quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Teoria número vinte e quatro: sobre crescer e saber observar as estrelas.

A de hoje é bem curtinha e nasceu agora há pouco, quando estava no terraço da minha casa. É o seguinte: de uns anos para cá, a nossa casa cresceu bastante, graças ao esforço dos meus pais foi possível expandi-la. O crescimento da nossa residência também forneceu uma bela vista. É possível ver boa parte da cidade, mas eu sempre gostei mais de olhar o céu.


E é noite de ano novo e estou com aquela sensação de esperança maravilhosa para o próximo ano.


Comecei a pensar que há muito em comum entre crescer e saber observar aquelas coisas que realmente importam. Alcançar as estrelas. Amadurecer e sempre almejar mais, mas também selecionar o tempo para tudo que faz a vida valer a pena.


É isso que eu quero levar para a frente, para todos esses próximos 365 dias.

Crônicas de um repórter novato - parte XII

Um ano se passou desde que comecei a escrever essa “coluna” dentro do Contagens e muita coisa aconteceu na minha vida profissional, acadêmica e conseqüentemente no modo como eu vejo o jornalismo. Cada vez mais me encontro imerso nessa profissão gostando principalmente do trabalho de apuração. ,

Talvez devido ao desafio que o jornalismo nos propõe quase que diariamente. Sugerir a pauta, ir atrás da fonte, conseguir entrevista, escrever a matéria, tudo às vezes em apenas um dia. É verdade. Aprendi isso trabalhando agora em um jornal diário, minha primeira experiência mais profissional.

2009 começou com a minha saída do Jornal da Universidade, onde me encontrava desde julho de 2008. Encontrei ótimas pessoas lá e que realmente me ajudaram durante a minha passagem . Falo mais: o JU, como é carinhosamente conhecido, é fantástico porque ensina também a produzir com mais profundidade. Uma vez que a peridiocidade é mensal, tem-se mais tempo para trabalhar o texto, planejar as estruturas para atrair mais o leitor. Acredito até que poderia ser tratado como uma revista, apesar de o formato ser o de jornal.

Depois de me despedir do Jornal da Universidade, consegui uma bolsa de pesquisa em jornalismo cultural lá na Fabico, com a ótima professora Cida Golim. O tema da sua pesquisa era o jornal Diário Do Sul, exemplo de bom jornalismo cultural produzido aqui em Porto Alegre na década de oitenta. Ler os artigos, as monografias e as várias entrevistas que eles já haviam feito sobre o assunto só me empolgava a querer fazer um jornalismo cultural de qualidade. Por outro lado, percebi também que não seria um bom pesquisador, ou pelo menos não agora: prefiro tentar trabalhar nas redações primeiro.

Após sair da bolsa, fiquei um tempo parado, só estudando e então consegui um estágio na editoria de Cultura do Jornal do Comércio, na qual estou até agora. E gostando bastante como disse antes. Bom, vou me despedir dessa coluna, ela não fará mais parte do Contagens, agora será publicada a partir de fevereiro provavelmente em um novo blog que estou produzindo apenas sobre jornalismo, ele ainda está em construção, mas o endereço será esse aqui: www.gloriosojornalismo.blogspot.com

Espero que continuem me acompanhando nessa nova empreitada!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Redentor

Pode entrar. Eu já arrumei toda a casa, troquei os móveis e as cortinas, coloquei novos lençóis. Também comprei uma roupa especial só para te receber. Abandonei o passado, disse obrigado e falei “até nunca mais”, abanando. Foi bom, mas com você será muito melhor. Sim. Eu já fiz todas as listas possíveis das coisas – tudo, tudo – que faremos juntos. Enumerei os livros, os filmes, as atividades, esbocei os planos mais mirabolantes que já ouviste falar. É, verdade, pode entrar. Que a porta já está completamente aberta, é só chegar. E mudar tudo novamente, transformar o marasmo do fim em aquele turbilhão do início, cheio de possibilidades – que todos vão adorar. Solta os ponteiros, porque é praxe, mas a vida sempre tem reinício, a vida sempre tem mais uma chance. Não se acanhe, pela última vez antes do fim geral: Pode entrar.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Ponto Cruz

Eu desenho uma constelação

a partir dos seus sinais

espalhados pelo corpo

moldando todo o destino.


A pele branca, quase pêssego, é o carpete

por onde o futuro desfila.


Será possível adivinhar,

por mais inverossímil

que isso soe,

onde nossa brincadeira

vai parar?


Vou apenas preenchendo os pontos,

ajustando as medidas,

transitando pelos círculos, anéis, elipses

ou geometrias malucas que a junção

dos seus pontos traduz.


Medida aritmética sem sentido.

Maluca interação por contato,

que não me explica destino,

que me deixa docemente

levemente

atordoado.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ele e Ela

Vinte minutos para o natal, quando eles se encontram sem querer no refeitório da redação. Um fotógrafo que também foi obrigado a trabalhar durante a festividade havia preparado o café. O cheiro forte contrastava com o odor dos perus de todas as casas que cercavam o prédio do jornal. Ela nunca soube o que falar, ele só gostava de falar sobre si mesmo. Ficaram naquele marasmo por entre abraços verdadeiros pelo lado dela, falsos pelo lado dele, e obrigatórios pelo lado do natal.


Ela trouxe um presente, na realidade era um pequeno poema que escrevera dias antes, quando pensara nos olhos dele, seu colega de redação, mas de diferente editoria. Ela gostava de escrever poemas, apesar de o jornalismo mandar ser objetivo. Ela também gostava de sorrir, quando não podia e ao fazer isso mostrava todos os dentes e depois fechava devagar, como em câmera lenta. Ele dava abraços falsos de natal em todo o mundo.


Mas ela acreditava que o que recebra tinha sido verdadeiro.


O poema estava no bolso e falava algo sobre ser natural, falava sobre olhos e as diferentes posições em que ele sentava na cadeira de sua ilha, na sua editoria. Tudo que ela observava. Teve a ideia de aproveitar o momento em que ele não se encontrava no seu lugar e deixar a carta, com o texto, em cima do seu teclado. E foi o que fez, sorrateiramente, como se abandonasse toda a esperança em cima das teclas.


Ele voltou para a mesa lá pelas dez para a meia-noite, ele e os abraços falsos que havia acumulado. Ele e a maldita irritação de ter que passar a data naquele jornal que o pagava tão pouco e que pedia tão muito. Passou quase que reto por ela, mas olhou de relance, ela não percebeu. Depois baixou os olhos ansiosa pelo resultado de sua tão arriscada decisão. Ele sentou na cadeira ajustada, empurrou a carta para o lado, como se nem percebesse, como se quisesse escrever para apenas ir embora e continuou a trabalhar. Interruptamente.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Obituário de quatro patas

Foi aos 14 anos, depois de muito latir no pátio dos fundos de uma casa que existe há quase 50 anos na rua Tomaz Edison em Porto Alegre, que o cachorro de nome Branco, mais carinhosamente conhecido como Branquinho, faleceu na tarde de hoje. Não era daqueles cachorros mais amáveis, que aceita carinho por qualquer besteira: era preciso conquistá-lo aos poucos. É verdade que a velhice o deixou mais tenro e mais suscetível a afagos pedintes. Mas no fundo dos olhos já esbranquiçados podia-se ver o velho orgulho ainda forte. Aliás, forte era uma boa palavra para determiná-lo. Nem o câncer na próstata o impedia de tentar levantar nos últimos dias. Era triste vê-lo deitado, abatido por uma doença que se propaga rapidamente e o pior de tudo, silenciosamente. Exatamente o contrário da sua personalidade, sempre latindo, sempre alerta. Agora, os moradores da casa de meio século da rua Tomaz Edison não sabem como vão conseguir dormir sem o conhecido uivo noturno que os acompanhava há tanto tempo. Ele não deixou filhotes, infelizmente não propagou para a humanidade um pouco da bravura – que tanto falta a alguns indivíduos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

E sim. Há até flores na Ilha das Flores.



Hoje fui até a Ilha das Flores, aquela mesma do famoso curta do Jorge Furtado, para tirar algumas fotos que faltavam para a matéria que produzi com o meu colega Arthur Dias para a próxima 3x4, revista semestral da Fabico. Resolvemos tirar a foto de uma flor da ilha, porque fechamos o texto da matéria com o título desse post, logo seria coerente para ilustrar. Mas depois de tirar essa foto pensei que poderia ser qualquer flor em qualquer lugar, uma vez que não dá para identificar a partir dessa imagem que estamos realmente na Ilha das Flores. Deveria eu colocar um cartaz escrito o nome da localidade ao lado? Obviamente que não. Acho que é por aí que se dá o laço de confiança tão perigoso, mas tão necessário na nossa profissão. Daí que vem a ética junto e tudo mais. Claro que se eu ilustrasse a matéria com uma foto tirada no jardim da minha vó poderia funcionar, mas seria falso, totalmente fake. Pelo menos fomos lá, nesse calor horrível. Era necessário.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Dois anos (Top 15 - minhas postagens)

Se me dissessem dois anos atrás que eu teria um blog que iria durar dois anos, atualizado frequentemente e bem visitado eu não acreditaria. Mas aqui estamos nós, nessa empreitada chamada Contagens que se revelou muito mais do que um simples blog, mas também uma extensão de muita coisa da minha vida. Talvez porque eu leve tão a sério a arte de escrever. Queria agradecer as pessoas que gostam de ler o que eu escrevo e que comentam, e aquelas que ficam pouco segundos na página, todas aquelas que passaram por aqui e que não passam mais. Todo mundo.

Fiz um top 15 das minhas postagens por ordem de importância/favoritas para comemorar os dois anos de aniversário do blog. Foi muito difícil fazer isso mas aí está. Provavelmente cometi alguma injustiça, mas não sei. Prometo revisitar esse top daqui algum tempo.

De repente no aniversário de dez anos.

Quem sabe?


15

Crônicas de um repórter novato - Parte V

"Cavalos. Era essa uma das pautas que a professora da cadeira de reportagem em Jornalismo Impresso nos passou em aula. Só isso. Cavalos. E listou mais umas vinte. Havia outras também estranhas, como milho, batata, violão, perdizes. Quem já escreveu alguma coisa sobre perdizes? Um animal quase em extinção. Mas não pensei na ave, os cavalos não saíam da minha cabeça. Logo me surgiu uma possível história - sempre surgem elas, antes de tudo."

Fiquei orgulhoso da reportagem que produzimos para a cadeira de redação jornalística II e nesse post falo um pouco sobre o making of dela. Importante porque foi ali que comecei a gostar mais do fazer jornalístico.

14


Em dias banais


"(...)Depois eu deitei na nossa cama, na qual dormimos nossas 8 horas regularizadas e somos despertados diariamente pelo alarme do celular. O celular dela, só para deixar claro. O celular e os verdes dela. É por isso que eu minto tanto. O passar dos dias, beijos triviais. É por isso que eu minto tanto. Noite que cai, nosso amor só com paz. É por isso que eu minto tanto nesses dias iguais."


Tenho uma particular afeição pelo final desse texto. O início é bem simples e a história um pouco boba, mas gosto do modo como consegui deixar poético, sem beirar ao sentimentalismo exacerbado de outras horas.

13


Teoria número dezenove: sobre textos e pessoas

"Sempre achei semelhante o processo da escrita e o de saber a importância de uma pessoa. Quando termino de escrever um texto e preciso relê-lo muitas vezes para que goste, é sinal de que há algo errado. Bem errado. Significa que ele simplesmente não está excelente, porque o texto com qualidade é aquele em que lemos e que não precisamos tentar nos convencer de que está bom."

Uma das mais recentes teorias e que também explica bastante da minha visão, de como vejo o mundo. Observo e gosto de explicar as situações através da literatura, do texto. Nesse caso faço uma comparação entre o processo de conhecer uma pessoa e o processo de escrever um texto, ao meu ver, semelhantes.

12

Paisagem Noturna


"(...)Foi a paisagem noturna que me ajudou realmente a me enxergar. Pude me ver com outros olhos (ou com os olhos do outro), mesmo que infimamente. Acredito que meu outro esteja na noite, no cheiro dela, no modo como ela se espalha pelo céu fechando o sol, iluminando de um modo diferente as pessoas, quieta, insolúvel, necessária."

Esse post entra no top porque é um dos primeiros que mostra uma das características que eu gosto de explorar nos textos. O outro lado, o duplo, aquilo que nós também somos, mas dificilmente revelamos. Nesse caso, fui mais explícito dando um exemplo próprio.

11

Obstáculo 8


"O problema é o tempo. As horas tendem a não combinar com os acontecimentos (pelo menos no meu caso). Sempre quebradas em vários terços diferentes, que teimam em se enrolar nas minhas mãos, no pescoço."

Esse obstáculo mostra o tempo como carrasco. Gosto do texto, porque ele é bem amarrado, fechado nele mesmo. Muito ritmado também, a solução que encontrei para a falta de tempo é a literatura, só ela pode cristalizar e parar os momentos.

10

Das manhãs

"Foi por entre o forte cheiro de café, no meio das cascas de pão que preenchiam a mesa e ao redor do som das notícias espalhadas pelo rádio que eu percebi. O dia lentamente acordava, quando Aline chegou-se para sentar à mesa, ao meu lado. Trazia com ela a cara de sono, as leves olheiras brotando por baixo dos olhos castanhos claros, e o seu corpo vestia uma das minhas camisetas – que nela tornava-se larga o suficiente, confortável o suficiente...."

Ah, sempre achei bonito o cotidiano e para mim nada mais normal do que um café da manhã. Ao mesmo tempo gosto quando as ações emergem da simplicidade, e nesse caso a simplicidade venceu as notícias ruins do radio, a mesa, tudo, tudo.

9

Teoria número dois: sobre falsas aproximações e amores fugazes

"
Já disseram que o universo está expandindo. E eu falo mais: todos nós estamos nos afastando também. Pouco a pouco, talvez, mas cada vez mais indo embora por completo. Não encaro mais as coisas como simples proximidades, as pessoas se conhecem, mas não permitem mais se aceitarem inteiramente..."

Uma das minhas primeiras teorias e das que mais me agradam. Acredito que consegui ponderar entre o que sentia no momento com bons argumentos. A linguagem é simples, mas não simplória e pinta um belo retrato das falsas aproximações.

8


A gente é e não é - postagem temática

"Você não fuja da minha história, desejo que saiba a causa deu ter feito isso. Não, não levante da cadeira, trate de se sentar, não quero esse medo escancarado no rosto do homem da cidade. O que vão pensar de mim lá no seu jornal? Mas chega de trela-trela. O que se sucede é que o que houve não era algo planejado; e nem foi pensado em última hora. Simplesmente aconteceu, tal qual o cavalo aprende a estancar de pé, a galopear e depois sai andando pelo campo afora. Até encontrar uma portera fechada, daí, só daí, ele se acalma.. A gente é e não é..."

É importante porque foi a primeira postagem temática e uma das que mais gostei. Talvez o texto deva ser mais elaborado e melhorado no futuro, mas a ideia de máscaras havia me inspirado a mais uam vez escrever sobre aquilo que não beira a superfície. Nesse caso a estranha história de um senhor de uma cidade do interior.

7

Porque nem tudo é amor

"É estranho perceber quando a paixão acaba por uma pessoa. Você pode deixar de se sentir apaixonado por alguém porque a imagem idealizada que você construiu na sua cabeça, por qualquer motivo simples, desapareceu. A paixão é muito frágil e tem tempo contado..."

Esse post é importante para mim, pois me ajudou a organizar os pensamentos naquela época. Eu que sempre precisei colocar tudo no papel primeiro para depois pensar em como agir. Escrever sempre foi um refúgio e uma solução.

6

Em todas as horas

"Eu te amo./E não é nem meio dia./Imagina quando chegarna metade da nossa vida..."

Um poema onde a temática é o amor fazendo uma analogia com as horas do dia. Gosto dele, porque ele é simples na linguagem, mas um tanto rebuscado na forma e no arranjo, justamente o modo como gosto de escrever poemas.

5

Teoria número seis: sobre escondimentos e o ato de se apaixonar

"(...)Quanto mais você ultrapassa as camadas, quanto mais descobre as pessoas, maior tendência você tem a se apaixonar. John Lennon estava certo quando dizia que você tem que esconder o seu amor: encontra-se aí toda a graça da vida, esta aí o motivo principal de existir."

É uma das minhas teorias em que consegui elaborar mais sobre o tema e foi onde ganhei mais gás para manter essa postagem mensal. E é realmente uma das teorias que realmente se comprova na minha vida. Ainda acho que o amor vem em ondas e mantém o mesmo trajeto, passando por várias camadas. É aquela ideia sempre presente nos meus textos, em que você tem que ultrapassar as camadas mais superficiais para encontrar a narrativa certa. Ou nesse caso, o amor.

4

Todo dia seria sexta feira à noite

"Ela chegou lá pelas 22 horas e foi embora às 2 da manhã se segurando – quase caindo pelos lados e sorrindo de ponta a ponta – no pescoço de um cara que bem poderia ser o seu pai. Estava enfiada em um vestido bem curto, meio apertado e todo preto. Não sei o que os seus pés usavam, porque para eles nem olhei. Fixei observação em suas coxas, na tez branca lisa, na quantidade exata de pele em um espaço milimetricamente moldado..."

Um dos meus textos favoritos, a começar pelo título. Acho que aqui utilizo bem uma característica que sei que é uma das minhas maiores qualidades. Explorar uma cena minuciosamente e a partir dela exibir todo um conjunto maior. Do pequeno para o amplo. As coxas brancas surtem efeito avassalador em um homem totalmente acostumado ao casamento.

3

Meu tipo de erro favorito

"E lá vamos nós novamente. Joga a chave da casa para fora. Enche a mala. Pega as suas roupas favoritas. E corta. Lá vamos nós novamente. Faz essa cara de braba, não me perdoa por mais nada. Guarda as mágoas da noite passada. Lá vamos nós novamente. Agora junta todos os sapatos, todos os pertences, pega as jóias que eu te dei e atira no bolso. Da calça jeans surrada. Do tempo que você usava, quando só era minha namorada. Isso. Não faz birra, fazendo birra..."

Outro dos meus favoritos, e mais uma vez sobre um casal com problemas. A história totalmente fictícia fala de um cara que ta acostumado com os erros da relação, com as brigas e sabe que nunca mudará. Vão continuar se desentendendo, mas logo já estarão juntos novamente. O tipo de erro favorito dele. Linguagem simples e ritmada, conseguindo um texto bem dinâmico e rápido. Passando a mensagem bem.

2


Perdidos entre as paredes

" 'Eu vou contigo para onde tu quiser', ela me diz meio bêbada, entre algumas latas de cerveja, que depois são espalhadas por nós rapidamente pelo assoalho de madeira. A música de mau gosto ainda passeia pelo ar. Assim como os nossos beijos que se misturam sem ordem, sem nexo, confundindo as peles, e contornando a boca, exalando liberdade."


É um dos meus favoritos textos, porque ele consegue ser conciso, denso e aberto. É também o primeiro, talvez em que consegui escrever desse modo. Mostrando tudo, mas também escondendo tudo, não foi fácil até consegui construir um texto curto aberto sem soar estranho; bem como eu queria escrever na época – e como continuo querendo.

1

Das Uniões

"(...)Acho que o meu desafio como jornalista, como pessoa que gosta de escrever, como pseudo escritor (ou escritor que gostaria de ser) é unir esses dois cortes, esse dois jeitos de se ver uma história. A clareza unida a uma sensibilidade atemporal."

Postagem importante porque foi quando comecei a me dar conta de como queria escrever, o começo de tudo digamos assim, de certa forma uma epifania. Pensei em misturar o texto jornalístico, com a sensibilidade da ficção, que sei que possuo. Tudo isso traduzido em um corte diferenciado. Aprendendo a cortar palavras e ideias com o jornalismo, mas também com aquele outro corte, o mais sensível, e o atemporal oriundo da arte literária. É o que tento fazer nessa luta diária e necessária, mas sempre recompensadora.




domingo, 13 de dezembro de 2009

Quero ser Jeff Buckley

Trago alguns vídeos do grande guitarrista/cantor/compositor que morreu em 1997, precocemente com apenas 31 anos. Melhor não escrever muito, assim como sua vida curta composta por poucas páginas, é melhor deixar as músicas falarem por ele, e as belas guitarras:







E aqui um belo cover de Nina Simone

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entabuados - postagem temática


Agora é como num jogo de damas

E a partida já começou

Percebeu também?

Nós somos pedras de cores diferentes


Branco e preto

Preto e branco


Quem vai capturar o outro primeiro?

Defender com todos os argumentos

o seu próprio exclusivo

e egoísta governo


Preto come o branco

Branco come o preto


Será que realmente nos conhecemos?

O lance só está completo

quando avançamos

casa

a

casa


E sinceramente não vejo

chance de terminar

empatado


O final é cada um para

o seu lado


Branco come o preto

Preto come o branco


Assim como o seu desespero atravessado

lembrando que não há jeito

só há disputa

em torto aguardo.


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Essa postagem faz parte do projeto Blogsintonizados

O tema dessa edição é Branco e Preto.

Minha sugestão para a próxima edição é sexo.

Entrem no Blog e participem! =)


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Meu você

Eu cresci acostumado com o seu barulho ao entrar em casa. Eram sempre os mesmos passos: a batida notadamente forte na porta, a estridente caída de chave metálica na mesa e os seus pés preenchendo o silêncio que a casa entendia. E não era só a casa, todos nós entendíamos também e sabíamos de imediato que você havia chegado, porque a atmosfera nos mudava. A sua presença tão distante fazia contraste com o tanto, tanto, tanto do que nunca dissemos um ao outro. E é assim que a sua imagem permanece em minha mente. Fixa, intragável e sempre longe.


E é assim que ela provavelmente permanecerá.


Não adianta construir uma ponte ou um barco. O tempo já não permite tais intervenções entre as nossas estradas. Tudo apagado pelo que eu gosto de chamar de “blecaute mental”. Tudo diluído pelo que eu gosto de chamar de “contraste relevante”. A gente desliga o que não deve importar. Só me lembro da distância metálica da chave, dos seus passos pela casa e a porta batendo cada vez mais forte. Fechando tudo. A música solitária.


Droga que muito de você, eu também vejo em mim.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Do que nunca será

Joga para mim

os cabelos pretos


Desmaia em prantos

toda a conversa que tivemos

ontem à noite


Deixa seus pés encostarem

nos meus


[juntinhos


Mesmo que somente por instante


[juntinhos


larga a tua mão

e prende a paciência


a contragosto mesmo

vira para mim e ri

vira para mim


e


mais uma vez


por momentos, insignificantes, apenas


[juntinhos