sábado, 23 de janeiro de 2010

Na praia também


Não sou grande fã de praia e nem um grande fã do que o Luís Augusto Fisher escreve, mas sei que ambos são importantes para algumas pessoas. Falo isso porque achei no mínimo interessante a sua coluna do dia 19 de janeiro no Segundo Caderno (a parte de “cultura” da Zero Hora), que abordava a questão da falta de literatura inspirada pela praia. E como pelas bandas do Sul, Fischer é a maior autoridade para falar sobre literatura, além de MPB , futebol, e não sei mais o quê, tudo que vem dele eventualmente desperta a minha atenção – senão como leitor interessado, como leitor desinteressado.


Mas não quero me perder por meandros, sua coluna me deixou pensativo sobre a questão de não haver muita literatura produzida sobre praia e especificamente sobre as do nosso litoral, abandonado por Deus. Tirando Torres, todo o resto dele é semelhante em sua mediocridade: mesmo vento forte chato, água marrom gelada, e, com freqüência, águas-vivas para deixar aquela marca na perna dos mais desavisados, como esse narrador que vos escreve.


Apesar de tudo, não acho que o nosso litoral seja tão ruim a ponto de não poder inspirar boas histórias, talvez ele apenas ainda não tenha sido descoberto. É fato, a maioria de nós moradores do Rio Grande do Sul busca por praias de outros estados, ou viajamos para localidades onde o calor não impere. A desculpa normalmente é que lá as praias são melhores, com dunas brancas e águas transparentes que lembram piscinas de tão calmas.


Nesses lugares, porém, o que você menos terá é inspiração, pois boa parte do seu tempo será ocupado com o vislumbre – e isso não fornece literatura de qualidade. Experimente passar seu veraneio em Quintão, Cidreira, Magistério, ou Pinhal. Arroio Teixeira, Arroio dos Ratos, todas essas praias com nomes criativos, porque nelas há pessoas com tempo e com vontade fazer outras coisas além de aproveitar o mar e a areia. Nós não queremos pegar só sol, nós não queremos só se banhar. Por que não ler cinco livros, escrever bastante e manter seu corpinho no branco mais estiloso da estação? Aposto que em Porto Seguro você não conseguiria isso...


Nem em Porto Alegre, uma vez que o charme das praias gaúchas está naquele sentimento de finitude que ela nos transmite. Um sentimento que não pode ser encontrado em nenhuma outra parte do estado, quiçá do País (sem querer soar como um bairrista nojento, mas parecendo um pouco). Uma praia como Cassino com seus vários quilômetros de extensão em linha contínua não nos obriga a pensar um pouco sobre a vida ? É a imagem da mais pura e doce contemplação melancólica tão necessária, principalmente nesse período de férias que serve também para organizar o ano.


E tão necessário também na literatura. Talvez os escritores, ou os que anseiam um dia conseguir carregar essa ardilosa alcunha devam prestar mais a atenção nas águas e areias que banham o estado. Refletir sobre o que significa andar descalço na beira do mar com o vento forte te puxando para os lados. Pois sempre é tempo de reflexão, sempre é tempo de escrever - e por que não sobre, e sob, a areia?


Um comentário:

Titia disse...

Isso aí... Nossas praias despertam reflexões ímpares... Quantos escritos na rede da varanda enquanto o velho Unesul sacoleja pela Interpraias esburacada?
Só uma coisa: Arroio dos Ratos não fica no Litoral! hehe