quarta-feira, 31 de março de 2010

Teoria número vinte e sete: sobre a questão do narrador e a fuga do autor.

Imagine um personagem. Quais características você colocaria nele? A sua vida? O seu cotidiano? Todas as coisas que você faz no dia a dia? Não. Quer dizer, não assim tão entregue de imediato. Eu sempre imaginei que escrever ficção é fantasiar o seu personagem do modo mais realista ou mentir do modo mais verossímil possível (caso queiramos produzir literatura mais realista).


Acontece que muitas pessoas que gostam de escrever confundem o autor com o narrador.


Apesar de o conceito ser de fácil entendimento, quando a pessoa vai para a prática mete o “pé pelas mãos” muitas vezes porque não consegue se diferenciar. Não conseguem se despir e fugir dos seus pensamentos. Isto é, o autor (“pensamento da pessoa”) invade o campo do narrador (“pensamento do personagem inventado”).


E isso fica evidente principalmente nos textos narrados em primeira pessoa.


Já escrevi uma vez que era muito mais fácil escrever em primeira pessoa (pelo menos para mim), o problema é que é complicado que um texto desse tipo fique realmente bom. Justamente porque nesse tipo de texto o escritor deve fugir completamente de si para encarnar o personagem, deve ser o “eu narrador” apenas.


Rubem Fonseca é mestre nesse sentido, leia “O cobrador” para saber do que estou falando.


Talvez seja mais fácil começar a escrever como um narrador onisciente, aquele que saberia tudo o que está acontecendo em todo o universo do texto. Mesmo assim é sempre necessário fantasiar ao máximo, criar todo o campo necessário para a boa literatura. Que deve ser, sobretudo, singela, despida de furos do autor, mas podendo ter intervenções do narrador (como próprio machado fazia) e que às vezes deve mais sugerir do que mostrar.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

ah, não... ainda.