domingo, 28 de fevereiro de 2010

Crônicas de um repórter novato – parte XIV

Toda entrevista é uma espécie de estupro.


Percebi isso depois de fazer várias entrevistas na mesma semana para uma matéria dupla. Na realidade, acredito que vamos percebendo algumas ideias, algumas noções aos poucos. Só sei que ela veio pronta em uma tarde, após eu finalmente fechar o texto da matéria. “Toda entrevista é uma espécie de estupro”, foi o que pulou do meu subconsciente e caiu direto na minha mão, escapando para os dedos.


É uma espécie de estupro, porque da parte do jornalista uma entrevista é algo totalmente egoísta, mas nem percebemos isso. Temos que fechar a matéria logo e é absolutamente necessário que a fonte de seu depoimento. Precisamos “roubar” as suas palavras, as suas convicções e crenças. Fazer isso e depois abandoná-la, não dar mais a mínima satisfação.


A não ser o resultado final, a matéria pronta. E às vezes utilizamos apenas alguma citação, ou poucos segundos de um trecho de uma conversa enorme na televisão, ou no rádio. E todo resto que a pessoa disse? O que fizemos com aquilo?


Não tem devolução.


Fica por entre nosso corpo, ditando as futuras ações. Melhorando as nossas futuras entrevistas também. Toda entrevista é uma espécie de estupro. Consentido ou não. Necessário ou não.

Um comentário:

Unknown disse...

lindo rafa parabens vocenasceu praisso beijos da tua mae