quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Teoria número vinte e um: sobre relações e a distância entre

Todas as pessoas que você gosta em certo momento da sua vida vão se distanciar. É fato. Vão ficar longe ou fisicamente ou internamente. Isto é, minha ideia é que a distância é um dos fatores que definem a relação entre as pessoas. E não só a amorosa, serve para qualquer tipo, amizade, pais e filhos, enfim.


Acredito que essa seja uma questão forte na minha pessoa, uma espécie de karma (por que não?). A maioria das mulheres com que me envolvi com mais força amorosamente ou desejavam muito viajar, ou realmente viajaram. E quando voltaram não foi a mesma coisa ou o que tínhamos acabou de vez. Mas essa é a relação física que é talvez a “menos culposa” para os indivíduos.


O pior é quando a distância acontece dentro da relação normal, quando a gente percebe que quanto mais próximos as pessoas estejam, mais distantes elas ficam. É inverso, inversamente proporcional ao tudo que na lógica seria o correto. Contra isso só uma reaproximação a partir de conversas, de tentar chegar a um entendimento mútuo. Mas que muitas vezes pode não dar certo também.


Plagiando e mudando um pouco uma bela frase de Drummon às vezes acredito que as pessoas são incomunicáveis, todos nós deveríamos ficar tortos nos nossos cantos, não amar.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Crônicas de um repórter novato - parte IX

Agora será sempre assim.


Pelo menos até março.


Minhas horas têm sido parecidas com as horas do residente em clínica geral John Dorian (fotinho ao lado), personagem da série Scrubs. No episódio piloto, que mostrava o primeiro dia de J.D no hospital, ele chegou à conclusão de que não importasse o que fizesse, o hospital agora era a sua única certeza de presença constante. Fazendo um parâmetro com a situação, agora eu sei que a redação do jornal em que trabalho é também uma presença certa na minha vida – pelo menos, por enquanto.


Os jornais têm que sair, todos os dias. Por mais que eu não queira, ou não esteja com vontade, o trabalho precisa ser feito. É claro que não é no mesmo nível de dificuldade dos estagiários da medicina, mas a comparação é boa. Ambos hospitais e jornais não podem parar.


É engraçada toda a dificuldade inicial por qual passamos, até aprender alguns meandros. Na realidade, é necessário aprender a se virar sozinho. É claro que a presença de colega que nos auxiliem no aprendizado é fundamental, mas as verdadeiras ações devem partir de nós, estagiários. Seja de medicina, de jornalismo, de moda, de contabilidade.


Agora eu sei que a redação sempre vai estar lá, me esperando. Com os seus telefones tocando sem parar, com pessoas pedindo informações – que por muitas vezes eu ainda não sei dar –, ou com as suas dificuldades em conseguir pautas, fotos, entrevistas. Faz parte. Né. Ainda bem.

sábado, 26 de setembro de 2009

Cara Cecília, - Postagem Temática


Esse caso aconteceu há alguns anos aqui nessa casa, inclusive perto daqui, perto dessa sala onde estou localizado e onde escrevo essas palavras nesse momento. Desculpe se sou demasiado detalhista, mas é de detalhes que as pessoas precisam. Por isso que estou enviando essa carta, eu sei que posso lhe confiar essa história.


É quase certo que ninguém acreditará, mas eu não me importo com o que os outros dirão, contanto que alguém saiba, qualquer pessoa. Por sorte, ou azar, acabou sendo você. Não a vejo há muitos anos, mas de alguma forma você nunca saiu da minha cabeça. Tudo o que estou querendo dizer é que precisava desabafar sobre essa história que me deixa trancado em casa há anos. Que me fez perder dias, amigos, dinheiro, paz interior. Que me fez perder você.


Se lembra como eu costumava ser uma pessoa normal? Trabalhava, saia, fazia amigos com facilidade, dirigia o carro do ano, cumprimentava a todos no bairro. Eu tinha 30 anos e estava no auge. O tempo era meu amigo. Ser jovem não é isso? Achar que vai viver para sempre...


Claro, você estava comigo naquela época, quando tudo começou a ficar mais escuro. A minha vontade de não sair de casa só aumentava e com o tempo os meus gestos se esvaziavam também, meus olhos já não contemplavam mais seu corpo. Eu diria que eles não contemplavam nada. Até hoje me perco no espelho com medo de não me ver. E quase nada vejo.


Acabei me apagando aos poucos.


Enfim, eu estava ficando cada vez mais distante, porque aconteceu algo comigo naquela época que eu não disse a ninguém. Não queria passar por louco. Dessa maneira, você acabou indo embora, acho até que você resistiu por muito tempo. Não havia como lidar com as minhas atitudes ou ações. Não a culpo, obviamente.


Tudo mudou quando eu desci ao porão numa tarde de primavera atrás de uma lâmpada. Você não estava em casa. Eu desci porque ainda estava claro e o sol entrava por frestas no escuro do porão. Foi lá que eu encontrei o que mudaria a minha rotina, os meus dias claros, o meu medo de liberdade. Foi lá que eu encontrei aquele maldito álbum de fotografias.


E veja só, não era um álbum comum. Ele tinha exatamente 50 páginas. Uma foto por cada página. Era grande, respeitável, marrom claro com dourado, ou melhor, as letras eram douradas. Estava todo empoeirado. Soprei e as letras formaram o meu nome: Tarcísio Freitas. Para a minha surpresa, quando folheei as páginas do álbum, encontrei em cada página uma foto minha que ocupava toda a folha, como já escrevi antes. Mas só para frisar.


Era estupendo e horrível, como isso poderia acontecer? Um álbum mostrando a minha cronologia até os cinquenta anos!? Lá estava eu quando criança, eu com 12 anos, com 18, com 25, com trinta, com 40 e com os malditos 50!


Você pode não acreditar, mas é verdade, eu tinha 30 anos e achava que o mundo era meu. Mas esse maldito álbum de fotografias me destruiu; e por que ele parava aos 50 anos? Eu morreria depois? Imaginei que poderia ser alguma graça sua, alguma graça de algum amigo do trabalho, ou algum amigo antigo, mas não via real motivação para que isso acontecesse.


E como eles produziriam aquilo tão bem? Era meu rosto ali. Eram fotos que, até então, eu nunca tinha visto. Como se a porra da câmera tivesse capturado toda a minha essência, as minhas futuras essências também, brincando com a minha vida. A partir daí não consegui mais largar o álbum, vivia com ele para todos os lados. Tentando vislumbrar o futuro, me trancando em casa com medo de que alguma coisa pudesse acontecer comigo lá fora. Eu deveria me guardar de tudo. Me guardar com aquelas fotos.


Vasculhei inúmeras vezes aquele maldito porão atrás de outras evidências. Mas a cada ano que se passava, eu parecia exatamente com a foto do álbum. Os cabelos brancos chegaram e quando percebi os 49 anos batiam a minha porta. É certo que você irá se perguntar porque não coloquei ao fogo o maldito álbum, por que não procurei ajuda, ou porque não aceitei ajuda das várias pessoa que vieram me procurar.


Não aceitei ajuda simplesmente porque elas não acreditariam no que estou contando para você. Não espero que você acredite também, mas é a pura verdade. Me dariam por louco e eu acabaria internado em um hospício. Prefiro ficar conhecido por recluso, do que acabar em uma droga de hospício. E colocar fogo? Nunca faria isso.

Não saberia o que poderia acontecer ao meu corpo, a minha idade.


Meu aniversário será semana que vem, os cinquenta estão chegando. Já estou igual à foto. Talvez por isso tenha me motivado a escrever essa carta. Alguém tinha que saber dessa história. E como você foi a mulher mais importante da minha vida até então...besteiras atrasadas...


Provavelmente dia 12 próximo não estarei mais aqui. Quando receber essa carta, venha ao endereço que está no remetente, aonde encontrará um corpo velho e um álbum com 50 fotografias dele ao seu lado.


Tarcísio F.


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Sugestão: Fé

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Como uma mulher

A flor que tu me roubou
foi rápido, assim depressa que eu vi
suas mãos subirem o meu corpo
e ligeiramente, toda, me despir

Fugaz também foi a relação final
O costumoso beijo, perdeu-se na vontade
de me completar

Acabei gostando do que nunca
pensaria poder
gostar

Amei o jeito como suas pernas dobraram.
Como o seu cabelo se jogava ligeiramente
no meu
rosto.

Sua voz gemida, aos sussurros
e aquele som de felicidade
Eva-
po-
rando.

domingo, 20 de setembro de 2009

Todo dia seria sexta-feira à noite


Ela chegou lá pelas 22 horas e foi embora às 2 da manhã se segurando – quase caindo pelos lados e sorrindo de ponta a ponta – no pescoço de um cara que bem poderia ser o seu pai. Estava enfiada em um vestido bem curto, meio apertado e todo preto. Não sei o que os seus pés usavam, porque para eles nem olhei. Fixei observação em suas coxas, na tez branca lisa, na quantidade exata de pele em um espaço milimetricamente moldado. Tão jovem e tão bonita. E com um cara que poderia ser seu pai. Ainda mais um assim tão acabado, ainda mais um assim que segura o cigarro vagabundo com as pontas do dedo sujas. O cabelo mal emparelhado. Aposto que você nem sabia o nome. A cena era esdrúxula e repugnante, apesar disso, talvez por revolta própria ou talvez pelas coxas dela tão a mostra, acompanhei o passeio cambaleante dos dois e logo virei os olhos em sinal silencioso de reprovação...


Adélia, minha esposa, percebera todo o movimento dos meus olhos, que fugiam e voltavam para a coxa branca da desconhecida, acompanhando o seu trajeto até a saída. Por sinal, nossa cena era esdrúxula também: Adélia me observando e eu vislumbrando o bizarro casal.


Será que alguém observava Adélia?


Foi um ligeiro e premeditado tapa no meu braço que me fez voltar para a mesa do bar, para o casamento, para a instituição de fidelidade. O tapa também veio acompanhado da voz fina, agora temperada com um pouco de rancor: “me pega mais um drinque no bar”. E só. Nada de me chamar pelo nome, de falar com aquela voz meiga de quase bêbada que eu conheço tão bem. Só me empurrou o copo, que ostentava como um prêmio entre as várias marcas circulares de cerveja na mesa.


Segui quieto até o bar, tranqüilizado pela promessa do que estava em troca: depois que pegasse a bebida, o rancor já teria passado, ela voltaria a beber e, como sempre, falaríamos da semana, e sobre os problemas dos nossos respectivos trabalhos. É assim que funciona. Adélia e eu costumamos sair toda sexta à noite para fugir da nossa rotina de casal recém oficializado e que namorou muitos anos antes de subir ao altar. Como se fosse possível criar um muro que dividisse as coisas.


O problema é que estava tudo se debatendo na minha cabeça, coxa branca, vestido apertado, dedos sujos, tapa, rancor. Felicidade premeditada. Cheguei ao barman mais próximo, perguntei as horas e da minha boca escapou, impulsivamente, uma pergunta que misturava tudo isso:


“aquela moça que saiu agora há pouco acompanhada com um cara mais velho... ela vem sempre aqui?”


Ele não entendeu de imediato, precisou de descrição mais detalhada sobre a aparência, o que vestia. Explanei várias características ainda tão vivas em minha mente e então o garçom acabou reconhecendo. Abanou com seu rosto gordo um gesto positivo. A via freqüentemente, não toda noite, mas com certa assiduidade. “Fala espanhol misturado com português, parece que veio da Argentina, sabe como é, essas gringa são tudo louca. Sei que bebe todo tipo de bebida e toda noite sai com alguém diferente”. Foi o que disse, em exatas palavras.


Levei o copo cheio de cerveja de volta para nossa mesa, esperando (lá no fundo, depositando grandes esperanças) que a castelhana aparecesse, se enrolasse em meu pescoço e me levasse embora para terras onde ela bebesse, ficasse louca e tirasse o microvestido preto. E onde eu pudesse ver tudo, tudo. Todo dia seria sexta feira à noite.


Mas ela não estava por ali.


O que eu via era Adélia a minha frente, com o cotovelo encostado à mesa, a mão segurando o rosto, os olhos virados, fixados na mesa. Cabelo castanho desidratado e a cabeça, dançando suavemente com a música brega que toca no bar. Daqui a pouco iríamos conversar sobre a sua colega grávida. Ela dirá que foi uma imprudência, e que nunca deve se agir sem muita reflexão. Pensei em fugir com o copo de cerveja, correr atrás daquela coxa, implorar por um pouco de sórdida perversão.


Entreguei a bebida para Adélia, sentei, desviei os olhos da minha mulher, procurando a porta. Roubei um gole. Ela não parecia mais brava. Já estava naquele estado em que bastava que eu estivesse ao seu lado, como se só isso fosse o fundamental. Talvez o motivo de todas as ilusões que a gente possa ter.


Então, deslizando o meu braço, olhando ao redor, ainda desejando que aquela coxa branca maluca e milimetricamente ajustada estivesse por perto, perguntei fixando nos olhos de minha esposa, quase como uma imposição, quase como uma ironia interna:


“amor, o que você acha de viajarmos para a Argentina?”


Também publicado no site www.pareotrem.com.br

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

São duas. Uma em cada olho.

É uma multidão de atividades distintas novamente e tudo agrupado em partes específicas. Finalmente a gente encontra tempo para se fazer o que gosta. A correria, entretanto, agora não me faz mal. Dentro do meu limite tenho conseguido arranjar tempo para tudo. É como se ele voltasse a ser meu amigo: apertamos a mão, fizemos o trato. Eu cometo tudo que eu quero e ele não me ferra no final. Quem sabe até possa me liberar uns minutinhos a mais. O que pede em troca, apenas, é o cansaço do meu corpo, ou as famosas olheiras por eu necessitar dele demais. É uma troca justa. Por que não? Afinal, não é possível comprar horas, não é possível desejar que um dia valha uma semana, e que uma semana um mês. E talvez as olheiras – que já tenho por genética – não me caiam tão mal. Só sei que não quero mais tudo ao mesmo tempo, só quero o máximo ao mesmo tempo. E com um maior nível de qualidade possível. Dá para encarar.


Obs: A partir de 20 de setembro entra no ar o site Pare o Trem (teaser de divulgação nesse link: http://www.youtube.com/watch?v=QYh3djVBx88), um site dedicado ao jornalismo opinativo, com espaço para reportagens e também para manifestações artísticas. Estou participando como colaborador. Escrevi uma reportagem e um conto para o site, confiram lá dia 20. A ideia é muito legal e deve ser espalhada por aí.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Obstáculo 21

O meu problema foi sempre você – eu só não sabia ainda. Agora que não está aqui do meu lado, observo o que faz aí do outro pela minha imaginação. É uma droga a distância, eu sei. Por isso que falo que o meu problema (o conflito que movimenta uma trama, o que dá a condição de existência para uma boa história, cheia de reviravoltas) foi sempre você. E tem sido assim não há muito tempo. Começo a acreditar que todas as coisas ruins (assim como as boas, ou as mais ou menos), mas sobretudo, acredito que todas as coisas que não deram certo, não deram certo, porque era dever delas construírem um “mapa” que me levou a você. Quer dizer: tudo que não deu certo abriu um outro caminho e outro caminho até você aparecer na minha frente. E aqui está o último obstáculo. A distância física, terrena e enjoativa. Mas se nem um oceano segurar, não tem mais nada que segure.

sábado, 12 de setembro de 2009

por que eu sou sempre o primeiro a tentar quebrar o gelo?

Quinze para as duas da manhã

de um sábado;

a gente imagina o que será da nossa vida daqui a um ano.

Copos de plásticos,

cheiro de cerveja gelada

na calçada


os mesmos desacertos, os mesmos problemas.


Com nós é sempre esse meio termo.

mendigar novidade por conveniência,

brigar por besteiras atrasadas

falar o que não pensa

na hora errada


O teu tênis molhado da chuva

contra o meu verde ensopado;

a lua não aparece

às quinze para as duas da madrugada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Aquele que corta o tempo

É só tocar música que Anna lembrará. Fraca e alegre, é bem assim que ela vai se sentir, mesmo que dure apenas uma fração de segundo. A melodia em quatro tempos, todas as sete notas musicas em perfeita ordem harmônica. Vai formar com os dedos no ar o primeiro acorde que tocou, logo após aprender as diferenças de tom. Dó ou Sol? Não dava para esquecer. As aulas de violão lhe marcaram. Era algo difícil e, sobretudo, trabalhoso. Seus dedos doíam por qualquer arranhão, por qualquer composição diferente em que fosse embarcar. Senão fosse o professor, senão fosse aquele professor em específico.


Costuma lembrá-lo nas noites em que não consegue dormir, onde observa o agora empoeirado violão atirado no canto. A partir dele vai remontando aos poucos a imagem ainda visível do professor. Era mais velho e moreno. “Cor do violão”, ela pensa, seus olhos também lembravam a madeira marrom clara do instrumento. “Por que eles nunca me observavam?”, continua em tom alternado, deitada na cama de solteira do seu quarto na casa dos pais, completamente sozinha. Seus pensamentos rememoram a mão afiada do professor tocando o instrumento que tanto lhe dá prazer. Apertando suavemente cada casa de cada diferente corda, formando vários acordes ao mesmo tempo. “O som é só uma eterna variação do tempo”, ele costumava lhe dizer, “basta tocar nos lugares certos”.


Anna puxa o violão do canto, senta na cama e começa a acariciá-lo, desde o alto do braço, cumprindo a rota dos entornos, deslizando com seus dedos até o corpo. Como se tocasse o professor, como se ele a tocasse. Roça o corpo do violão no seu corpo coberto pela pele branca quase pessêgo, passando a mão entre as cordas, entre as suas pernas. Movimentando-se, os dois acabam se enrolando com o cobertor. Viram em sentidos opostos, grudam e se desgrudam. No mesmo ritmo, como se pulassem o muro de uma casa, roubando alguma fruta. As seis cordas vibram por entre as mãos, por entre as pernas, criando música e tempo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Meu bluebird

Até quando você vai cantar aqui dentro do meu peito confuso? O sereno que te alimenta ainda não foi embora de vez. Posso ouvir-te por mais horas a fio, sem perder a meada do destino. É rubro e azul claro, e é meu também. Desfalece a cada nota, em que diz tudo e em que diz nada. Eu não te tranco, está livre para soprar. Bluebird alta voz você sempre em mim terá. O sereno provavelmente um dia há de findar, mas as marcas em que pisa, não mais vão sumir. Cinco segredos entre nós, agora é assim que vai ficar. Você deixa os medos, e eu deixo os sussurros. Troca justa, melhor não há. Bluebird faça o seu ninho porque daqui não vou fugir. Deixa o sereno preto ensaiar performance, a gente arranja um lugar para se esconder. Um dia o tempo em nossa volta, assim como suas asas e seu sopro e a minha vontade vão se misturar. É uma droga, mas é o que posso prometer. Agora canta a música, canta tudo, dorme depois, que a manhã já chega, devagar, serena. Eterna.

Baseado em:

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

As palavras certas - postagem temática


“Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido." – José Saramago


Não pretendo discutir aqui o valor da ferramenta Twitter como a ótima rede social que é. Acredito sim que se for bem utilizada sirva como um importante canal de comunicação entre, por exemplo, uma empresa e o seu público. Muito menos desejo criticar o seu enorme poder de transmissão de informação imediata entre amigos ou a sua grande possibilidade de compartilhar conteúdos interessantes.


Quero refletir sobre os limites que 140 caracteres fazem conosco.


Sobretudo na informação que desejamos utilizar ou demonstrar para alguém, pois ao mesmo tempo em que o espaço te limita, ele também nos força a ser mais criativo, explico. Pedindo auxílio ao Drummond, roubo uma de suas frases clássicas para melhorar meu texto: “escrever é cortar palavras”. Acredito que o Twitter, para as pessoas que gostam da arte literária, é uma ótima maneira de descartas as palavras erradas. Discordo de Saramago no sentido de quê não acredito que twittar seja algo retrógrado e que voltaremos aos grunhidos, ou a ignorância. A Internet pode estar nos deixando mais “robotizados”, mas não mais ignorantes. 140 caracteres podem dizer muita coisa, depende só das palavras que você escolher e do modo como vai utilizá-las. Não se perde a sintaxe ao se levar um discurso para o twitter. A questão é ser objetivo, mas não chato.


Não ficaremos pior escrevendo com pouco espaço.


Não vamos descer de degrau a degrau, pelo menos não até os grunhidos.


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Sugestão de tema: dinheiro

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Desfocada

É você chegar em casa
às dez horas e trinta minutos
depois de seis horas de aula
cinco horas de trabalho,
almoço corrido,
praticar esporte
de caminhada
rústica - na chuva.
Pensar que o dia não poderia
terminar de forma pior.
Aí vem você e me confunde
tudo outra vez,
joga charme e
vai embora
dissipa sonho
pela
boca
e me joga
todo final de noite
de volta
à realidade.