sábado, 13 de junho de 2009

Dia de santo

O cheiro de vela queimada se espalha pelo morro Santo Antônio. São 20h de um sábado em que as pessoas não se cansam de caminhar, ao contrário, todas estão ali esperando a hora de se locomover. A procissão começaria daqui alguns minutos. “Segura na mão de Deus”, o padre grita para o microfone que por sua vez manda para a caixa de som, abençoando todos ao redor. Segura na mão de Deus. Será que Ele está ao meu lado? Ao meu lado, eu só vejo três senhoras, que caminham de cabeças baixas. Ao meu lado novamente, um casal, dividindo a “luz” que carregam. Chamo de luz a vela iluminada que levam em um suporte de garrafa cortado ao meio. De mãos dadas eles cantam forte, empolgados. Talvez tivessem se conhecido na procissão há alguns anos e agora estejam agradecendo. Quem sabe?


Santo Antônio é o culpado dos vários casais que se amam. O santo dos relacionamentos. O meu santo. O que eu fazia naquela procissão? Não estava segurando nenhuma luz, não estava de mãos dadas. Nada. O que eu sentia? Saudade, talvez. Desdém? Um pouco. Santo Antônio mexeu comigo novamente, pegou no meu ponto fraco. Justo ele que é o meu padroeiro. Não pude agüentar toda a caminhada, me peguei desconfiado demais para celebrar algo tão bonito.

À medida que me afastava, as luzes ficavam cada vez mais intensas. Pequenos focos iluminando toda uma rua, várias ruas. Várias pessoas. Se existe algum Deus, se existem santos, eles estavam caminhando ali no meio. Em algum momento, escapando pelos olhos dos casais. Ajudando as pessoas idosas a seguir em frente,a pagar suas promessas. E eu estava me afastando de tudo aquilo, observando tudo. O quadro é sempre mais bonito se vermos por completo, se fugirmos dos nossos problemas. É o que a procissão faz com nós, é o poder que somente os santos possuem sobre as pessoas.

Um comentário:

Carolzete disse...

Na fé, "se fia", não se desconfia. A famosa "fides"! Quer ver uma coisa inexplicável? Olha como tu começa esse texto, falando da canção "Segura na mão de Deus"... Sempre, na celebração que for, ela enche meu olho de água. Minha mãe cantava isso no meu parto, depois de 14 anos passados da segunda 'experiência', ela achava que algo poderia dar errado. Essas coisas de crença podem ser coincidências, mas são lindas, não há como negar...