domingo, 9 de agosto de 2009

Há quarenta anos em uma rua na Inglaterra


Ontem às 10h34min da manhã há quarenta anos, os Beatles atravessavam uma faixa de segurança na rua que se tornaria mundialmente famosa, a Abbey Road. O fotógrafo Iain Macmillan subiu em uma escada e tirou apenas seis fotos. A sessão durou cerca de quinze minutos, “eles deram a MacMilan pouco tempo, enquanto um policial segurava o trânsito, a banda caminhou pra frente e para trás várias vezes e nada mais do que isso”, conta um amigo do fotógrafo que estava presente no momento.

Brian Southall, autor de um livro que conta a história do estúdio EMI, diz que a ideia surgiu a partir de um desenho de Paul McCartney, baixista da banda, “há um desenho que Paul fez de quatro homenzinhos estranhos atravessando uma faixa de pedestres, com base nisso a foto foi realizada”.


Um detalhe curioso é que essa capa é possivelmente a que mais evidencia a construção do mito “Paul está morto!”, que surgiu em 1966 depois de um possível acidente de moto do baixista do quarteto. O fato de que McCartney aparecia sem sapatos (mortos são enterrados assim), segurando o cigarro na mão direita (ele era canhoto) e com o passo trocado em relação aos outros componentes só serviu para aumentar ainda mais a construção do mito. Ainda há o fusca no canto esquerdo, que possui a placa 28IF, um lembrete de que Paul teria 28 anos se estivesse vivo.

É interessante notar que não observamos mais mitos musicais dessa magnitude de anos para cá. Ninguém mais brinca com as capas de discos, ou melhor, daqui alguns anos, elas serão apenas artefatos de pesquisadores musicais e de colecionadores. Antigamente era todo o pacote que importava. Cada vez mais somos empurrados para as migalhas de tudo. Uma mp3 aqui, outra ali. Só isso. A ideia de conceito que teve seu ápice na década de sessenta e setenta na música foi se esvaziando com o tempo.

O significado escondido por trás da capa traz uma ideia de simbolismo, que é o cerne de qualquer composição artística de qualidade. É justamente essa preocupação na a dualidade estética e histórica de Abbey Road, que dá uma maior valorização a banda. A conclusão mais óbvia da foto é a de que Lennon, de branco, representa a religião (ou o próprio Deus, uma vez que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo), Ringo, a igreja ou o padre, Paul o cadáver e George o coveiro.

Contudo capas como a de Abbey Road continuam a ser idolatradas por muitos artistas, que a parodiam de várias formas:

A banda Red Hot Chili Peppers, se rendeu ao charme da capa, ficando nus ao atrevassar uma rua:



Já os Simpsons também deram o ar da graça:

Assim como os brasileiros, cada um do seu jeito:

A verdade é que mitos são necessários para a humanidade, porque eles servem para consolidar um pensamento. E também para mexer com a imaginação das pessoas. A sociedade é feita de milhares de tipos diferentes de mitos, muitos deles impostos no cotidiano. A foto de Abbey Road está aí para nos lembrar disso.

Ah, não observem só a capa, escutem o disco também, vale muito a pena.
Favoritas: Golden Slumbers seguida de Carry the weight, Something, Come together e a genial You never give me your money.

4 comentários:

Leila Ghiorzi disse...

Por isso que eu gosto de ti!
Além de escrever maravilhosamente be, escreves sobre a melhor banda do mundo!!
huahauhadu

Vamos certo no show do Billy Shears?
\o/

Leila Ghiorzi disse...

correção: maravilhosamente bem
hehe

G. disse...

Sem dúvida, mitos e ídolos são necessários, ainda mais quando se trata de Beatles! hehe. Beijo

gregtest disse...

Lembro daquela análise semilógica que tu fez da capa do Abbey Road, era muito boa.

Sobre os mitos: sem dúvida eles são necessários. Na verdade talvez fosse melhor dizer que eles são inescapáveis. O que não é, felizmente, o mesmo que dizer que são indestrutíveis ou incriáveis.