O neto caminhava ao redor da tv na sala, quando Eduardo veio tentar conversar com Emília. Sua filha mais velha, aquela que fora embora mais cedo de casa e que ele não via há mais tempo. O próprio neto era quase um estranho, um estranho que adentrara sua residência e que ainda não havia se acostumado a lhe chamar de avô. “A que horas devo servir o café amanhã?”, perguntou a ela, sem nenhuma expectativa, quase como um mordomo. “Eu e o João vamos acordar lá pelas nove, mas quando o senhor achar melhor...” ela respondeu, também dando lhe pouca atenção. O pequeno agora tomara conta do controle remoto da televisão, mudava de canal freneticamente, diminuindo e aumentando o som, transformando a sala em um playground.
Com dificuldade, Eduardo chamou Emília para a cozinha, enquanto o neto permanecia na sala. Rondavam-se com desconfiança, até que o pai resolveu emergir do silêncio e rasgar aquele marasmo chato e amarelo, que os prendia por entre notas caladas. “Qual a idade do guri?”, soltou em condições amenas de respostas e ela disse que era 8. Disse também que havia puxado muito do pai e pouco dela. Estava em alguma coisa no modo como ele andava e comia, e das poses que fazia dormindo. Eduardo ouvia com atenção, seus olhos não desgrudavam de Emília que contava com muito prazer sobre o filho. Sentiu absoluta necessidade de saber tudo e compreender aquele momento único. Não queria ser apenas um estranho para aquela pessoa que se encontrava em sua sala. Ele era também sua família.
No outro cômodo, João brincava de trocar de canal o mais rápido possível e o ambiente se moldava a todos esses barulhos novos em uma casa antiga. E toda novidade do mundo brincava de acontecer e de ser tornar sempre – e por sempre – novidade novamente.
Um comentário:
Já vi cenas do tipo!
=)
Parabéns pela sensibilidade da abordagem.
Tá ótimo, como sempre.
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