terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma metamorfose ambulante


Capa do Disco London Calling do The Clash

“É apenas rock’n’roll, mas eu gosto” é o que diz a letra da música It’s only rock’n’roll but I like It, famoso hino do rock escrito em 1974 pelos Rolling Stones, banda liderada por Mick Jagger. Assim como todo gênero que se presta, o rock aprendeu a falar sobre si mesmo com muita qualidade desde que surgiu, lá no final da década de 1940. Foi a canção Rock around the clock, de Bill Haley em 1955 que se tornou a primeira desse novo estilo a chegar ao topo de parada de vendas e execuções da revista Billboard nos Estados Unidos, abrindo caminho mundialmente para uma nova onda da cultura popular.

Bill Halley era o terror dos pais de uma geração que aprendeu a dançar com a música do artista: “Ponha seus trapos alegres e aproveite comigo/Nós vamos dançar rock, nós vamos dançar rock até o final da noite”. Mas tudo bem, esses mesmos pais acabariam se rendendo mais tarde, ao notarem que não adiantaria lutar contra o novo estilo de música, ou até de vida. Quatro meninos vindos de Liverpool, uma cidade portuária e cinzenta na Inglaterra, confirmariam essa tese em 1964. Quando I wanna hold your hand do conjunto britânico começou a tocar nas rádios americanas, a transgressão de “querer segurar na mão, e de sentir aquela coisa especial” como diz a letra, já estava praticamente consolidada.

E como toda boa transgressão, o rock está sempre se modificando, afinal ele precisa ser “aquela metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, como explica um dos ícones brasileiros do gênero, Raul Seixas. No final dos anos 1960, devido à guerra do Vietnã e a um conservadorismo ainda em voga, o rock se torna a válvula de escape dos jovens que encontram no gênero uma forma de contestação. Novos subgêneros surgiriam introduzindo mais originalidade em suas composições além de conceitos musicais cada vez mais complexos. Bob Dylan é um dos artistas mais expressivos e influentes do período, antes de tudo um contestador, como fica claro na sua canção Like a rolling stone: “Como se sente?/ Por estar por sua conta?/ Sem direção alguma para casa?/ Como uma completa estranha?/Como uma pedra a rolar?”. Uma década tão celebrada só poderia acabar em um festival de proporções até então nunca vistas, onde a era hippie e a contracultura tiveram seu ápice: Woodstock com shows históricos em 1969.

Depois do caos sessentista, lá estava novamente o tal do rock se reinventando, agora o que começava a surgir eram o hard rock e o punk. As bandas se tornavam cada vez mais antagônicas, o que pode ser percebido na diferença entre Queen e Sex Pistols, ambas inglesas, mas de estilos totalmente distintos. Enquanto os Pistols trucidavam problemas sociais em suas letras e em seus poucos acordes de guitarra, o Queen em suas composições e arranjos bem trabalhados preferia cantar sobre temas normais como o amor e a própria música. Nessa época surgiu também o famoso show Live Aid, mais precisamente no dia 13 de julho de 1985, que reuniu grandes artistas a fim de angariar fundos para os famintos da Etiópia. Desde então, 13 de julho é também conhecido como o Dia Internacional do Rock.

Justamente por ser um gênero que se transforma, capaz de se adaptar ao comportamento de uma época, o rock é tão celebrado e tão cultivado até os dias de hoje. Onde o mundo da música se vê contaminado com o fenômeno da internet, e a facilidade que é se tornar conhecido. É o começo do rock cada vez mais independente e o fim das grandes gravadoras. Não há mais ídolos na música, e talvez o último gênio do rock tenha sido Kurt Cobain, que representou o grunge da década de 1990 em contraponto ao glitter das bandas de hard rock dos anos 1980, como o Bon Jovi. Assim como a vida, o rock nasceu para ser aquela metamorfose, sempre modificando padrões, associando comportamentos, nunca fugindo da sua natureza completamente transgressora. O bom rock vive e deve ser celebrado não apenas em uma data comemorativa como a de hoje, mas todo dia. Afinal, é preciso sempre lembrar das sábias palavras dos pintados do Kiss: “Eu quero rock and roll a noite toda e festa todos os dias!”

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Texto publicado originalmente hoje na capa do Panorama, caderno de cultura do Jornal do Comercio, em homenagem ao dia do rock - que, na verdade, deve ser celebrado todos os dias, não?


2 comentários:

Rodrigo Olsson disse...

Um blogueiro só escreve na internet e alguns leem,
mas aquele que é profissional publica no jornal! (rsrs)

Parabéns, texto muito bem pesquisado e escrito! Os velhos e bons tempos do rock, mas se faz necessário pensar: hoje não existe ROCK, existem ROCKS.

(para o bom e para o ruim - cada um com o seu).

Anônimo disse...

Rafael, já te sigo no twitter. Amei o teu projeto e vou colaborar mais. teu twitter é donzela_ju