Eu cresci acostumado com o seu barulho ao entrar em casa. Eram sempre os mesmos passos: a batida notadamente forte na porta, a estridente caída de chave metálica na mesa e os seus pés preenchendo o silêncio que a casa entendia. E não era só a casa, todos nós entendíamos também e sabíamos de imediato que você havia chegado, porque a atmosfera nos mudava. A sua presença tão distante fazia contraste com o tanto, tanto, tanto do que nunca dissemos um ao outro. E é assim que a sua imagem permanece em minha mente. Fixa, intragável e sempre longe.
E é assim que ela provavelmente permanecerá.
Não adianta construir uma ponte ou um barco. O tempo já não permite tais intervenções entre as nossas estradas. Tudo apagado pelo que eu gosto de chamar de “blecaute mental”. Tudo diluído pelo que eu gosto de chamar de “contraste relevante”. A gente desliga o que não deve importar. Só me lembro da distância metálica da chave, dos seus passos pela casa e a porta batendo cada vez mais forte. Fechando tudo. A música solitária.
Droga que muito de você, eu também vejo em mim.
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