domingo, 17 de maio de 2009

Obstáculo 17

O pior sentimento que existe é aquele que toma nosso corpo aos poucos. Aparece lentamente e lentamente é alimentado. Pelas pequenas coisas, pelas besteiras do cotidiano, pelas fofocas tradicionais. É triste perceber que aos poucos a razão vai se apagando do cérebro, sendo acobertada, escondida, pegando no sono. Esse sentimento talvez seja o mais trapaceiro de todos. O mais esperto, o mais malandro. Ele nos pega sem querer – quando percebemos já está alimentando todas as nossas conversas. E ele está espalhado por todas as cidades, em cada rua, em cada casa. Subindo as telhas, entrando pelos poros dos tijolos, circulando nosso corpo. Moldando-nos. Acredito que seja a maior poluição do nosso dia-a-dia. Capaz de infectar qualquer tipo de sistema. Alguma parte de mim ainda confia nas pessoas, alguma parte de mim ainda não foi tomada por esse sentimento e tenta combatê-lo todos os dias. É difícil, mas é necessário. Viver é perigoso, como já dizia o personagem Riobaldo de Grande Sertão Veredas. Ainda mais se você viver com rancor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Viver com rancor é como se matar aos pouquinhos... A cada dia, enfiar mais um centímetro a adaga no coração. Não é viver!
E, mesmo assim, a gente sobrevive, a despeito do rancor e da ira. Mas não se escreveria tanto se se conseguisse controlar todos esses sentimentos! Não deixa de confiar nas pessoas, Gloria. Tu és meu parâmetro para ainda crer na humanidade!