quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Carta 07

Meu filho Estevão,


Gostei da sua mãe porque ela parecia não gostar de mim. Pode ser confuso, mas a confusão também poder ser verdadeira. Acontece que ela parecia me evitar, parecia distante. Parecia. Uma palavra desfalcada, correto? Palavra mentirosa e temperada. Não se confia em coisas que “parecem”. Não se confia em suposições, eu acho. Mas veja, eu sempre gostei de achamentos e de achar passar a acreditar, e de acreditar passar a confiar. Então eu, primeiramente, fui atraído pela possibilidade de ela parecer não gostar de mim. Justamente porque havia algo errado aí, como ela poderia não gostar de mim?


Era uma armadilha para o ego corrompido que meus vinte e poucos anos guardava.


E é esse ego doentio que eu também vejo em você. Eu lhe passei tudo pelo DNA. Está embutido em cada célula do seu corpo. O modo de andar, de olhar para as pessoas e principalmente para as mulheres, de sentir como o mundo estivesse ao seu pé. Afinal ser jovem também é ser um pouco disso. Mas sabe uma hora você vai ver, vai demorar, mas você será derrubado, destruído, descarrilado.


E virá falar com o seu velho pai sobre mulheres.


Vai querer conversar comigo e verá sim que você não sabe nada e seu coroa aqui lhe contará todas as táticas, as metodologias, os planos esboçados em anos, anos e anos de prática. Tudo isso para você conquistar aquela que te descarrilou, que destruiu o teu ego, que permitiu que tu se avaliasse.


Você já encontrou alguém assim?


Sua mãe agora está terminando o almoço, e é quase meio-dia. Daqui duas semanas é aniversário dela, ligue, mande carta, mande email.


Obs: Sua irmã me contou que atravessa um momento difícil devido a algum relacionamento, por isso resolvi escrever.


Abraço,

Estênio

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