Cap. III
Um automóvel surgiu cortando a avenida, na esquina com Rua Azevedo, foi de manhã, bem cedo e bem quieto. A chuva, que não era garoa, mas também não era tempestade anunciava um misto de tons cinza que confundiam a pista, a nuvem e o cheiro. Os faróis acordavam agora, fracos e tediosos, lutando contra a escuridão, todos desejando despertar o dia. As avenidas são misteriosas, elas contêm algum segredo: percorrem os dois sentidos, sobem, descem e somem do nada. O carro que surgia no horizonte não respeitou o sinal, talvez fosse culpa da água no asfalto e não dos olhos inflamados, mas quando ele ultrapassou o vermelho, assim como a cor do seu carro, assim como o sangue que nos persegue, ninguém poderia prever a forte pancada. Estranhamente, não soara como um pecado, parecia uma brincadeira; assim como dirigir o carro era uma diversão. Em quase quarenta anos de volante nunca batera, por que maldição haveria de acontecer agora? Para seu Plácido parecia apenas um sonho, porém a dor, finalmente, o empurrava para a realidade. De algum modo ia surgir nos jornais do dia seguinte, “um senhor cortou o sinal vermelho, e foi atingido por um carro” em uma dessas manhãs, em uma dessas mortes regulares. Mas não era só ele que tinha problemas, no outro carro, cinza e normal, Renato olhava aterrorizado a cena. Sua mãe o tirara da cama, a irmã precisava de carona para a escola. Mal havia acordado. Bem que aquilo poderia ser um sonho também, ou melhor, um pesadelo. Tomaria um susto, acordaria e voltaria a dormir. Mas a vida não é assim.(..prossegue..)
link do segundo capítulo (Fungo nos olhos): http://contagens.blogspot.com/2009/01/epifanias-o-acidente.html
link do primeiro capitulo (De manhã): http://contagens.blogspot.com/2008/11/epifanias.html
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