terça-feira, 26 de maio de 2009

Crônicas de um repórter novato - parte V

Cavalos. Era essa uma das pautas que a professora da cadeira de reportagem em Jornalismo Impresso nos passou em aula. Só isso. Cavalos. E listou mais umas vinte. Havia outras também estranhas, como milho, batata, violão, perdizes. Quem já escreveu alguma coisa sobre perdizes? Um animal quase em extinção. Mas não pensei na ave, os cavalos não saíam da minha cabeça. Logo me surgiu uma possível história - sempre surgem elas, antes de tudo. Pensei em apostadores de corrida, que perderam muito por causa do vício do jogo. Pensei em narrar diferentes situações e cruzá-las a partir de diferentes narradores (dá-lhe Tom Wolf!), para isso freqüentaria reuniões de jogadores anônimos. Passaria-me por um deles, para então, ao menos, chegar perto de entendê-los. Afinal, não fazemos jornalismo para isso? Não tentamos ser repórteres para entender e explicar as pessoas? Era isso que eu tinha em mente. Dividi a minha opinião para com a pauta com dois colegas, afinal faríamos a reportagem em grupo. Em trios para ser mais exato.

Eles gostaram da idéia inicial de visitar o hipódromo e ver as apostas e tudo o que elas movimentavam. Visitamos o Jóckey do Cristal numa quinta-feira nublada (único dia em que ocorrem corridas) e ficamos surpreendidos com o retrato do abandono que é o local. Poucas pessoas assistindo e apostando nos páreos. E quando o faziam era pouco dinheiro. Talvez a minha ideia original pudesse ser escrita uns quarenta, cinqüenta anos atrás, quando o turfe ainda estava na moda e as pessoas realmente apostavam grande no hipódromo do Cristal, aqui em Porto Alegre.

Por outro lado, outra pauta estava nascendo. Como um local que um dia fora importante para a capital gaúcha pode estar tão abandonado assim? Um patrimônio histórico, tombado pela prefeitura em péssimo estado de conservação, ninguém mais liga para ele? A realidade é que as pessoas que trabalham no hipódromo parecem viver ainda naquele tempo antigo. Ou melhor, encontram-se deslocados no tempo. Quase abocanhados pelo BarraSulShopping que ronda o terreno do Cristal. É uma boa analogia para toda a reportagem, principalmente a sua conclusão.

Foi uma ótima experiência produzir essa matéria. Ainda mais escrevê-la com colegas divertidos e motivados para o trabalho. Como nós três estávamos sem estágio na época tínhamos tempo para nos dedicarmos a isso. Fomos várias vezes ao hipódromo a fim de falar com as pessoas, observar as suas instalações, realmente sujamos os sapatos (ou seriam tênis, no nosso caso) como disse Gay Talese. Demos até sorte, encontramos um locutor famoso – e lenda viva do turfe –, por acaso, numa agência de apostas. Ele acabou sendo fundamental como linha narrativa e temporal na reportagem.

Coloco o link aqui não para fazer publicidade, mas porque gostaria de divulgar esse site com reportagens produzidas por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Todos nós tivemos trabalho para escrever e saiu muita coisa interessante.

http://www6.ufrgs.br/ensinodareportagem/

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