domingo, 9 de novembro de 2008

Epifanias - De manhã

Capítulo I

Foi num acidente que tudo começou, tal como muitas coisas nesse mundo, a partir do erro, dos defeitos é que se chega à perfeição. Mas eu nunca havia pensado assim, não até aquele momento. Agora é como se tudo estivesse claro. Minha mãe ligara às sete e pouco da manhã, cedo, eu não tinha trabalho, era uma sexta feira fria e chuvosa, como se vê de vez em quando. Não queria me levantar, mas o barulho do telefone incomodava fortemente, lutei contra a cama, e quando venci os lençóis, o travesseiro me nocauteou pelas costas. Sempre traiçoeiro, o sono brinca com a gente. Enfim, não era bem isso que queria falar, perdoem as minhas palavras incultas, mas meu modo de escrever apenas reflete a minha capacidade de ver o mundo: pelas entrelinhas. Acabei driblando toda a cama, dando um passeio pelo quarto e vagarosamente atendi ao maldito telefone, como um cachorro manso, sim, era como eu me sentia, um cachorro manso. E com frio. Nenhum pedido faria eu me mover de casa, porém eu ainda não sabia que era a minha mãe. “Alô”, respondi minguadamente, com a voz fraca de quem acabara de abrir os olhos. Mais ordenando do que respondendo, ela disse: “Renato olha só poderia vir aqui em casa? Estou precisando de ajuda sua irmã tem que ir para a escola e seu pai viajou ontem à noite a trabalho Renato preciso que você leve – a para escola com o seu carro”. Assim mesmo, disparando tudo, como se fosse uma metralhadora, sempre nervosa, nunca dizia nada pausadamente. Minha mãe era como um desses diretores de colégios, não falava muito, mas quando abria a boca sempre soava como uma ordem. Respondi que sim, estava indo, tinha só que tomar um banho, vestir uma roupa e já iria puxar o carro...Não pude terminar a sonolenta explicação, ela atrapalhou o meu raciocínio falando bravamente: “tomar banho nada, vem pra cá agora você não mora tão longe vista uma roupa qualquer e venha sua irmã não pode se atrasar hoje.” Para não entrar em discussões que não levariam a nada mesmo, pois o carro tinha sido um presente dela e do pai, e o aluguel do meu primeiro apartamento eles ajudavam a pagar, resolvi apenas concordar e vestir a roupa de ontem mesmo, quando chegasse em casa novamente, aí sim tomaria banho, comeria e pensaria no que fazer.
(..prossegue..)

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