sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ele e Ela

Vinte minutos para o natal, quando eles se encontram sem querer no refeitório da redação. Um fotógrafo que também foi obrigado a trabalhar durante a festividade havia preparado o café. O cheiro forte contrastava com o odor dos perus de todas as casas que cercavam o prédio do jornal. Ela nunca soube o que falar, ele só gostava de falar sobre si mesmo. Ficaram naquele marasmo por entre abraços verdadeiros pelo lado dela, falsos pelo lado dele, e obrigatórios pelo lado do natal.


Ela trouxe um presente, na realidade era um pequeno poema que escrevera dias antes, quando pensara nos olhos dele, seu colega de redação, mas de diferente editoria. Ela gostava de escrever poemas, apesar de o jornalismo mandar ser objetivo. Ela também gostava de sorrir, quando não podia e ao fazer isso mostrava todos os dentes e depois fechava devagar, como em câmera lenta. Ele dava abraços falsos de natal em todo o mundo.


Mas ela acreditava que o que recebra tinha sido verdadeiro.


O poema estava no bolso e falava algo sobre ser natural, falava sobre olhos e as diferentes posições em que ele sentava na cadeira de sua ilha, na sua editoria. Tudo que ela observava. Teve a ideia de aproveitar o momento em que ele não se encontrava no seu lugar e deixar a carta, com o texto, em cima do seu teclado. E foi o que fez, sorrateiramente, como se abandonasse toda a esperança em cima das teclas.


Ele voltou para a mesa lá pelas dez para a meia-noite, ele e os abraços falsos que havia acumulado. Ele e a maldita irritação de ter que passar a data naquele jornal que o pagava tão pouco e que pedia tão muito. Passou quase que reto por ela, mas olhou de relance, ela não percebeu. Depois baixou os olhos ansiosa pelo resultado de sua tão arriscada decisão. Ele sentou na cadeira ajustada, empurrou a carta para o lado, como se nem percebesse, como se quisesse escrever para apenas ir embora e continuou a trabalhar. Interruptamente.

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