sábado, 31 de maio de 2008
Teoria número cinco: sobre olho gordo e mau pressentimento.
Sempre que adquirimos alguma novidade - ou nos damos bem em uma situação -, nem precisa ser tão extraordinário, mas algo que apenas pule aos olhos dos outros, devemos ter cuidado. Qualquer coisa pode trazer inveja, mau olhado, agouro como diria as pessoas mais antigas (que má uso do adjetivo, mas...). Às vezes percebemos de longe, é como se o indivíduo exalasse um cheiro – coberto de pensamentos agoniantes, nervosos, medrosos, corrosivos, que descem a garganta, invadem o estômago e todo o corpo. E é isso que configura às vitimas, o que nomeio de mau pressentimento. Justamente a sensação de que algo ruim possa acontecer. Preste atenção, há certas pessoas que “liberam o mau agouro” em sua volta, influenciando os pensamentos, é a mais pura inveja do próximo invadindo o seu sistema circulatório. Pode ser a do amigo – mesmo que sem querer – que ao ver a pessoa, beneficiando-se de alguma coisa ou de alguma situação, não consegue sentir-se feliz por ela,;o que o toma é o impulso do mau agouro. Ou a inveja do inimigo, desenfreada, fatal, que certamente vai causar grandes estragos. Porém, como minha vó sempre dizia, contra o olho gordo nada melhor do que uma força interior forte. Talvez alguns talismãs também.
escrevinhado por
Rafael Gloria
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às
20:22
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sexta-feira, 30 de maio de 2008
correntes
Pedro veio tão nervoso, contando para Jonas o que acabara de lhe acontecer. “Saí do carro agora há pouco...eu tava fechando a porta, já tava meio escuro, final de tarde,o céu se fechando todo, sabe como é..?”. Jonas, largando a pasta na classe, respondeu com um movimento reto e vertical da cabeça, mudando vagarosamente o sentido (cima baixo, baixo cima), para seu conhecido que o tinha pegado de surpresa. “Pois é, foi aí então que um cara baixinho, um metro e sessenta, sessenta e poucos, não sei, chegou do nada, e perguntou se eu tinha fogo...”. Pronto. Jonas já imaginara o que acontecera: mais um caso de assalto. “Devem ter lavado o carro do Pedro” pensou de imediato. Não pôde deixar de exprimir um sorriso interno. Não gostava do conhecido, dividia o assento em dupla, pois era assim que um coordenador da faculdade tinha organizado, desse modo, teve que aprender a conviver com a presença daquela pessoa desajustada e insipiente. “Jonas!”, foi a exclamação de Pedro o que o acordou da divagação partidária. E logo prosseguiu “tá me ouvindo?”, “tô sim, continua...”. “então, como eu não fumo, respondi que não, que caísse fora, que pedisse para outra pessoa. Dae, ele fez um sinal para o meu pneu, para eu olhar. E depois com a mão esquerda, segurou uma corrente...” Jonas já não entendera mais nada. “ o baixinho pegou a corrente de aço e se enrolou nela, amarrou-se, forte, parecia ter uma dessas forças extraordinárias, ninguém viu, só eu. Ele se prendeu tão forte que desmaiou...fui checar as pulsações e batiam devagar. Tirei a corrente dele, e coloquei as no meu carro.” “ E ele? O que houve com ele?” Eu não sei o que aquilo era, depois que larguei as correntes no banco que estavam meio quentes, o corpo foi sumindo, desaparecendo, ao mesmo tempo em que a nuvem fechava o céu completamente.” Jonas estremeceu. Devia ser só mentira do amigo por conveniência. Acabou por instinto, tirando o caderno da sua pasta, depois que ouviu o sinal. A professora já iria chegar. Resolveu responder a história de Pedro apenas com um sorriso de canto, meio que desafiando toda a narrativa. Pedro parou e sentou-se, ainda meio agitado, espalhafatoso, pegou o lápis, mas não conseguia segurar, desistiu na terceira tentativa. A imagem do desaparecimento não o deixava relaxar. Jonas sentiu um cheiro de queimado, de canto novamente, olhou para Pedro, e observou algo brilhando bem fraco, soltou os olhos completos para cima e pode ver o metal da corrente na cintura de Pedro, amarrando o conhecido, prendendo, pouco a pouco, tudo nele.
Na rua.
Li em um jornal popular recentemente (acho que hoje ou ontem, talvez – minha cabeça anda perdida pelo caminho das aulas e do trabalho) que o número de pessoas sem teto em Porto Alegre, mais do que triplicou em de doze anos. São cerca de mil e setecentos mendigos caminhando pela capital Gaúcha. Quase dois mil fantasmas perdidos por aí, sobrevivendo na servidão marginal das ruas, na parte escura do dia; à sombra das árvores e à beira da sociedade burra. E ainda há pessoas que sentem nojo, e que, ainda por cima, falam coisas inexatas como: “só não trabalha, porque não quer”. Claro, há muitos empregos disponíveis no mercado para pessoas que não possuem escolaridade, e experiência. O ser humano vem cada vez mais me desapontando, embora eu teime em confiar em suas investidas, em dar mais uma chance as suas palavras. Por mim, as coisas seriam iguais àquele mundo perfeito e idealizado, sabe? Todo mundo com os mesmos direitos, felizes com sua moradia e seu prato na mesa. Sinto -me mal por não fazer nada. Por estar quase zero graus e eu sentado aquecido em frente ao computador, escrevendo sobre o problema de seres humanos na rua. É tão falso.
Obstáculo 5
Há tantas coisas diferentes ao redor de nós. Uma parede falsa, beijos mentirosos, verdades que insistem em cair a toda hora (nas quais eu sempre acredito). Porém, o mais difícil de encarar é o modo de como nunca nos olhamos – ou fingimos não. Somos despercebidos, desapercebidos, por meio de ruídos comunicacionais dos lábios, das pupilas – ambas castanhas – , da pele. Mas não da vontade interna. Essa pulsa viva, acordada, ruindo-nos, naufragando as nossas ânsias, que de algum jeito, insistem em continuar querendo surgir entre os nossos meios, exalando pelas mãos. Sempre a droga do muro, o medo de tentar alguma coisa sem saber se terá sucesso. Tudo nos tranca, é impossível seguir em frente com o cadeado do silêncio chato (não o silêncio dos amantes, mas a quietude amarela, quase nojenta e prosaica de um elevador, ou de velhos amigos que não tem mais assunto). “A poesia é incomunicável. Fique torto no seu canto. Não ame.”, como diria Drummond, não faço coro ao mineiro, pois não sou de ferro – perco -me em besteiras diárias. Só queria dizer que os nossos olhos, eles sim, são incomunicáveis.
domingo, 18 de maio de 2008
Sete andares
Não era como imaginava. Eu não estava pronto, ninguém tinha avisado, não foi como em uma porra de filme de Hollywood, onde dá para prever o momento, e a fotografia, o cenário e as interpretações convencem você que é tudo um mundo irreal. Ao contrário, foi cru, como tirar um dente ao seco, sem anestesia, ou ter um filho no elevador, num carro, sem nada. Bem desse jeito que eu observei o seu cair, e o modo como dançava, tristemente, acabando o espetáculo para sempre. E eu vi sem querer, olha só, não sou daqueles que cuidam da vida dos outros, que não respeitam a privacidade, eu não, sou homem fechado e sempre fui. Vi sem querer ver, mesmo, acho que era para ser assim, sabe? Acho que era...acontece que fui do nada na janela, buscar o ar da noite, quieto, cansado do dia, e olho para o prédio em frente e vejo a dança dela. Sete andares, caindo com a noite, fechando a noite, sete drogas de andares dançando. Pensei que estava sonhando, ou algo assim, mas o seu baque, o barulho, forte e contido na calçada, acordou-me para a realidade. Deus, eu não sabia nem o nome dela, nem o nome dela...
domingo, 11 de maio de 2008
Sobre minha mãe.
A arreada, a divertida, a que fala pelos cotovelos, a que se irrita fácil, a que defende e bota boca contra o que acha errado.Tão diferente de mim, principalmente na personalidade, mas acredito que isso seja o essencial para apimentar meu caráter, tornando – me mais divertido, assim como ela é, assim como a energia que possui e transmite. Se meu pai me deu esse lado mais reservado, sério, minha mãe é ao contrário, ampla, diversificada. Brinco (toda brincadeira, toda bobagem, toda a mínima e insignificante frase solta tem o seu valor) dizendo que se o meu pai me passou o gosto pelo rock, minha mãe me transmitiu o lado pop, a música anos 80, a rádio ligada sempre na antena um, a vontade de dançar freneticamente que me surge às vezes. O nervosismo também, o fato de eu me importar tanto com coisas pequenas. O cheiro de cigarro dela, o café, a cebola misturada com o tempero do feijão, as palavras, as minhas desculpas, tudo misto na minha cabeça, as lembranças que se completam e se imitam, formando a minha mãe, gerando luz, gerando imagem, gerando, gerando.
Para Maria de Fátima
feliz dia das mães
Para Maria de Fátima
feliz dia das mães
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Teoria número quatro: sobre o eterno “re-re-re ciclo” da vida e as não mudanças.
Todo mundo já falou – ou notou – a repetição. Da vida, dos momentos, das sensações. Nada é novo. Ouso em dizer que tudo se origina de uma já pré-estabelecida idéia geral. Quantas vezes não nos encontramos em uma situação parecida e praguejamos contra ela, como se já soubéssemos a resposta desde sempre? Ou, ao contrário, temos consciência que erraremos, como de costume. Algumas pessoas nunca aprendem. Setenta, oitenta anos de vida é, em média, o normal, há aquelas que partem mais cedo, outras demoram mais a embarcar. Quantas vezes não caímos na rotina? A rotina é a vida, é o eterno reciclo, o eterno reinício das coisas: e nossos descendentes herdarão todas as nossas repetições. O modo como inclinamos a cabeça para observar o movimento, como ficamos brabos com alguma situação idiota. A rotina é genética, os movimentos repetidos, a cultura demasiadamente imposta, todas essas coisas estão nos genes, nos fenótipos e transmitimos para os futuros representantes da terra. As crianças são os futuros da nação sim e, por isso, as coisas nunca mudam.
obs: vou postar duas teorias em Maio, visto que mês passado não me deu tempo de escrever essa.
Obrigado por lerem o blog!
obs: vou postar duas teorias em Maio, visto que mês passado não me deu tempo de escrever essa.
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Rafael Gloria
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às
09:39
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quinta-feira, 1 de maio de 2008
Ao Anônimo, com carinho.
Olá, pessoa que tem medo de mostrar o rosto. Toda a espécie de crítica é bem vinda, aliás, antes de tudo, acredito que meu maior crítico seja eu mesmo. Vou explicar a proposta do contagens, uma vez que você parece não ter entendido: não quero simplesmente informar para as pessoas um fato, no post em que você comentou, por exemplo, era o dia do índio, e eu queria refletir sobre eles. Essa é a palavra chave: reflexão. Eu poderia simplesmente ter dito tudo na seguinte frase: “Pessoal, hoje é dia do índio e olhem em volta, quantos deles estão espalhados e perdidos da sua tradição.” Porém, não é o que gosto e nem como quero fazer. Ao mesmo tempo em que escrevo quero também esconder tudo, como se houvesse dois textos em um só (tem algo a ver com significado e significante, que começou lá na grécia com o sócrates, mas para você ninguém entende os pensadores gregos, não é?). Minha proposta nisso é bem simples: tentar fazer o leitor pensar. Pensar mesmo. E para fazer isso, proponho-me a tudo que a língua portuguesa possa oferecer. Não é enrolação, pois todas as palavras estão no texto com o objetivo de criar a sua unidade temática..Sabe? Enfim...só queria que mostrasse o rosto, ninguém aqui vai bater em ti, nem nada. É uma democracia sabe.
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