E você não tem nenhum dinheiro a mais na carteira no fim da noite. Tem o dinheiro exato, contado; extrato da conta negativa, sem o pai para bancar todos os seus problemas. E você que não acumula nem uma grande viagem para o estrangeiro, não sabe como é a vida em outro país – enquanto todos os outros, os seus amigos já passaram algum tempo na Europa vendo coisas que você, provavelmente, nunca verá. E eles comentam sobre o rio Danúbio à noite e depois descansam sobre os seus problemas superficiais, usando termos como “balada”, “noite”, e dizem fazer muito mais do que realmente fazem. E também falam de assuntos importantes, de política, de bens culturais como se dominassem toda a linguagem necessária para isso. Entram rapidamente em consenso, fazem gestos positivos com a cabeça selando acordo para esconder a mediocridade.“Nunca conheci quem tivesse levado porrada”. E você mal consegue dormir a noite se preocupando com o futuro. E você que escorrega por dúvidas e trabalha por quase nada. E você que esculpi ideias adornando frutos que provavelmente não brotarão. E você que só pelos livros conhece o fog londrino. “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”
Aspas do senhor Fernando Pessoa.
Um comentário:
Amei!
Ando farta das conversas em que as pessoas só falam dos êxitos e escondem todos os fracassos debaixo do tapete. Ou os ignoram, como se isto os apagasse.
É aquela generalizada neurose conhecida como "deixe-me ser celebridade por 15 minutos!" (argh).
Eta mundo besta!
Abraço e parabéns, Rafael.
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