Queria descrever Eliana como alguém que sempre usou aquele vestido azul com as duas alças compridas sem decote – tudo que ela mostrava era o espaço bonito que ficava entre os seus seios e o pescoço. Queria descrever ela assim porque é uma das lembranças mais remota que tenho na minha cabeça sobre ela. Faz parte da época em que costumávamos passear apenas nós no sítio do tio João, meu tio, irmão do meu pai, ambos já falecidos. Queria falar de Eliana assim, mas tenho medo de começar a descrevê-la e limitar ainda mais meu pensamento. Sou do tipo que guarda as coisas em pequenos frascos; gosto mais das frases curtas que explicam grandes coisas, de uma ideia “menor” para uma ideia “maior". Conceitos, não? Por isso acho melhor falar sobre a expressão incutida em seu sorriso, espécie de droga que se desdobrava de trás para frente, e que fazia os músculos do rosto dela se estremecerem e ficarem todos empolgados por aqueles pequenos segundos de orgasmo facial. Tipo de droga porque – desculpe o trocadilho clichê – me viciava. E eu poderia ficar horas tentando encontrar alguma pista que explicasse o porquê daquela expressão. E até hoje passo horas tentando entender como eu nunca consegui esquecer isso.
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