segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Teoria número vinte: sobre a loucura, realidade e várias perguntas
Um louco não pode estar certo?
O problema é a imagem realizada, a imagem feita, a compreensão do próximo apenas pelos próprios olhos. Por que não conseguimos sair de nossa restringida visão? Somos tão fechados em nossos malditos sentimentos, em nossos pronomes próprios, consequentemente preferimos sempre acreditar no que vemos. O ser humano é o mais medroso dos animais que habitam a terra. De alguma forma a imagem realizada nunca sumirá, nunca seremos aptos a ver o real por trás. E se não vemos, e se ninguém nunca viu, será que o real realmente existe?
domingo, 30 de agosto de 2009
Crônicas de um repórter novato - parte VIII
Eu sou um dinossauro. E o cometa já está chegando para me tornar um fóssil. É, já tava na hora de deixar combustível para as próximas gerações! Pode ser exagerada, mas a analogia é boa. Sinto-me um dinossauro na faculdade atualmente. Olho para os bixos (calouros que acabaram de entrar na faculdade) e fico imaginando o que eu pensava quando estava na situação deles, quando tudo é novidade. E a gente se empolgava por pequenas coisas.
A faculdade é uma coisa cruel, pois vivemos tudo intensamente. A começar pela sua divisão de tempo. É como se fosse dois anos em um só, cada semestre é na verdade, ao meu ver, 365 dias. Novas cadeiras, novos professores, e os mesmos colegas, aprendendo as mesmas coisas que você. E por ser poucos meses de aula em um semestre, a produção e a preocupação com as cadeiras se intensificam, fazendo com que o tempo se comprima e que as nossas cabeças experimentem a faculdade por mais tempo. Ela está sempre ali: presente, com os trabalhos, as provas, os professores idiotas ou os bons. Mesmo que você goste ou não.
Sempre tive uma relação de amor e ódio com Fabico. Sempre tive dúvidas sobre se estava fazendo a escolha certa. Mas eu nunca quis ser aquela pessoa que sabia exatamente o que queria fazer da vida eternamente. Não. Isso me entediaria muito. Eu sei o que eu vou fazer sempre: escrever. Mas ser jornalista? Eu realmente não sei até quando. Atualmente, tenho voltado a gostar da faculdade, talvez pela proximidade do seu término e a chance de fazer uma monografia boa, em que possa explorar o assunto que me interessa.
A minha certeza é o sentimento de “não pertencimento”, sabe? Quando você olha para uma pessoa e vê que ela já não é mais sua amiga, como antes. Ou quando percebe que aquela atividade que você gostava tanto, já não lhe é mais assim tão interessante. Eu entro na faculdade e não me sinto mais tão “pertencido” por ela. Mas acho que é normal, acho que é por aí. Afinal de contas, eu já sou um dinossauro mesmo.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Para depois
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Tudo outra vez?
"Há tempo, muito tempo
Que eu estou
E nessas ilhas
Cheias de distância
O meu blusão de couro
Se estragou
(...)
Minha rede branca
Meu cachorro ligeiro
Sertão, olha o Concorde
Que vem vindo do estrangeiro
O fim do termo "saudade"
Como o charme brasileiro
De alguém sozinho a cismar...
(...)
E vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, humor das praças
Cheias de pessoas
Agora eu quero tudo
Mas me parece um pouco exagerado a reportagem do Fantástico, e agora a cobertura do portal G1 sobre o assunto. Há algo estranho nisso, o site diz que muitos leitores o viram, principalmente em Colônia do Sacramento. Por que não o deixam em paz?
Não sei onde Belchior está, mas que de vez em quando dá uma vontade danada de desaparecer por um tempo, dá. Acredito que seja natural, às vezes enjoamos da rotina e precisamos dar uma volta. Talvez o cantor esteja fazendo exatamente isso agora, vendo a praça cheia de pessoas, vivendo coisas novas que também são boas, tendo tudo outra vez.
Ele já é um artista consagrado, não precisa ter grandes projetos, não precisa voltar com tudo com um novo hit. Ele pode se dar ao prazer de simplesmente sumir por um tempo, viajar e descansar. No fundo, quem não quer fazer isso?
domingo, 23 de agosto de 2009
O seu
sábado, 22 de agosto de 2009
Dos arredores para casa
Ah, só para descontrair, uma placa inusitada de outro parque em que visitei mais rapidamente:
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Agora de madrugada - postagem temática
Macbeth, Ato V, Cena 1
Os olhos minguados mal haviam se acostumado ao escuro que a madrugada ocupava com tanto vigor. Foram necessários esforço e tempo para levantar da cama, vestir o chinelo preto velho e mover-se ao encontro da porta. No caminho, não pude deixar de notar – mesmo com o sono, mesmo com o aperto suave das pálpebras invadindo meus olhos – pequenos pingos vermelhos formando um caminho. Vermelho cor escarlate, possivelmente ainda quente, encostado no chão, morto, com todas as suas diferentes substâncias e composições químicas. Os pequenos glóbulos no chão apontavam que a sua fonte estaria no banheiro. Não precisei de meio segundo para deduzir o que estava acontecendo.
Corri ao banheiro, mas estranhamente a porta estava chaveada. Joguei berros através da madeira seca, recém pintada de verniz, para ocultar sua velhice, mas não obtive resposta em nada. Nem grunhidos eu ouvia, reclamações, gritos de dor. Nada. A madrugada preenchia o vazio entre nós, e os minutos rondavam os meus pensamentos.
Apenas sete semanas que descobrimos da gravidez. Inesperada, mas não mal vista, casamento de cinco anos, situação regular de ambas as partes. Eu estava feliz, eu estava morno. Talvez um filho pudesse mudar a nossa situação. Tudo isso me atravessava, enquanto eu batia cada vez mais forte na porta que dividia a minha futura felicidade, ou melhor, a nossa futura esperança de felicidade.
Foi então que um estrondo contido, na parte interna da porta, respondeu aos meus suplícios. Esbocei uma reação homérica, quase teatral, para derrubar a porta, mas a falta de força, impediu-me de prosseguir. Lá estava eu, preso do lado de fora da minha felicidade, observando tudo sangrar aos poucos. Provavelmente do outro lado, Cinara havia finalmente cedido a hemorragia, desmoronando, batendo a cabeça e destruindo a nossa chance de melhorar como casal.
De repente, a porta do banheiro, assim como a cortina de um teatro finalmente se abriu, e Cinara, como a personagem principal de uma peça saiu sem me olhar, sem me dar a mínima satisfação, e caminhou de volta ao quarto. Observei à distância os seus passos certeiros e confiantes. Percebi também um corte recente, aberto, pouco profundo na sua mão esquerda.
Acompanhei-a de volta à cama. A tapei novamente com os lençóis, que agora voltavam a cumprir a sua mais primordial função. No rádio relógio meia hora já havia se passado. O bebê ainda continuava no seu lugar, e conseqüentemente a possível felicidade ainda estava garantida. Então deitei na cama, averigüei uma última vez o rosto de Cinara, virei para o lado e dormi.
sugestão: mudanças
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Ao som de Beast of burden eu vou ter que te dizer isso,
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Do nosso tempo
‒O que eu te disse de manhã?
‒Que tudo vai mudar com o tempo
‒Não me lembro de ter falado...
‒Mas eu lembro, olha pra mim enquanto eu converso contigo
‒Que porra...lá vai tu fazendo tempestade em copo dá água novamente
‒Que porra? To tentando falar contigo, por que você me diz essas coisas? Parece que eu nem sei mais quem tu é
‒Como assim? Eu sou a mesma pessoa de sempre, com o mesmo trabalho, as mesmas preocupações, nada mudou com o tempo.
‒Talvez seja esse o nosso problema...
‒Mas...mas...tu acabou de dizer que não tinha gostado que eu disse que tudo muda com o tempo ..
‒Então tu falou isso mesmo! Viu como tu mente para mim? Quem é a vagabunda? Quem é a piranha que vai mudar tudo?!
‒Puta que pariu, o que que nós estamos fazendo?
domingo, 9 de agosto de 2009
Há quarenta anos em uma rua na Inglaterra
Ontem às 10h34min da manhã há quarenta anos, os Beatles atravessavam uma faixa de segurança na rua que se tornaria mundialmente famosa, a Abbey Road. O fotógrafo Iain Macmillan subiu em uma escada e tirou apenas seis fotos. A sessão durou cerca de quinze minutos, “eles deram a MacMilan pouco tempo, enquanto um policial segurava o trânsito, a banda caminhou pra frente e para trás várias vezes e nada mais do que isso”, conta um amigo do fotógrafo que estava presente no momento.
Brian Southall, autor de um livro que conta a história do estúdio EMI, diz que a ideia surgiu a partir de um desenho de Paul McCartney, baixista da banda, “há um desenho que Paul fez de quatro homenzinhos estranhos atravessando uma faixa de pedestres, com base nisso a foto foi realizada”.
Um detalhe curioso é que essa capa é possivelmente a que mais evidencia a construção do mito “Paul está morto!”, que surgiu em 1966 depois de um possível acidente de moto do baixista do quarteto. O fato de que McCartney aparecia sem sapatos (mortos são enterrados assim), segurando o cigarro na mão direita (ele era canhoto) e com o passo trocado em relação aos outros componentes só serviu para aumentar ainda mais a construção do mito. Ainda há o fusca no canto esquerdo, que possui a placa 28IF, um lembrete de que Paul teria 28 anos se estivesse vivo.
É interessante notar que não observamos mais mitos musicais dessa magnitude de anos para cá. Ninguém mais brinca com as capas de discos, ou melhor, daqui alguns anos, elas serão apenas artefatos de pesquisadores musicais e de colecionadores. Antigamente era todo o pacote que importava. Cada vez mais somos empurrados para as migalhas de tudo. Uma mp3 aqui, outra ali. Só isso. A ideia de conceito que teve seu ápice na década de sessenta e setenta na música foi se esvaziando com o tempo.
O significado escondido por trás da capa traz uma ideia de simbolismo, que é o cerne de qualquer composição artística de qualidade. É justamente essa preocupação na a dualidade estética e histórica de Abbey Road, que dá uma maior valorização a banda. A conclusão mais óbvia da foto é a de que Lennon, de branco, representa a religião (ou o próprio Deus, uma vez que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo), Ringo, a igreja ou o padre, Paul o cadáver e George o coveiro.
Contudo capas como a de Abbey Road continuam a ser idolatradas por muitos artistas, que a parodiam de várias formas:
A banda Red Hot Chili Peppers, se rendeu ao charme da capa, ficando nus ao atrevassar uma rua:
Já os Simpsons também deram o ar da graça:
Assim como os brasileiros, cada um do seu jeito:
A verdade é que mitos são necessários para a humanidade, porque eles servem para consolidar um pensamento. E também para mexer com a imaginação das pessoas. A sociedade é feita de milhares de tipos diferentes de mitos, muitos deles impostos no cotidiano. A foto de Abbey Road está aí para nos lembrar disso.
Ah, não observem só a capa, escutem o disco também, vale muito a pena.
Favoritas: Golden Slumbers seguida de Carry the weight, Something, Come together e a genial You never give me your money.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Meu tipo de erro favorito
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
A gente é e não é - Postagem Temática
Veja bem, sei que o moço não está acostumado a essas nossas cidades pequenas, mas saiba: elas também não me iludem em mais nada. Há algo de podre em ares interioranos. Existe muito assunto escondido por baixo de uma família. Mas sempre há uma mulher tentando organizar as coisas, há de concordar. Sempre. E, desculpe perguntar, mas há alguma mulher na sua vida agora? Claro, o sorriso escondido prova que sim. Deve ser importante; mas digo, as importâncias podem variar muito. Uma hora é sim e outra é não. Tudo muda, sabe. A gente é e não é - e nunca sabe; mas veja quando isso desatinou de ocorrer eu ainda não entendia bem os sentimentos. Era jovem por demasiado, e quando a gente é jovem fica cego por qualquer mínima coisa. Por saia curta, por risada feliz, por estado que não existe. Demorei anos para entender que a cabeça é que comanda a existência. Pensamento controla pensamento – algo muito complicado, só o tempo trata de ensinar.
Mas não quero perder a linha narrativa, veja bem; só direi o nome dela uma vez, faz anos que não menciono, e prefiro falar assim de prontidão: Claúdia. Com a tônica no u mesmo. E pronto. Essa é a mulher da história. Agora, há muito tempo, nós tínhamos aqui na comunidade um pequeno festival que se realizava perto do final da primavera, da data eu não me recordo com exatidão. Pelo final de setembro, talvez o último sábado do mês. Nele consistia a comemoração da entrada da chuva. E até hoje não sei a razão certa do porquê, mas era tradição as mulheres usarem máscaras que elas mesmas tratavam de fazer.
Era muito bonito de se ver quando todas chegavam juntas à noite, cada uma mais diferente que outra, cada uma tentando brilhar mais forte, sabe. Aposto que não se vê uma coisa dessas na cidade grande. Veja, Cla...ela costumava participar todo bendito ano. Era a sua época mais feliz dos 12 meses, alguma coisa irradiava daquela mulher que não se via em qualquer outro momento. E, deus, ela trabalhava duro naquela máscara, queria sempre ser a que mais prendesse atenção, a que brilhasse no meio daquelas todas mulheres.
É a mesma ideia do cavalo, quando começa a correr: espera ser observado, olhado, vigiado, conquistado... Aquela sua felicidade ano após ano parecia só aumentar....de quem ela queria chamar a atenção? Havia algum vizinho nosso em que ela pousava os olhos com mais apreço?
Viste?
Era assim que meus olhos pensavam. Era assim que meu pensamento cavalgava. Mas, mas veja...se eu pudesse voltar atrás...Besteira. Ninguém pode voltar atrás, não é? E provavelmente, eu não faria nada de diferente. Seria o mesmo, com o mesmo pensamento do tempo.
Mas a quem ela queria chamar a atenção?
Nas últimas semanas que antecederam o dia do festival, era só nisso que ela falava, comprava tintas de várias cores diferentes, precisava ver, tecidos, purpurinas, e todas aquelas coisas que mulheres sabem bem o que é. Estava mais empolgado do que qualquer outro ano. Alguma coisa em mim odiava aquilo nela. Eu pagava tudo. Ela dizia obrigado e, mal e parcamente, falava comigo. Descia as escadas e se trancava sempre no porão e ficava lá por horas trabalhando em sua confecção. Não sei quantas máscaras ela deve ter feito. Eu já não mais sabia o que fazer.
Na minha cabeça era eu quem ela devia servir, você me compreende? Eram os meus motivos, as minhas razões, era em mim que ela deveria pensar enquanto fizesse a maldita máscara, você vê. A gente é e não é. A juventude humana...eu nunca vi animal mais imbecil. É por isso que comecei a gostar mais de cavalos. Eles simplesmente correm por impulso, não por egoísmo.
Perguntei para nossos empregados, se haviam visto alguma movimentação estranha. Se quando eu ia trabalhar, ela inventava de sair, ou alguém ia visitá-la escondida. Eles relutaram em responder na hora, eram três ou quatro bons serventes, mas gente sem nenhuma ou pouca educação. Insisti mais vezes, berrando com eles, quando o mais novo resolveu falar.
Era um moreno baixinho, me lembro ainda do seu rosto, a expressão de medo quando me disse que achava estranho o alfaiate da cidade vir tantas vezes na semana que passou, sempre trazendo um daqueles homens de madeira e deixando no porão. Ao passo que minha esposa não saia do local nem para recebê-lo, nem para adiá-lo. Instantaneamente procurei o tal do alfaiate, cheguei com o pé em sua porta e com o pé o derrubei também. É verdade. Agora você não dê nada por mim, mas na minha mocidade...não tinha um que me encarasse de força igual.
Quanto ao alfaiate, é claro que ele negou qualquer envolvimento, mas não escapou de algumas bordeadas. Com o rosto inchado as pessoas falam mais fácil às verdades. Descobri apenas o que eu já sabia, vários bonecos de madeira em formato de homens foram levados para o meu porão. Décio, o alfaiate, não sabia o porquê. Só sabia que ia ser pago e para ele era o suficiente. Homem regulado Décio era: às vezes é bom não saber o que as pessoas escondem.
Quanto a mim, eu sempre quis saber o que as pessoas escondiam. Principalmente se fazia referência a minha mulher. Foi então que resolvi invadir o porão e deparei-me com horrenda cena: ela nua, deitada no chão vestindo apenas uma máscara; vermelha, cobrindo os olhos, cheia de purpurina. Os bonecos em volta, todos vestidos como se estivessem numa festa, como se fossem ao festival. Você faz essa cara? Imagine a minha na hora.
Comecei a gritar coisas sem sentido para ela, ao mesmo tempo em que ela levantava do chão também berrando frases que ficaram anos batendo e voltando entre os meus ouvidos: ‘Agora é assim que eu vou viver! Eu também posso ser livre! Esta vendo essa máscara? É quem eu sou de verdade!’. Agora veja, o que eu poderia fazer? Eu estava descontrolado.
Lembras-se da metáfora do cavalo? Eu simplesmente corria. Todos aqueles bonecos a minha volta. Ela nua a minha frente, histérica. O que me lembro é de ela rolando a escada que levava até o porão e caindo, ficando estática para sempre. Foi essa a minha porteira. E ela continuava com a máscara. A gente é e não é. Mas não, não se afaste de mim assim, agora você sabe, eu também mudei.
Sugestão: Despedida.