terça-feira, 31 de agosto de 2010

Porque (.....) é importante - Teoria número trinta e dois

Tira essa roupa toda. Se despe por inteira, esquece da vergonha, corta os cabelos bem curtos e apara as unhas da menor forma possível. Tira as responsabilidades, todas as contas para pagar. As inúmeras prestações daquele apartamento. As inúmeras brigas com o seu companheiro.

Joga fora também a sua família, os seus animais de estimação, todas as preocupações rasas com o seu futuro e o futuro da humanidade. Perde os tênis, perde as meias e deixa os pés completamente grudados no chão. Não na laje, não na lajota, não no azulejo. No chão, ao lado da terra e da grama.

(.....)

Agora, pega tudo novamente, a camisola, a roupa de baixo, o tênis velho e necessário. Ocupa a sua cabeça novamente com as pequenas, mas sempre presentes, prestações daquele carro novo. Recupera a tua família, se lembra do medo de perder seu companheiro para aquela amiga que o vive rondando.

Respira, volte ao azulejo, esquece do chão, esquece da grama.

Corra.

Crônicas de um repórter novato – parte XX

É no mínimo fantástico o quanto a internet mudou boa parte do modus operandis do jornalismo. Isto é, não se criou, propriamente, uma linguagem nova, mas mudou-se o elo, o estabelecimento e, mais do que tudo, a hierarquia.

Hierarquia não só do texto, mas também a hierarquia no macroespaço, uma vez que não estamos mais sozinhos durante o ato da leitura. As coisas estão acontecendo e se modificando ao mesmo tempo em que lemos. Atualizações são constantes, informações se sucedem vias diferentes redes sociais, via podcasts, youtube, etc.

E o mais importante, as pessoas conversam, trocam informações, criticam. Uma coisa que acho bacana foi o surgimento de blogs que acompanham e fazem a análise da mídia, de alguns jornais, das coberturas dos grandes veículos. Várias dessas iniciativas surgiram quase que ao mesmo tempo e oferecem uma visão antes não divulgada.

Ao mesmo tempo me pergunto quem é que pode fazer essa vigilância da mídia com propriedade? Qualquer um? Com certeza não. Talvez o responsável tenha que vir de dentro das academias, dos cursos universitários – não necessariamente o jornalismo. Uma avaliação sem embasamento não significa nada. A internet está aí para ampliar as possibilidades, para o bem ou para o mal.

Iguais

Nós somos dois retardados
em uma festa de retardados.
Como cheguei a pensar
que nunca mais
nos veríamos novamente?

Dois retardados só poderiam ir em uma festa de retardados.

Aquela moto

Como era mesmo? Prateada, obviamente, grande realmente grande, imponente. Com um motor que deixaria a maioria dos carros para trás. E quando eu tiver dinheiro o suficiente para te trazer uma dessas Harley Davidson importadas do Estados Unidos da América você já será bem velho, com o pouco cabelo que lhe resta branquinho. A barba também branca, com muito mais paciência, com muito mais possibilidade de contemplação. E vai dirigir, com certeza, pois a sua carteira ainda não estará vencida. Assim será o único easy rider a governar a cidade.

domingo, 29 de agosto de 2010

Sem data específica para voltar

Dá última vez que eu vi Gustavo ele parecia raivoso, mas também cheio de esperança. Chegava a ser bonito de perceber ali do meu lado uma pessoa com dois sentimentos tão distintos, lutando entre si. Era uma luta quieta, mas que, graças aos nossos meses de convivência, eu conseguia perceber. Caminhamos do jornal em que trabalhávamos até a avenida mais próxima em que ele pegaria o ônibus, e eu seguiria andando. O tempo era ameno e conversávamos sobre assuntos sérios, o que denotava uma aparência também séria a nossas expressões. Falávamos principalmente sobre o futuro e como pequenas ações podem, de certa forma, mudar tudo. As nuvens começavam a se aglomerar e o tempo já cantava a chuva que estava por cair. Estranhamente, chegamos rapidamente a parada do ônibus. Ficamos ali alguns minutos jogando conversa fora, reclamando de situações que não poderiam ter acontecido e que aconteceram. Gustavo aparentava ser duro, mas só aparentava. Aparentava ser raivoso, mas só aparentava. “Não guardo mágoas de nada”, ele disse. Nos cumprimentamos normalmente como dois amigos que se encontrarão no dia seguinte para uma cerveja, mesmo sabendo que amanhã ele iria viajar sem data específica para voltar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Carta 07

Meu filho Estevão,


Gostei da sua mãe porque ela parecia não gostar de mim. Pode ser confuso, mas a confusão também poder ser verdadeira. Acontece que ela parecia me evitar, parecia distante. Parecia. Uma palavra desfalcada, correto? Palavra mentirosa e temperada. Não se confia em coisas que “parecem”. Não se confia em suposições, eu acho. Mas veja, eu sempre gostei de achamentos e de achar passar a acreditar, e de acreditar passar a confiar. Então eu, primeiramente, fui atraído pela possibilidade de ela parecer não gostar de mim. Justamente porque havia algo errado aí, como ela poderia não gostar de mim?


Era uma armadilha para o ego corrompido que meus vinte e poucos anos guardava.


E é esse ego doentio que eu também vejo em você. Eu lhe passei tudo pelo DNA. Está embutido em cada célula do seu corpo. O modo de andar, de olhar para as pessoas e principalmente para as mulheres, de sentir como o mundo estivesse ao seu pé. Afinal ser jovem também é ser um pouco disso. Mas sabe uma hora você vai ver, vai demorar, mas você será derrubado, destruído, descarrilado.


E virá falar com o seu velho pai sobre mulheres.


Vai querer conversar comigo e verá sim que você não sabe nada e seu coroa aqui lhe contará todas as táticas, as metodologias, os planos esboçados em anos, anos e anos de prática. Tudo isso para você conquistar aquela que te descarrilou, que destruiu o teu ego, que permitiu que tu se avaliasse.


Você já encontrou alguém assim?


Sua mãe agora está terminando o almoço, e é quase meio-dia. Daqui duas semanas é aniversário dela, ligue, mande carta, mande email.


Obs: Sua irmã me contou que atravessa um momento difícil devido a algum relacionamento, por isso resolvi escrever.


Abraço,

Estênio

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Bonita e saborosa - Postagem temática

Saí para pescar garças e a lua já apontava no céu. Não, não é engano seu, ou modo de ler errado. Pescar garças e não caçá-las a tiro de pólvora. Pescar é mais fácil, a gente as engana, assim como elas enganam os peixes. O propósito, saiba, é o mesmo: comer. Sou apreciador nato e talvez único da carne branca delas, gosto do sabor do rio,e até dos insetos que elas possam devorar. Faz-me bem. Sendo assim, desenvolvi um sistema único para pescá-las. Simples, mas eficiente.

Consiste basicamente em deixar a linha com o anzol boiando na superfície do lago. Ah, no anzol, obviamente um peixe. Um peixe comprado em peixaria, grande, morto. Cheiroso para as garças. Elas não demoram a aparecer, se agrupam, lutam para ver quem pegará a maior parte e então a vencedora se aproxima. Devagar e em menos de segundo dá o bote. Aí que eu de longe só observo e deixo de observar, puxando com toda a força o bichinho.

Uma vez uma se agüentou até não poder mais, tentou voar, voar e conseguiu por um período curto de tempo. A cena era linda, parecia que eu segurava uma pipa lá no céu. A danada se esforçou como pode. Foi quando, finalmente caiu, desistindo de tudo.

Ave magnífica e saborosa, sabe.

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Essa postagem faz parte do projeto BlogSintonizados. Entre lá para entender e participar.

Sugestão para o próximo tema: dinheiro.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Meu que vem antes

E l e g a n t e m e n t e ela tira a roupa – peça por peça arrancadas devagar. O silêncio toma conta do ambiente e são apenas dez para nove da noite. As pernas torneadas ensaiam passos, enquanto os olhos de Eduardo já dançam. Fernanda só caminha, sentindo uma coceira suave no pé nu ao arrastá-lo pelo carpete. Algo muda quando vai até o rádio e coloca o CD, a música suave, como se cantasse para o amante no meio da noite, deixa o ar cheio de fugacidade. Devagar, ela também começa a cantar, manhosa, sentindo que seu coração pode parar a qualquer momento. Está sim, mais próxima de Eduardo, está sim só de calcinha e sutiã. O ritmo da música aumenta e várias vozes fazem o backvocal, tudo seguindo para o fim. Ela ainda não quer, ele sabe que ainda não é a hora. O cabelo preto curto, e o sorriso grande de Fernanda não escondem nada. O desespero observador de Eduardo e o modo como a segue com os olhos não escondem nada. O amor está nas coisas anteriores.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lá fora tudo é medo.

“É o começo do fim”, ela me disse.

E sim era verdade.

“Começo do fim do quê”, perguntei sem querer,

já sabendo do que ela falava com muita clareza dos fatos.


Como dois mais dois são 4.

Como sei distinguir uma notícia de uma enrolação.


“Agora, isso, essa divergência nossa”, me respingou e ficou quieta.

Passou a mão morena no meu ombro e tirou o meu cigarro da boca, apagando no cinzeiro em forma de concha na mesinha à frente.


“Então é aqui que a gente sabe que não vai dar certo?”, pergunto

e mantenho

“...para que continuar então, se não vai mais dar certo?”.

“Porque não tenho certeza, sabe, não tenho mesmo certeza se isso é um problema,

se você pode mudar a sua visão sobre isso,

ou se eu posso ceder...embora eu não seja de ceder...”


“Mas isso é se convencer, ninguém pode se convencer quando se fala de amor, não?”,

cutuquei, enquanto ela retocava a maquiagem barata.


“A gente ama e tenta nos convencer sempre”, ela me diz e me beija.


Enquanto as luzes dos carros alucinados iluminam o espelho da janela do apartamento dela.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Acorda, agora.

Sete da manhã

quando me convence a levantar.


Estica o braço e puxa meu corpo

para fora da cama.


Desembala.


Sol invade as frestas da cortina.

As poeiras são pequenas estrelas


[estrelas imundas é verdade]


nesse pequeno céu amanhecido.


Desembala

a calma,

o café servido,

o rádio ligado.


O dia e todas as obrigações

invadirão

o seu corpo novamente.


Então, devagar, desembala.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Indicação dourada


Queria agradecer pela indicação da Pricilla Soares do Palavra Oculta e lhe dizer que fico feliz com as suas belas palavras ao Contagens. A Pricilla é uma dessas pessoa que conheci através do blog lá pelos idos de 2007, já faz muito tempo e que fico lisonjeado de conhecê-la. Ambos fazemos jornalismo e gostamos de escrever. Fico feliz pela indicação dela e gostaria de aproveitar para dizer que mesmo mantendo esse blog há quase três anos e de ter criado a Postagem Temática não me considero um blogueiro. Sou só um cara que realmente gosta de escrever e que encontrou no blog um bom lugar para publicar seus textos.

Indico a minha colega de faculdade e amiga Leila Ghiorzi do Arco-íris em preto e branco, vi o blog dela crescer e se modificar, cada vez para melhor.


Regras do selo:
1 – Colocar a imagem do selo no seu blog;
2 – Indicar o link do blog que te indicou;
3 – Indicar novos blogs;
4 – Comentar a respeito do selo nos blogs indicados.