quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Dois anos (Top 15 - minhas postagens)

Se me dissessem dois anos atrás que eu teria um blog que iria durar dois anos, atualizado frequentemente e bem visitado eu não acreditaria. Mas aqui estamos nós, nessa empreitada chamada Contagens que se revelou muito mais do que um simples blog, mas também uma extensão de muita coisa da minha vida. Talvez porque eu leve tão a sério a arte de escrever. Queria agradecer as pessoas que gostam de ler o que eu escrevo e que comentam, e aquelas que ficam pouco segundos na página, todas aquelas que passaram por aqui e que não passam mais. Todo mundo.

Fiz um top 15 das minhas postagens por ordem de importância/favoritas para comemorar os dois anos de aniversário do blog. Foi muito difícil fazer isso mas aí está. Provavelmente cometi alguma injustiça, mas não sei. Prometo revisitar esse top daqui algum tempo.

De repente no aniversário de dez anos.

Quem sabe?


15

Crônicas de um repórter novato - Parte V

"Cavalos. Era essa uma das pautas que a professora da cadeira de reportagem em Jornalismo Impresso nos passou em aula. Só isso. Cavalos. E listou mais umas vinte. Havia outras também estranhas, como milho, batata, violão, perdizes. Quem já escreveu alguma coisa sobre perdizes? Um animal quase em extinção. Mas não pensei na ave, os cavalos não saíam da minha cabeça. Logo me surgiu uma possível história - sempre surgem elas, antes de tudo."

Fiquei orgulhoso da reportagem que produzimos para a cadeira de redação jornalística II e nesse post falo um pouco sobre o making of dela. Importante porque foi ali que comecei a gostar mais do fazer jornalístico.

14


Em dias banais


"(...)Depois eu deitei na nossa cama, na qual dormimos nossas 8 horas regularizadas e somos despertados diariamente pelo alarme do celular. O celular dela, só para deixar claro. O celular e os verdes dela. É por isso que eu minto tanto. O passar dos dias, beijos triviais. É por isso que eu minto tanto. Noite que cai, nosso amor só com paz. É por isso que eu minto tanto nesses dias iguais."


Tenho uma particular afeição pelo final desse texto. O início é bem simples e a história um pouco boba, mas gosto do modo como consegui deixar poético, sem beirar ao sentimentalismo exacerbado de outras horas.

13


Teoria número dezenove: sobre textos e pessoas

"Sempre achei semelhante o processo da escrita e o de saber a importância de uma pessoa. Quando termino de escrever um texto e preciso relê-lo muitas vezes para que goste, é sinal de que há algo errado. Bem errado. Significa que ele simplesmente não está excelente, porque o texto com qualidade é aquele em que lemos e que não precisamos tentar nos convencer de que está bom."

Uma das mais recentes teorias e que também explica bastante da minha visão, de como vejo o mundo. Observo e gosto de explicar as situações através da literatura, do texto. Nesse caso faço uma comparação entre o processo de conhecer uma pessoa e o processo de escrever um texto, ao meu ver, semelhantes.

12

Paisagem Noturna


"(...)Foi a paisagem noturna que me ajudou realmente a me enxergar. Pude me ver com outros olhos (ou com os olhos do outro), mesmo que infimamente. Acredito que meu outro esteja na noite, no cheiro dela, no modo como ela se espalha pelo céu fechando o sol, iluminando de um modo diferente as pessoas, quieta, insolúvel, necessária."

Esse post entra no top porque é um dos primeiros que mostra uma das características que eu gosto de explorar nos textos. O outro lado, o duplo, aquilo que nós também somos, mas dificilmente revelamos. Nesse caso, fui mais explícito dando um exemplo próprio.

11

Obstáculo 8


"O problema é o tempo. As horas tendem a não combinar com os acontecimentos (pelo menos no meu caso). Sempre quebradas em vários terços diferentes, que teimam em se enrolar nas minhas mãos, no pescoço."

Esse obstáculo mostra o tempo como carrasco. Gosto do texto, porque ele é bem amarrado, fechado nele mesmo. Muito ritmado também, a solução que encontrei para a falta de tempo é a literatura, só ela pode cristalizar e parar os momentos.

10

Das manhãs

"Foi por entre o forte cheiro de café, no meio das cascas de pão que preenchiam a mesa e ao redor do som das notícias espalhadas pelo rádio que eu percebi. O dia lentamente acordava, quando Aline chegou-se para sentar à mesa, ao meu lado. Trazia com ela a cara de sono, as leves olheiras brotando por baixo dos olhos castanhos claros, e o seu corpo vestia uma das minhas camisetas – que nela tornava-se larga o suficiente, confortável o suficiente...."

Ah, sempre achei bonito o cotidiano e para mim nada mais normal do que um café da manhã. Ao mesmo tempo gosto quando as ações emergem da simplicidade, e nesse caso a simplicidade venceu as notícias ruins do radio, a mesa, tudo, tudo.

9

Teoria número dois: sobre falsas aproximações e amores fugazes

"
Já disseram que o universo está expandindo. E eu falo mais: todos nós estamos nos afastando também. Pouco a pouco, talvez, mas cada vez mais indo embora por completo. Não encaro mais as coisas como simples proximidades, as pessoas se conhecem, mas não permitem mais se aceitarem inteiramente..."

Uma das minhas primeiras teorias e das que mais me agradam. Acredito que consegui ponderar entre o que sentia no momento com bons argumentos. A linguagem é simples, mas não simplória e pinta um belo retrato das falsas aproximações.

8


A gente é e não é - postagem temática

"Você não fuja da minha história, desejo que saiba a causa deu ter feito isso. Não, não levante da cadeira, trate de se sentar, não quero esse medo escancarado no rosto do homem da cidade. O que vão pensar de mim lá no seu jornal? Mas chega de trela-trela. O que se sucede é que o que houve não era algo planejado; e nem foi pensado em última hora. Simplesmente aconteceu, tal qual o cavalo aprende a estancar de pé, a galopear e depois sai andando pelo campo afora. Até encontrar uma portera fechada, daí, só daí, ele se acalma.. A gente é e não é..."

É importante porque foi a primeira postagem temática e uma das que mais gostei. Talvez o texto deva ser mais elaborado e melhorado no futuro, mas a ideia de máscaras havia me inspirado a mais uam vez escrever sobre aquilo que não beira a superfície. Nesse caso a estranha história de um senhor de uma cidade do interior.

7

Porque nem tudo é amor

"É estranho perceber quando a paixão acaba por uma pessoa. Você pode deixar de se sentir apaixonado por alguém porque a imagem idealizada que você construiu na sua cabeça, por qualquer motivo simples, desapareceu. A paixão é muito frágil e tem tempo contado..."

Esse post é importante para mim, pois me ajudou a organizar os pensamentos naquela época. Eu que sempre precisei colocar tudo no papel primeiro para depois pensar em como agir. Escrever sempre foi um refúgio e uma solução.

6

Em todas as horas

"Eu te amo./E não é nem meio dia./Imagina quando chegarna metade da nossa vida..."

Um poema onde a temática é o amor fazendo uma analogia com as horas do dia. Gosto dele, porque ele é simples na linguagem, mas um tanto rebuscado na forma e no arranjo, justamente o modo como gosto de escrever poemas.

5

Teoria número seis: sobre escondimentos e o ato de se apaixonar

"(...)Quanto mais você ultrapassa as camadas, quanto mais descobre as pessoas, maior tendência você tem a se apaixonar. John Lennon estava certo quando dizia que você tem que esconder o seu amor: encontra-se aí toda a graça da vida, esta aí o motivo principal de existir."

É uma das minhas teorias em que consegui elaborar mais sobre o tema e foi onde ganhei mais gás para manter essa postagem mensal. E é realmente uma das teorias que realmente se comprova na minha vida. Ainda acho que o amor vem em ondas e mantém o mesmo trajeto, passando por várias camadas. É aquela ideia sempre presente nos meus textos, em que você tem que ultrapassar as camadas mais superficiais para encontrar a narrativa certa. Ou nesse caso, o amor.

4

Todo dia seria sexta feira à noite

"Ela chegou lá pelas 22 horas e foi embora às 2 da manhã se segurando – quase caindo pelos lados e sorrindo de ponta a ponta – no pescoço de um cara que bem poderia ser o seu pai. Estava enfiada em um vestido bem curto, meio apertado e todo preto. Não sei o que os seus pés usavam, porque para eles nem olhei. Fixei observação em suas coxas, na tez branca lisa, na quantidade exata de pele em um espaço milimetricamente moldado..."

Um dos meus textos favoritos, a começar pelo título. Acho que aqui utilizo bem uma característica que sei que é uma das minhas maiores qualidades. Explorar uma cena minuciosamente e a partir dela exibir todo um conjunto maior. Do pequeno para o amplo. As coxas brancas surtem efeito avassalador em um homem totalmente acostumado ao casamento.

3

Meu tipo de erro favorito

"E lá vamos nós novamente. Joga a chave da casa para fora. Enche a mala. Pega as suas roupas favoritas. E corta. Lá vamos nós novamente. Faz essa cara de braba, não me perdoa por mais nada. Guarda as mágoas da noite passada. Lá vamos nós novamente. Agora junta todos os sapatos, todos os pertences, pega as jóias que eu te dei e atira no bolso. Da calça jeans surrada. Do tempo que você usava, quando só era minha namorada. Isso. Não faz birra, fazendo birra..."

Outro dos meus favoritos, e mais uma vez sobre um casal com problemas. A história totalmente fictícia fala de um cara que ta acostumado com os erros da relação, com as brigas e sabe que nunca mudará. Vão continuar se desentendendo, mas logo já estarão juntos novamente. O tipo de erro favorito dele. Linguagem simples e ritmada, conseguindo um texto bem dinâmico e rápido. Passando a mensagem bem.

2


Perdidos entre as paredes

" 'Eu vou contigo para onde tu quiser', ela me diz meio bêbada, entre algumas latas de cerveja, que depois são espalhadas por nós rapidamente pelo assoalho de madeira. A música de mau gosto ainda passeia pelo ar. Assim como os nossos beijos que se misturam sem ordem, sem nexo, confundindo as peles, e contornando a boca, exalando liberdade."


É um dos meus favoritos textos, porque ele consegue ser conciso, denso e aberto. É também o primeiro, talvez em que consegui escrever desse modo. Mostrando tudo, mas também escondendo tudo, não foi fácil até consegui construir um texto curto aberto sem soar estranho; bem como eu queria escrever na época – e como continuo querendo.

1

Das Uniões

"(...)Acho que o meu desafio como jornalista, como pessoa que gosta de escrever, como pseudo escritor (ou escritor que gostaria de ser) é unir esses dois cortes, esse dois jeitos de se ver uma história. A clareza unida a uma sensibilidade atemporal."

Postagem importante porque foi quando comecei a me dar conta de como queria escrever, o começo de tudo digamos assim, de certa forma uma epifania. Pensei em misturar o texto jornalístico, com a sensibilidade da ficção, que sei que possuo. Tudo isso traduzido em um corte diferenciado. Aprendendo a cortar palavras e ideias com o jornalismo, mas também com aquele outro corte, o mais sensível, e o atemporal oriundo da arte literária. É o que tento fazer nessa luta diária e necessária, mas sempre recompensadora.




2 comentários:

gregtest disse...

Muito bom este post, especialmente para quem, como eu, não acompanha o teu blog desde o começo.

Mariana disse...

Ótimo, mesmo, reler alguns dos teus melhores posts e conhecer mais alguns que eu ainda não conhecia!

10 anos? O Contagens tem tudo pra assoprar mais velinhas ainda!

É sempre ótimo dar uma passada por aqui.

bjo!