domingo, 31 de janeiro de 2010
Teoria número vinte e cinco: sobre os nossos diferentes tipos de construção
Assim como o meu.
Eu também preciso impermeabilizar todas as frases do meu texto para ver se não há algum ponto que possibilita a entrada de erros, de críticas. Vou sempre observar a construção do nexo entre as sentenças, a originalidade e o modo como vou prender a atenção do meu leitor.
Do mesmo modo que você deve prender a atenção do seu cliente, explicando para ele o que ele deve evitar depois que você fizer o seu trabalho de não deixar a chuva invadir o patrimônio dos outros. De não deixar o mofo tomar conta das paredes e estragar toda uma casa.
Eu também não posso deixar o mofo invadir o meu texto e o meu estilo de escrever. Tenho que sempre observar a narrativa de diferentes ângulos e traçar toda uma armadilha para quem estiver lendo seja surpreendido. Ser original é necessário para não ficar mofado, verde cor de musgo no canto.
Você usa um material chamado mantas asfálticas para proteger o seu trabalho e eu também uso um manto. Um manto invisível para esconder a sub narrativa – aquela que justifica e dá valor ao bom texto – e deixo a narrativa de boas vindas mais à mostra – aquela que é a mais ilustrativa, aquela que é a mais superficial.
Sim, nós dois somos construtores e – mais do que isso – somos excelente no que fazemos.
Crônicas de um repórter novato - parte XIII
Na crônica anterior escrevi que essa coluna sairia do Contagens para outro blog, mas pensando melhor resolvi mantê-la aqui. Fiz isso porque a Crônica de um Repórter Novato é um momento único nesse espaço no qual posso refletir sobre a minha relação com o jornalismo, meus pensamentos, surpresas e medos.
É verdade.
Esse mês aprendi como o jornalismo realmente é, em sua essência, um trabalho em conjunto. Apesar de muito da nossa função como jornalista depender de afazeres individuais, principalmente quem trabalha no impresso, ele só funciona para valer na coletividade. Claro, você precisa de fotos para ilustrar a matéria, você precisa ouvir conselhos dos colegas, do editor. Pode até pensar na diagramação para dar um diferencial para a sua matéria.
Digo isso porque escrevi uma matéria sobre o show do Metallica e queria algo diferente no desenho da página a fim de deixá-la mais atraente aos olhos do leitor. Então resolvi conversar com o editor, trocar algumas ideias do que poderia ser, nisso a subeditora também já deu mais sugestões. Acabamos levando esse pequeno brainstorm para uma diagramadora com vontade de fazer algo diferente e que sabia lidar com certos programas de imagem e ela trouxe mais ideias. Enfim, acabou nascendo uma página bem legal, com a união de ideias e a vontade de fazer algo diferente.
Agora em janeiro também escrevi a minha primeira matéria em dupla para o jornal, outra experiência que se revelou uma grata surpresa. Uma vez que a ouvir e escutar a opinião alheia é um tremendo aprendizado, e é interessante como as ideias se moldam e são tranformadas por outras pessoas, gerando um novo trabalho que pode ser dignamente intitulado que foi feito em conjunto.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Volta sempre
pega todas as quinhentas mil roupas
e
deixa tudo que não precisa
de lado.
Dá um último suspiro para
o quarto.
Espia todos os recantos:
Não esqueceu nada?
Apaga a luz e sai.
Quando fechar os olhos
vai se lembrar
das minhas predilações.
E nesse momento
você volta sempre.
Agora você
volta sempre
pra mim.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Top 5 - Óculos e os músicos
O Top desse mês traz os cinco artistas também conhecidos pelos seus óculos. Pelas suas armações, as lentes e como elas influenciaram a moda e consequentemente a vida de muitas pessoas por aí. Foi então:
5 – Elton John
O cantor britânico é um exemplo de como os óculos se modificam conforme a mudança de época e de atitude. Na década de setenta e oitenta, Elton usava grandes óculos, sempre pomposos e bastante ilustrativos – chegavam até a roubar a cena às vezes. Agora, mais sossegado, os óculos estão mais tímidos, mais normais, com formato retangular deitado, mas ainda coloridos.
4 – Bono Vox
Lá pelos idos dos anos oitenta, quando o U2 começou a despontar Bono Vox ainda não utilizava óculos – o que hoje em dia é a sua marca registrada. A armação da Emporio Armani é desejada por vários fãs da banda, ou outras pessoas que tenham mau gosto...Sinceramente, não vejo grande coisa nesse tipo de óculos e não sei por que razão Bono decidiu adotá-los como visual. Mas a verdade é que atualmente não dá para imaginar o vocalista sem utilizar esse acessório. No mínimo, ficaria estranho.
3 –Buddy Holly
Buddy Holly não era bonito como o seu rival Elvis Presley, na realidade ele foi o primeiro no rock a não ser necessariamente bonito. Na verdade ele era um pouco nerd, tinha dentes feios e usava óculos. E que óculos. Com a armação grande, linhas direitas e aros escuros Buddy era jovem mas com ar de senhor. O cantor e guitarrista teve uma participação indiscutível na popularização e valorização do Rock’n roll, influenciando muita gente. Mesmo morrendo tão jovem, ele realizou muito – e admiro profundamente isso. O vocalista do Weezer, River Cuomo, é quase um sósia do cantor, prova de que os óculos de Buddy fizeram muita cria por aí.
2 – John Lennon
A armação redonda tão utilizada por Lennon virou ícone de uma geração contestadora. Ele começou a utilizar o modelo após ter saído dos Beatles, e com esse novo artifício acabou influenciando a moda dos anos 70. A armação pertencia a um produtor de TV japonês, que trabalhou como tradutor na época em que os Beatles se apresentaram em Tóquio. Quando Lennon foi assassinado, o produtor retirou as lentes, representando luto. De acordo com a tradição japonesa, só assim o ex-Beatle poderia ver após a morte.
1 – Bob Dylan
O cantor americano imortalizou o modelo Wayfarer, lançado pela Ray-Ban em 1952 e um dos primeiros feitos de plástico. Dylan sempre foi fiel à armação escura, que combina bastante com sua personalidade fechada. Graças ao astro, o acessório tornou-se objeto de desejo para milhares de fãs e é peça comum do visual folk e rock n’roll. Atualmente os mods, indies e outras estirpes adotaram o visual. As cores também variam bastante, indo do branco até o verde limão.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Na praia também
Não sou grande fã de praia e nem um grande fã do que o Luís Augusto Fisher escreve, mas sei que ambos são importantes para algumas pessoas. Falo isso porque achei no mínimo interessante a sua coluna do dia 19 de janeiro no Segundo Caderno (a parte de “cultura” da Zero Hora), que abordava a questão da falta de literatura inspirada pela praia. E como pelas bandas do Sul, Fischer é a maior autoridade para falar sobre literatura, além de MPB , futebol, e não sei mais o quê, tudo que vem dele eventualmente desperta a minha atenção – senão como leitor interessado, como leitor desinteressado.
Mas não quero me perder por meandros, sua coluna me deixou pensativo sobre a questão de não haver muita literatura produzida sobre praia e especificamente sobre as do nosso litoral, abandonado por Deus. Tirando Torres, todo o resto dele é semelhante em sua mediocridade: mesmo vento forte chato, água marrom gelada, e, com freqüência, águas-vivas para deixar aquela marca na perna dos mais desavisados, como esse narrador que vos escreve.
Apesar de tudo, não acho que o nosso litoral seja tão ruim a ponto de não poder inspirar boas histórias, talvez ele apenas ainda não tenha sido descoberto. É fato, a maioria de nós moradores do Rio Grande do Sul busca por praias de outros estados, ou viajamos para localidades onde o calor não impere. A desculpa normalmente é que lá as praias são melhores, com dunas brancas e águas transparentes que lembram piscinas de tão calmas.
Nesses lugares, porém, o que você menos terá é inspiração, pois boa parte do seu tempo será ocupado com o vislumbre – e isso não fornece literatura de qualidade. Experimente passar seu veraneio em Quintão, Cidreira, Magistério, ou Pinhal. Arroio Teixeira, Arroio dos Ratos, todas essas praias com nomes criativos, porque nelas há pessoas com tempo e com vontade fazer outras coisas além de aproveitar o mar e a areia. Nós não queremos pegar só sol, nós não queremos só se banhar. Por que não ler cinco livros, escrever bastante e manter seu corpinho no branco mais estiloso da estação? Aposto que em Porto Seguro você não conseguiria isso...
Nem em Porto Alegre, uma vez que o charme das praias gaúchas está naquele sentimento de finitude que ela nos transmite. Um sentimento que não pode ser encontrado em nenhuma outra parte do estado, quiçá do País (sem querer soar como um bairrista nojento, mas parecendo um pouco). Uma praia como Cassino com seus vários quilômetros de extensão em linha contínua não nos obriga a pensar um pouco sobre a vida ? É a imagem da mais pura e doce contemplação melancólica tão necessária, principalmente nesse período de férias que serve também para organizar o ano.
E tão necessário também na literatura. Talvez os escritores, ou os que anseiam um dia conseguir carregar essa ardilosa alcunha devam prestar mais a atenção nas águas e areias que banham o estado. Refletir sobre o que significa andar descalço na beira do mar com o vento forte te puxando para os lados. Pois sempre é tempo de reflexão, sempre é tempo de escrever - e por que não sobre, e sob, a areia?
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Canto de navegação
Para Juliana Gloria
Me prega uma peça
cheia de reviravoltas,
regada a armadilhas
das várias formas
que existem no mar.
Depois ri de mim,
como quem canta para sereias.
E me diz todas as melhores mentiras,
as histórias de pescadores
que já ouviu.
Prometo acreditar fielmente,
somente na metade.
A outra,
eu vou imaginar.
A outra,
eu vou destruir,
misturar com ondas
e navegar.
Das danças
sábado, 16 de janeiro de 2010
É preciso sempre mais.
Parem com esse drama, falem as coisas na cara. Somente essa sentimentalidade exacerbada não salvará nenhum de vocês. Sério mesmo. Nenhum. Isso é só o começo, aliás, talvez isso seja só a primeira sílaba do começo! É preciso muito mais. É preciso transformar todo esse misto de confusão, de sentimento, de felicidade, alegria, tristeza em algo mais útil do que a simples liberação, do que a simples catarse infantil. Isso pode ter seu charme às vezes, mas rapidamente fica feio e chato. Muito chato. Além de repetitivo óbvio. Sério. Parem com esse drama.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Não é nada demais! - postagem temática
- Oi
esquecer. “Saudade de ti, por onde tu anda? Bjo” Uma tal de Adri assinou.
- Era uma amiga só, e não mete a cobra da sua mãe no meio!
mas é só uma amiga, tivemos um passado junto, mas acabou há tempo.
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Essa postagem faz parte do Blogsintonizados, entre lá se informe e participe você também. Será muito bem vindo.
Sugestão: mar.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Algo no sangue
O neto caminhava ao redor da tv na sala, quando Eduardo veio tentar conversar com Emília. Sua filha mais velha, aquela que fora embora mais cedo de casa e que ele não via há mais tempo. O próprio neto era quase um estranho, um estranho que adentrara sua residência e que ainda não havia se acostumado a lhe chamar de avô. “A que horas devo servir o café amanhã?”, perguntou a ela, sem nenhuma expectativa, quase como um mordomo. “Eu e o João vamos acordar lá pelas nove, mas quando o senhor achar melhor...” ela respondeu, também dando lhe pouca atenção. O pequeno agora tomara conta do controle remoto da televisão, mudava de canal freneticamente, diminuindo e aumentando o som, transformando a sala em um playground.
Com dificuldade, Eduardo chamou Emília para a cozinha, enquanto o neto permanecia na sala. Rondavam-se com desconfiança, até que o pai resolveu emergir do silêncio e rasgar aquele marasmo chato e amarelo, que os prendia por entre notas caladas. “Qual a idade do guri?”, soltou em condições amenas de respostas e ela disse que era 8. Disse também que havia puxado muito do pai e pouco dela. Estava em alguma coisa no modo como ele andava e comia, e das poses que fazia dormindo. Eduardo ouvia com atenção, seus olhos não desgrudavam de Emília que contava com muito prazer sobre o filho. Sentiu absoluta necessidade de saber tudo e compreender aquele momento único. Não queria ser apenas um estranho para aquela pessoa que se encontrava em sua sala. Ele era também sua família.
No outro cômodo, João brincava de trocar de canal o mais rápido possível e o ambiente se moldava a todos esses barulhos novos em uma casa antiga. E toda novidade do mundo brincava de acontecer e de ser tornar sempre – e por sempre – novidade novamente.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Dos ambientes
Escrever não começa quando você senta na sua cadeira em frente ao computador e muito menos tem início no momento em que os seus dedos deslizam no teclado, formando as palavras. Para conseguir escrever qualquer tipo de texto com qualidade – importante frisar isso –é necessário, antes de tudo, pensar no ambiente. Pois escrever realmente começa quando você, além de ter uma boa ideia, possui o ambiente certo para expeli-la.
E ao referir-me a ambiente não penso apenas no local em que a pessoa se encontra, mas principalmente no seu estado de espírito, de consciência. O ambiente interno, invariavelmente, influi – e muito – nas suas ideias perante o texto. Mesmo que seja um texto não ficção, onde se trabalha com dados concretos e sobre pessoas que normalmente não se tem maiores conhecimentos.
No caso do texto jornalístico, destinado a vários tipos de leitores, é necessário que as suas aflições perante outros problemas ligados a sua intimidade sejam suprimidas momentaneamente e que a atenção, os medos e os problemas, virem-se apenas para o objeto a ser dissertado.Isso mesmo, todos os seus sentimentos devem-se “casar” com o texto que escreve. Andar de mãos dadas. Seus problemas serão substituídos pelos problemas do texto e você deverá resolver esse delicioso quebra-cabeça, que é escrever.
Na ficção é um pouco mais complicado, porque você trabalha normalmente com dados inventados pela sua cabecinha e tudo que de mais louco e mais normal há dentro dela. Logo, só há um ambiente, mas esse ambiente origina milhares de outros que criarão a literatura. Na fantasia surreal que é imaginar não há limite para nada, assim como na ficção, assim como, de certa forma, na vida. É mais complicado escrever sem limites, porque não há regras, contudo, é o mais libertador e – para mim – necessário.