terça-feira, 23 de março de 2010

Carta 03

Rita,


O seu maior problema sempre foi pecar pelo exagero. E assim como toda sentimentalista você se perde em detalhes e em emoções baratas. O pássaro do Julio não teria morrido se ele soubesse cuidar direito, ou seja, se você tivesse ensinado o menino a cuidar melhor do tal bicho. As coisas morrem, mas algumas morrem antes da hora, não? Posso não ter sido a melhor mãe do mundo, mas você também nunca foi de se aproximar – reclusa no seu canto, cheia dos seus medos.


O que posso fazer se nascemos tão diferentes?


Por favor, peço que não transmita a sua sina ao meu neto. Ele não merece viver com vergonha e ele não merece ficar se remoendo pelos detalhes toda hora. Rita, a vida é um livro que você não leu e não teve a coragem de tentar passar do primeiro capítulo. Agora, não me venha dizer que somos distantes; não, agora não me venha dizer que eu lhe afastei. Que tem medo, repulsa ou qualquer outra coisa que um psiquiatra barato poderia dizer.


Esse muro, que só você enxerga, foi só você que construiu. Eu estou aqui no mesmo endereço que convivemos durante muito tempo. Se deseja “compartilhar alguma coisa que não seja a distância”, como você mesmo disse, por que não veio para cá ao invés de mandar uma carta?


A palavra escrita não consegue tocar o que realmente importa.


Renata


Em resposta à Carta 02


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