorio era apenas o nome e a foto. O dinheiro que recebera pelo serviço ainda estava na maleta marrom, torrando no sol do meio fio. Sua cabeça também, os neurônios e os pensamentos esfumaçados. “Era Rodrigo Alberto ou Alberto Rodrigo?”. Essas coisas quase nunca importavam. Todos acabariam virando números mesmo. Fugiu da dúvida, segurando a maleta e surrupiando-se calmamente da calçada. Por trás da cena, uma igreja marrom preenchia o cenário. O padre batia o sino e poucas pessoas juntavam-se para orar.

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