Foi quando resolveu levantar para ir atrás de uma vassoura que sentiu um líquido viçoso escorrer por entre suas pernas. Duas horas da tarde e ninguém da família em casa para socorrer Helena. O sinal de que seu filho estava pronto para nascer finalmente acontecera, mas por que em um momento tão desprovido de sorte, tão solitário? Malditos momentos errados, ela gritava na sua cabeça. Para logo depois ir ao telefone e discar para a irmã no trabalho. O telefone parece não cooperar com o momento também: chama chama chama e ninguém atende. Ô hora de querer sair, ô hora de querer descer. Pensou em amaldiçoar seu ainda não nascido filho, mas o pensamento foi tão rápido que se evacuou por entre um mar de ideias que deixamos de lado, que não valem a pena serem pensadas, ou mencionadas.
Era seu primeiro filho e talvez por isso ela não soubesse exatamente como agir. Não sentia dor. As peles das coxas passavam a conhecer o líquido que saia de sua vagina e deixava a roupa de baixo molhada. Tinha conhecimento que o trabalho de parto não começava necessariamente agora, mas seu espírito foi envenenado pela ansiedade – absolutamente natural para uma garota de 21 anos – e seu coração, graças a isso, pulsava em um ritmo frenético. Buscou o banheiro como opção para tentar se acalmar, tomaria um banho e aguardaria até que sua irmã chegasse do trabalho.
O bebê poderia esperar mais um pouco. Já esperara nove meses. Acabaria nascendo sobre o sol de gêmeos. No dia 6. Ela criaria sozinha e eles seriam felizes, apesar das dificuldades. Enquanto a água caia sobre os cabelos pretos de Helena, e enquanto a água limpava o líquido que se acumulava entre as coxas brancas, pensava em como tudo havia acontecido tão rápido e, ao mesmo tempo, tão devagar. A gravidez foi indesejada por certo tempo, mas acabou a unindo com a irmã mais velha, a única que a apoiara na família, quando decidiu não abortar.
“A gente vai crescer juntos”, ela pensava enquanto passava a mão na barriga e vestia a roupa para ir ao hospital. “Sem nenhuma merda de homem nos enganando”, continuava. Ela havia esperado por João um bom tempo, mas ele nunca voltara. Mas não importava mais. Agora ela era duas, ou melhor, três. Vestiu a roupa de baixo, vestiu a roupa restante e sentindo uma leve dor de cabeça resolveu se sentar na sala. Faltava pouco para que sua irmã chegasse do trabalho. Muito pouco. Faltava pouco para que Helena fosse mais de uma também.
Esse é um novo post que estou criando aqui no Contagens, todo mês farei um texto com uma ilustração. Quem fez a ilustração de inauguração para o post foi meu pai, Nilton Luiz Cardoso Gloria. Ele poderia ter sido um ótimo pintor, mas a vida dá vários caminhos. Espero que tenham gostado.
3 comentários:
Fico emocionada toda vez que vejo está imagem de um artista de um pintor de sensibilidade encantadora. Nilton meu amor eterno ,amor infinitamente infinito amor
que vergonha tinha que mostrar a cara
Meu filho um dia vais ler o q agora escrevo , tenho lembranças de ti, que jamais as terá pois são de um pai, são lembranças que só um pai presente as tem, sabes porquê? Porquê eras pequeno demais pra lembrar mas um pai lembra pra sempre pois é eterno o amor que tenho por ti, sinto tua falta.
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