terça-feira, 27 de julho de 2010

“Todos meus amigos têm sido campeões em tudo”

E você não tem nenhum dinheiro a mais na carteira no fim da noite. Tem o dinheiro exato, contado; extrato da conta negativa, sem o pai para bancar todos os seus problemas. E você que não acumula nem uma grande viagem para o estrangeiro, não sabe como é a vida em outro país – enquanto todos os outros, os seus amigos já passaram algum tempo na Europa vendo coisas que você, provavelmente, nunca verá. E eles comentam sobre o rio Danúbio à noite e depois descansam sobre os seus problemas superficiais, usando termos como “balada”, “noite”, e dizem fazer muito mais do que realmente fazem. E também falam de assuntos importantes, de política, de bens culturais como se dominassem toda a linguagem necessária para isso. Entram rapidamente em consenso, fazem gestos positivos com a cabeça selando acordo para esconder a mediocridade.“Nunca conheci quem tivesse levado porrada”. E você mal consegue dormir a noite se preocupando com o futuro. E você que escorrega por dúvidas e trabalha por quase nada. E você que esculpi ideias adornando frutos que provavelmente não brotarão. E você que só pelos livros conhece o fog londrino. “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Aspas do senhor Fernando Pessoa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei!

Ando farta das conversas em que as pessoas só falam dos êxitos e escondem todos os fracassos debaixo do tapete. Ou os ignoram, como se isto os apagasse.

É aquela generalizada neurose conhecida como "deixe-me ser celebridade por 15 minutos!" (argh).

Eta mundo besta!

Abraço e parabéns, Rafael.