Ela veste um vestido preto, curto, deixando um pouco das coxas brancas à mostra. O cabelo ruivo está jogado para atrás, comprido. Dentes perfeitos, amarelados naturalmente. Ela não fumava, mas os dentes eram amarelos. Eu nunca havia percebido aquilo até esse momento. Pequenas sardas pulavam embaixo dos olhos. Não estava braba, parecia triste e decidida. Ninguém estava ao redor para admirar a cena, Isadora sempre foi avessa a discussões públicas. “Não dá para namorar com alguém que só fica olhando para as outras. Toda festa é assim, eu me arrumo toda, e tu aí, olhando para todas as outras gurias da festa, menos para mim. Eu é que sou a tua namorada, seu imbecil”. Olho para os lados, olho para as coxas brancas dela, para as pernas finas e fortes, e me lembro de algumas horas atrás quando elas subiam em cima de mim. Os gemidos. Provavelmente é o que eu mais sentirei falta. Mesmo assim, tento segurá-la e começo a tentar morder o pescoço novamente. “Larga, larga, droga. Não dá mais, não sinto mais vontade. Para quê, se quando eu for no banheiro tu vai tá por aí trovando outra? Passando a mão em outras? Não dá mais, Vítor. Droga”.
Isadora então dá meia volta, olha para trás para tentar me ver e vê que eu estou olhando para ela. Sem querer, ou por irritação, bate com o pé esquerdo em um copo de cerveja esquecido no chão. Dá para observar melhor agora o cabelo ruivo, que passa dos ombros. As pernas brancas indo embora, as pernas brancas milimetricamente moldadas. As pernas branca que me enrolavam. Ela some pela porta. Fico no canto um tempo ainda, alguma música dançante toca na pista. Vários copos de plástico com restos de bebida pelo chão, em cima de mesas bagaceiras. Vou até o bar, encho um copo novo com vodka e um pouco de refri, chego até a pista. Há muitas mulheres lá, novas mulheres. Todas elas dançando loucamente, e loucamente me chamando.
Um comentário:
É tudo são simples. E lindo.
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