Hera que tanto gostava de flores não estava ali no momento. Dormia encostada no sofá da sala. Serena. Enquanto isso Renoá balançava a cabeça, a pazinha, a enxada, na famosa posição de quatro, tentando de alguma forma fazer buraco no jardim, arrancar as ervas daninhas no gramado do casal que se mudara há pouco tempo para a cidadezinha. Infestavam o novo pátio, novo tudo, trabalho novo, nova vida que o pessoal da empresa havia prometido. Só esqueceram de falar da quantidade de plantas e de pragas que o esperavam. E Hera gostava de flores, tanto que convenceu seu marido a trazer várias mudas da antiga casa. E a plantá-las. Enquanto ela ficava só dormindo na sala.
Hera tinha também hábitos estranhos, como o de tomar banho de sol pelo menos três horas durante o dia. Apesar disso, permanecia branca como uma folha de papel em que não há nada escrito. Depois tiraria o seu cochilo, pois tomar sol a deixava, de certa forma, cansada. Já acostumado, Renoá não reclamava mais, até desfrutava pois, assim, podia tirar esse tempo livre sem a esposa para fazer as suas coisas, manter seu pequeno hobby de colecionar insetos, empacotando-os em pequenos saquinhos. Já tinha uma coleção. Seria uma herança, bolava plano para que os filhos pudessem estudar biologia, catalogando os insetos. Era assim que ele pensava.
Não era bem assim que ela pensava, mas tudo bem.
Renoá em sua epopéia no jardim conseguiu segurar com sua ardilosa mão uma grande raiz de uma maldita erva daninha. Estranhou de início, porque ela era realmente enorme, e pesada. Mas, mesmo assim, começou a puxar, puxar, puxar tão forte que sua mulher acordou e começou a ser arrastada por alguma força incrível na sala.
E quanto mais ele puxava, mais ela era arrastada. Mais ele puxava, puxava, até conseguir arrancar. Saiu do transe, ouvindo os gritos de desespero da mulher – e sem entender absolutamente nada – entrou correndo dentro a casa para ver o que estava acontecendo. Hera ainda estava atirada ao chão ofegante com os membros deslocados, a pele rasgada como se rasga uma folha, a pele também seca como uma folha que cai no outono sem vida. Já sem vida.
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