Você ainda veste aquela camiseta e mantém o mesmo endereço. O número de três dígitos conta quantos degraus há na escada, depois observa os seus passos esotéricos até o portão. E tudo desaba. Desaba novamente. Saí às 7 e 15 da manhã pega o ônibus e se desenrola. Pega a mochila e se desassossega no assento ao lado da mulher que cheira mal. O homem gordo encosta a barriga na sua cara e você tem vontade de vomitar. O cabelo bonito, comprido, castanho encaracolado que tanto cuidou e que tanto lavou antes de sair de casa todo dia às 7 e 15 da manhã – e que ninguém percebeu (não faz mal mesmo, você faz só para você)– ganhava um cheiro ruim. Graças a moça sentada no banco de trás, que fumava um cigarro bagaceiro. Ônibus de merda e você nem está bêbada para não dar bola para aquilo. Ônibus de merda e você ainda está na TPM e fica mal humorada para complementar com tudo. Você ainda veste aquela camiseta e mantém o mesmo endereço. Ela é roxa e cheia de adereços, a casa é azul e é de madeira pela metade. Desce do transporte quase caindo pelos lados e sem jeito, agora em uma diferente parada. Enjoada e com cólica dolorida. "É a vida".
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Mesmo endereço
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Um comentário:
Isso é que é adentrar-se no pensamento de um personagem e abrir a porta pro leitor.
Muito bem escrito!
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