Cobriu os pés com as meias avermelhadas, procurando calor. Esparramou os dedos por aquele tecido coberto de linhas e emaranhado de lã fabricada manualmente por alguma senhora antiga, com uma máquina velhinha. Começou a pensar em sua vó e deixou o queixo cair até a mão. Morreu tão sozinha aos 82 anos de idade, toda enrugada a danada. “Braba, toda braba. Tinha raiva de gente”, lembrou. E começou a esticar a perna e o pé já todo coberto pela nova meia que ganhara e começou a virar a cabeça para trás, aos poucos. Acabou caindo, caindo com as costas para o chão, o carpete todo marrom escuro amornando a sala. Esticou o pé para cima e reparou nas meias felpudas, quase vivas. Em movimentos aleatórios tapava com o pé esquerdo a lâmpada amarela e depois destapava, iluminando e assombrando o pequeno rosto.
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