Ando com muita opinião entalada na garganta. É por ali que elas ficam, quando não tenho a oportunidade de me expressar. Ando sem tempo também para escrever textos mais longos, porém, hoje, aqui no trabalho estou deixando os afazeres momentanemanete de lado e tentando esboçar algumas ideias sobre jornalismo. Na verdade, são fatos simples que deveriam ser seguidos por todos nós. O problema é que a “regra” parece ter virado exceção: são mais numerosos os exemplos do como não fazer, do que os de como fazer. Pretendo dividir esse post em tópicos, cada um evidenciando valores que, a meu ver, deveriam nortear o caminho do jornalista.
Colocar-se no lugar do outro
É difícil para qualquer pessoa se desvencilhar de preconceitos, de tratar e observar sem apontar algum julgamento. Como jornalista, entretanto, é necessário colocar-se no lugar do outro, e isso só se consegue se você estiver no mesmo “pé” que ele. Estar atento com o que acontece com o sujeito, seu contexto, seus problemas, seu modo de falar, de agir e de viver. Colocar-se no mesmo patamar é não observar o entrevistado, por exemplo, como alguém que você está ajudando, como se fosse um Deus que “ilumina” um desconhecido. Não. É você deixar seu preconceito de lado e tentar entender a sua história, simplesmente. É papel nosso também não reproduzir os preconceitos que vemos em certos veículos de comunicação.
O olhar humanizado
Não é uma questão de preferência política, ou de a linha editorial de veículo tal ser de “esquerda” ou de “direita” (definições que já não cabem mais, essa já é outra discussão). Trata-se de procurar sempre o lado humano, social da pauta e ver como tal assunto influenciará no cotidiano daquela sociedade em que está inserido. Não é ser conservador, liberal, socialista, anarquista, jornalismo é a profissão onde se trata e se repercute o que acontece com o sujeito em dado momento. Não se trata de escolher lados também, contanto que esteja do lado do cidadão – e isso não deveria ser algo de “esquerda” ou de “direita”. Em um país recente como o Brasil, com uma imprensa que sofreu censura durante um longo tempo, é natural que se observa uma polarização da mídia em que os grandes veículos de comunicação estariam ao lado da censura e da direita e que poucos teriam um viés da esquerda. Para mim, a questão é muito mais profunda que essa, envolve, antes de tudo, a função do jornalismo na sociedade: desenvolver a cidadania, respeitar a ética e prestar um serviço de qualidade a sociedade.
Compromisso com a verdade
É clichê dizer isso, mas os clichês são verdadeiros. O jornalista deve ter um compromisso com a verdade, deve sair com ela, levar para o cinema, pagar o jantar e dormirem juntos. Para o resto da vida. É um casamento. Jornalista mentiroso é jornalista ruim. Não tem outro jeito, sabe. Como se trabalha com fatos, e sabe-se que fatos são verdades, é preciso ir atrás delas de qualquer jeito. É por isso que a apuração é das ferramentas mais importantes para o bom jornalista. E o que é a apuração se não a busca pela verdade? Pegar uma informação não completa, ou errada, e poli-la aos poucos, descobrindo outras facetas, limpando, reduzindo, até chegar na informação diamante bruto, pura. A verdade, nada mais que a verdade.
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
A frase é do escritor e jornalista Graciliano Ramos e é válida para ambos profissionais. Algumas pessoas deveriam tatuar isso no braço, ou melhor, na testa para perceber que “enrolação” não combina com o texto jornalístico, que deve ser, sobretudo, sucinto, objetivo, ainda que a objetividade seja um conceito nunca alcançado. É a linha do horizonte, espécie de miragem, sempre desejada, mas nunca totalmente alcançada. O problema é a implicação que o termo Jornalismo Literário carrega. Tudo bem pegar técnicas narrativas emprestadas da Literatura, mas o jornalismo literário é, na verdade, uma grande reportagem muito mais aprofundada e com um grande trabalho de apuração para que se possa utilizar com crédito a descrição. Para que se possa deduzir através de vários relatos, fatos, como aquela cena aconteceu. Trata-se também de relatar as suas experiências com qualidade, e fiel objetividade. Não há problema de se trabalhar com o “eu” em uma reportagem, contanto que não haja exagero de egocentrismo. Usar o “eu” para falar do outro, ou de algo mais amplo, é o caminho.
Não olhe apenas para o próprio umbigo
O bom jornalismo só se faz
Agora me vem essas a cabeça, que me parecem essenciais. Convido os interessados a continuarem essa lista e a discussão nos comentários.
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