Nesse outubro, a peça “Bailei na Curva”, do diretor Julio
Conte, está completando trinta anos. A obra é considerada um clássico moderno
do teatro gaúcho, que influenciou e mudou o panorama das artes cênicas aqui no
estado, inclusive, fazendo sucesso em outros lugares do País. Porém, mais do
que toda essa importância para o campo social e cultural, “Bailei na Curva”
também tem papel muito importante para mim, explico: foi o tema da minha
primeira matéria para um jornal, cinco anos atrás, justamente sobre os 25 anos
da peça.
Quem quiser ler o texto, ele tá aqui.
Meu primeiro estágio, na realidade, foi no Rádio da
Universidade (UFRGS), na qual o então diretor André Prytoluk, professor do
curso de Publicidade da mesma instituição, me deu a vaga após uma breve
conversa. Fiquei por lá por cerca de seis ou sete meses, apesar de ser um bom
legal para aprender, eu tinha um grande interesse em descobrir o jornalismo
impresso – e o Jornal da Universidade parecia o lugar ideal para isso. Aí,
acabou surgindo uma vaga por lá, e como a seleção ainda não era realizada por
testes, acabei sendo indicado pela Sandra de Deus, então secretária de
comunicação e também professora da UFRGS, para uma vaga no JU (apelido
carinhoso do impresso).
E, então, tudo começou de fato para mim. Acredito que foi
por lá que moldei algumas das minhas crenças e costumes que carrego comigo até
hoje, nesse pouco tempo de “carreira” (não gosto muito do termo, mas...).
Conheci excelentes profissionais, em especial a Ânia Chala e a Caroline da
Silva. Apesar de, no nome, ser um jornal, na verdade a publicação está bem mais
para revista, em seu espírito editorial e tempo de publicação (é mensal). Talvez
pelo maior período de apuração e edição da matéria e também mais espaço (é um
jornal padrão standard), sentia-me mais propenso a ser criativo e, como era a
primeira matéria que ia produzir, queria que ela ficasse muito boa - então,
realmente me puxei. Não me recordo exatamente como essa pauta caiu para mim,
mas era na área da cultura, e me lembro de que sempre quis trabalhar por aí, então
fiquei muito satisfeito. Havia visto a famosa peça no colégio, mas não me
recordava exatamente dos detalhes e do contexto. Encontrava-me no terceiro ou no
quarto semestre da faculdade, ainda não tinha aulas mais técnicas de texto. Foi
tudo no feeling apoiado na ideia de escrever uma matéria interessante, em três
atos, fazendo uma espécie de brincadeira com o roteiro de uma peça de teatro.
Entrevistei quase todos os atores da primeira geração do espetáculo e alguns da
nova, assim como o crítico Antonio Hohlfeldt, o ator Zé Victor Castiel e, é
claro o diretor Júlio Conte (escrevi sobre essa experiência aqui).
Realmente entrei na história e produzi um texto gigante e, claro, um pouco
pretensioso, acho que tinha algum parêntese no título, originalmente, e também
tinha a ideia de fazer o primeiro parágrafo de cada cena, como se fosse
descrevendo a época, no mesmo formato de um roteiro de uma peça. Na minha
cabeça ficava bem...
É aí que entra a importância da Carol, que me ajudou
bastante durante a produção dando dicas de como seguir na matéria e de quem entrevistar
e orientações do texto também para buscar aquela almejada clareza e tirar os
preciosismos, que não combinam necessariamente com um texto jornalístico – ou sim,
depende do momento. Também, é claro, orientação da Ânia, e a edição do texto principalmente
pós-produção, deixando mais limpo e coeso, e me chamando para me orientar,
quando fazia isso. É o modo como um editor deve agir, ainda mais com um
estagiário que, em tese, está aprendendo. Descobri que jornalismo se faz em
conjunto. Por essas e outras, o JU foi um grande lugar para trabalhar. Por
essas e outras, eu gostei da ideia do jornalismo impresso, da área cultural. Uma
das coisas que me marcou nessas entrevistas sobre “O Bailei na Curva” era o
modo como eles acreditavam naquilo que eles criaram, a força da expressão
artística e da criação sempre me interessou e, nesse momento, aquilo me
despertou para o jornalismo cultural também, e toda a sua responsabilidade de
ser algo além da simples divulgação. Começava a criar em mim a crença de que o
aprofundamento é algo necessário no jornalismo, o ímpeto de que a reflexão
sobre a pauta e o objeto a ser discutido deve ir muito além do que a simples
informação – apesar, é claro, de entender hoje que tudo é necessário.
Mas foi por lá, em algum momento nessa matéria, que tudo
começou a se formatar para mim. Se eu pudesse falar com o Rafael Gloria daquela época, eu agradeceria.
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